Blog do Professor Márcio

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Construindo uma amizade

Gosto de caminhar e tenho feito disto um hábito. Que bom quando se tem um hábito recomendável, ainda mais na minha idade, em que a gente fica vigiando tudo e as coisas mais inofensivas acabam em desastre. Saio no início da noite, que sempre foi uma hora improdutiva para mim. Entre 17 e 20 horas não consigo me concentrar no trabalho ou no estudo, nada melhor que uma caminhada pela cidade, descongestionar o corpo e a mente. E a gente sempre pode encontrar pessoas que andavam sumidas ou fazer novos conhecidos.

Um ano atrás eu estava caminhando, descendo a Rua Goiás, quando passei por um casal que seguia a passos lentos, discutindo. Quando ouviram meus passos apressados, suspenderam a discussão e viraram-se para mim. Ali estava minha amiga Inês, cumprimentamo-nos e ela me apresentou o companheiro - Este é o Antonio! -, conversamos rapidamente e nos separamos.

Na semana seguinte encontrei-me com o Antonio numa locadora de filmes e começamos a falar sobre caminhada. Como ele justificava seu sedentarismo por falta de companhia para caminhar, acabei convidando-o, o que deu início a uma amizade cada vez mais estreita.

Nossas caminhadas acabaram servindo de meio para que pudéssemos falar de coisas pessoais, vida, esperanças, frustrações, assuntos que os homens geralmente não conversam. Bicho homem, que não se revela para não mostrar fraqueza!

O Antonio estava mesmo precisando conversar com alguém, vivendo uma crise muito séria em seu casamento. Ele cometera um erro que magoou profundamente a sua esposa, que não o perdoara a despeito dos pedidos de perdão e das penitências que vinha sofrendo no convívio conjugal. Fazia alguns anos que ele vinha se dedicando à mulher como o maior dos apaixonados, mas só colhia desconsideração e ofensas.

Um dia ele me disse: - Estou sempre dizendo a ela que a amo. Procuro todas as ocasiões para lhe demonstrar carinho, mas não sou correspondido. Não suporto pensar que ela não me ama.

Então, saí com essa: - Antônio, amor não se pede; amor se conquista.

Não é que ele entendeu minha observação ao pé da letra? A partir daí, redobrou os carinhos, tantas atenções que não tinha mais tempo para cuidar de si. Mas os efeitos no coração de Inês foram opostos ao que ele esperava, ela tornou-se mais arrogante e não perdia ocasião para ofendê-lo, depreciá-lo.

A relação de confiança que tínhamos era a válvula de escape dos tormentos em que vivia. Comigo ele se abria e soltava os demônios que lhe oprimiam a mente: - Por que me arrasto desse jeito na frente dela? Por que depois de ser humilhado, repudiado, vou docemente atender seus caprichos?

É fácil ministrar remédio para os males dos outros, quando não é a gente que tem que engoli-lo, não é? Por isto, muitas vezes eu ficava sem resposta, ou saía com observações que pudessem desviá-lo desse caminho perigoso da autopiedade. Porém, eu o alertava: - Cuidado, Antônio, quando você se acha um coitadinho é que já cavou a própria cova. Só falta você se jogar nela!

A sua inquietação cresceu a ponto de se virar contra mim: - Pensei que você fosse meu amigo, que se interessasse pelos meus problemas. Não vê que estou precisando achar uma saída? Por que você não me ajuda a encontrá-la?

Então me dei conta de que estava ali à minha frente um ser humano em completo desespero, cego na sua dor, implorando ajuda. Mas como dar orientação, prescrever atitudes, se nem mesmo sabemos ao certo enfrentar nossos próprios problemas?

Naquela noite não consegui dormir. Fiquei às claras, remoendo os problemas dele e os meus, mas a teia que foi se tecendo em meus pensamentos deixou-me clara a visão de que todos os problemas do mundo – os meus, os do Antonio, os de Inês, os seus e de todos os seres – estão conectados. Os Gigantes da Humanidade já nos mostraram isto: somos parte do Todo, o Todo está em nós, assim como cada um de nós traz o Todo dentro de si. Seus ensinamentos nos mostram os caminhos que, segundo o entendimento que possamos alcançar, podem nos dar a cura de nossos sofrimentos e a relativa felicidade que todos almejamos.

Voltei ao Antônio com a boa nova: – Você quer uma saída, não há mistério. Existem várias saídas, mas qualquer uma delas vai exigir duas coisas de você: disciplina e persistência para conter seu ego.
– Como, conter meu ego? – ele foi logo reagindo. - Ela me espezinha e você acha que o meu problema é ser egoísta?
– Egoístas somos todos nós, Antônio. Enquanto temos a mente condicionada, reagindo mecanicamente aos fatos, entendendo que os problemas são os outros, vamos colhendo os frutos da nossa incompreensão. Se você quer uma saída daquilo que está vivendo, se quer trocar sofrimento por felicidade, precisará ouvir o que os Mestres nos ensinaram. O seu caminho será feito por você mesmo, mas é melhor que seja clareado pela luz que vem de cima.

Depois de muitos questionamentos, Antônio aceitou minhas ponderações. Propus a ele o conhecimento de dois caminhos, para que ele avaliasse se algum deles lhe convinha: o Caminho de Buda e o Caminho de Jesus. Expliquei-lhe que, seja um ou qualquer outro, só conhecemos o Caminho ao entrar nele e caminhando por ele. Não é uma atitude intelectual, mas de envolvimento, esforço e coragem para prosseguir.

No momento, Antônio está estudando e assimilando o Caminho de Buda, conhecido como o Caminho do Meio. Já fez grandes progressos no autoconhecimento, está mais equilibrado. Os problemas no casamento não acabaram, mas ele não sofre tanto com eles, desde que descobriu que os problemas reais e a solução estão dentro dele mesmo.

Começamos com uma caminhada, que virou caminho em busca da felicidade. Estou aprendendo junto com ele e, aprendendo juntos, estamos construindo uma verdadeira amizade.

Eu o convido, caro(a) leitor(a), a tomar contato com o Caminho do Meio, que será postado neste blog. É uma continuação da nossa postagem anterior – "A Busca da Felicidade: a via de Chuang Tzu". Depois, vamos tomar contato com o Caminho de Jesus, certamente de uma maneira diferente daquela que tem sido abordada pelas religiões dominantes.

Se você quer seguir na caminhada em busca da felicidade, venha comigo, também ando à procura dela.

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