Blog do Professor Márcio

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Carta a um amigo

Caro leitor,

O texto abaixo é transcrição de uma carta pessoal, feita em resposta a uma carta que meu cunhado José Emiliano Lopes endereçou à sua sogra, já falecida. Achei interessante apresentá-lo em meu blog porque tenho certeza de que ele trata de coisas que nos são comuns: família, recordações e a perda dos vínculos familiares, doença que se espalha como um grande mal. Estou certo de que você também irá refletir sobre isto e, quem sabe?, procurar maneiras de melhorar suas relações.

"Prezado Emiliano,

Sou muito grato por ter compartilhado comigo a “Carta para minha sogra”. Ao lê-la senti uma comoção, misto de alegria e tristeza: vieram-me lembranças de familiares que faleceram e da felicidade dos tempos inocentes da infância. Entretanto, sua carta me incomodou porque me revelou coisas que não sabia a respeito da infância difícil de meus irmãos mais velhos, e fico ainda sem compreender o fato de que pouco conheço a respeito de TODOS os meus irmãos e também quão pouco eles conhecem a meu respeito.

Considero que minha família - irmãos, primos, tios, cunhados, sobrinhos - é excelente, pessoas que se respeitam, trabalhadores e honestos, mas são pessoas fechadas, que se tratam como parentes e não como amigos do peito. Não é verdade?

Nunca meus irmãos mais velhos me revelaram as lembranças da mãe, eu nem mesmo sabia que ela faleceu em Belo Horizonte. No entanto, sempre nos demos muito bem, aliás tive relacionamento mais estreito com o Gil do que com o Mauro e o Maurício. Com certeza, meus irmãos também pouco sabem uns dos outros, das lembranças boas e más.

Quase nada sei do meu pai, ele nunca se revelou para mim. Onde estão as vidas de Mauro e Maurício, desde que deixaram este mundo?

Lamento, mas o mesmo está acontecendo com meus filhos, que vivem próximos mas não se vêem. Eles só se reúnem quando vou a Belo Horizonte e os chamo para jantar comigo. As notícias que eles têm uns dos outros são as que eu lhes passo.

Será que isto é geral entre os seres humanos? Sempre foi assim ou está se agravando?

Uma vez li uma frase que me doeu: "Cem anos após a sua morte não restará vestígio de você na Terra". Mas acho que temos a obrigação de deixar vestígios da nossa existência nas pessoas que conviveram conosco, nossos parentes e amigos, porque senão de que ela terá valido?

Ao reproduzir as lembranças do Gil, Gilda e Gildete, assim como as suas lembranças, sua “Carta para minha sogra” nos dá oportunidade de nos conhecermos melhor e valorizarmos o vínculo familiar que se desfaz com as perdas inevitáveis da vida. Sem memória não há vínculo!

Divagando sobre isto, lembrei-me de um filme excelente - Minha Vida -, estrelado por Michael Keaton e Nicole Kidman. Conta a história de um homem que recebe, ao mesmo tempo, duas notícias: que será pai pela primeira vez e que tem um câncer em estado terminal. Sua angústia é saber que não poderá conhecer o filho e que o filho não poderá conhecê-lo. Então, ele resolve gravar um vídeo, e nele registrar não apenas a sua imagem e nota biográfica: ele quer se mostrar para o filho como gente, uma pessoa que sofre, que se alegra, que tem esperança e desespero. Enfim, ele queria que o filho soubesse QUEM era o seu pai.

Infelizmente, às vezes é preciso uma doença terminal para que as pessoas compreendam que a vida terrena é passagem breve e que o melhor tempo dela é este que estamos vivendo, agora, o único em que podemos fazer algo para aproveitá-la.

Portanto, caro Emiliano, ao levantar a poeira do tempo, sua carta me incomodou porque me fez pensar em como somos frágeis, a brevidade da vida, a importância de nos revelarmos para quem está ao nosso lado e a necessidade de melhorarmos nossas vidas e relações.

Um grande abraço.

Márcio"

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente reflexão, Márcio.
Cada pergunta formulada por você merece, de cada um de nós, uma reflexão particuar e profunda.

Os maiores mistérios da vida parecem estar relacionados com o nascimento e a morte.

--Sobreviverá a consciência ao fenômeno chamado "morte"?

--Trazemos para esta existência memória de vidas passadas?

Unknown disse...

Grande reflexão, professor. Eu costumo dizer aqui em Vilas Boas que só se imortaliza na história pessoas que têm a coragem de viver. Viver não só para si, mas, especialmente, viver com os outros e para os outros. EU QUERO PERMANECER NA VIDA.