Blog do Professor Márcio

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terça-feira, 31 de março de 2015

Proteste Já - Matéria do CQC sobre Paracatu

As elites locais e toda a rede de poder da mineradora Kinross, que explora uma mina a céu aberto junto à cidade de Paracatu, ficaram enfurecidas com a matéria Proteste Já, divulgada pelo programa CQC da TV Bandeirantes. Como todos sabemos, o CQC não é um programa de divulgação científica, e se o fosse não estaria no ar depois de tantos anos. No entanto, é um programa sobre a realidade brasileira, abordada com humor, sensacionalismo, ironia... mas o seu pano de fundo é a realidade.

A realidade brasileira, se não quisermos ficar apenas na lamúria sobre políticos corruptos, empresas corruptoras, ladroagem e banditismo, pode (e deve!) sim ser abordada pelo lado humorístico. Aliás, a matéria à qual nos referimos usa o humor negro, para abrir a mente das pessoas sobre uma das maiores tragédias da atualidade brasileira: a contaminação da população de Paracatu pelo arsênio exalado da mina de ouro a céu aberto da canadense Kinross. Pois bem, a matéria caiu como uma bomba sobre a cidade e uma audiência recorde acompanhou abestalhada a exposição de uma realidade que muitos se recusavam ver: uma mineradora que esconde os fatos, um prefeito despreparado para gerir a coisa pública, os agentes públicos que se acumpliciam com a exploração nefasta da mina de ouro/arsênio, enquanto as vítimas desamparadas se calam diante do poder do ouro.

Clique Aqui para assistir a reportagem do CQC.

domingo, 29 de março de 2015

Homenagem a Isaías Nery Ferreira


Quando tenho grande admiração por uma pessoa, acompanho seus sucessos com muita alegria, como se o sucesso dela fosse meu. É isto que senti durante a cerimônia de lançamento em Paracatu do livro “Hanseníase: avanços e desafios”, de Isaías Nery Ferreira, também coordenado por Elioenai Dornelles Alves e Telma Leonel Ferreira.

Iris Leda abriu as homenagens a Isáias Nery, seu esposo, na cerimônica de lançamento do livro "Hanseníase: avanços e desafios", na Casa de Cultura de Paracatu, em 27 de março de 2015.
A minha alegria tem justa razão de ser. Isaías chegou a Paracatu pouco depois de mim e nos conhecemos em 1990, quando Walderez e eu criamos o Colégio Soma. Com parcos recursos, não fosse a participação solidária dos enfermeiros que aqui trabalhavam, entre eles Isaías e sua esposa Iris Leda, a tentativa de abrirmos o curso técnico de Enfermagem teria malogrado.

Criar um curso de enfermagem àquela época era desafiador, vista a carência de recursos humanos na área de saúde em todo o Noroeste Mineiro. Este curso, além de fornecer mão de obra qualificada ao sistema de saúde de Paracatu, refletindo-se na melhoria do atendimento à população, “exportou” técnicos para toda a região e até mesmo Brasília.

A conquista desse objetivo nos possibilitou, doze anos mais tarde, a criação do curso superior de enfermagem da Faculdade Tecsoma. Com Isaías à frente, tivemos que enfrentar duas avaliações do MEC. Na segunda avaliação, que nos concedeu a autorização de funcionamento, o aspecto mais considerado foi justamente a qualificação do corpo de professores (a maioria enfermeiros experientes) e a qualificação do coordenador do curso, Isaías Nery, que naquela ocasião dirigia o Hospital Municipal de Paracatu.

Mas, aquilo que entregamos aos outros sempre retorna: o fato de Isaías ser coordenador e professor do curso de Enfermagem da Faculdade Tecsoma foi importante para que ele fosse admitido no curso de mestrado em Ciências da Saúde da UnB. A partir daí, mercê do seu esforço e competência, Isaías foi do mestrado ao doutorado e, deste, ao pós-doutorado, sempre focado no tema em que se tornou um dos maiores especialistas no Brasil – a hanseníase.


Uma lembrança pessoal, que não posso omitir aqui, é a sua participação, em 2012, na banca examinadora que avaliou minha dissertação de mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental, na Universidade Católica de Brasília. Tê-lo como avaliador não apenas concedeu ao meu trabalho a validação científica, mas também dignidade, selando uma relação de respeito e confiança.

Sua humildade o faz, a meu ver, pouco observado em Paracatu. Longe das vitrines que ostentam a vaidade, Isaías segue seu trabalho meticuloso, como servidor público honrado. Em minha mente, quando penso em Isaías e Iris Leda vejo duas árvores que cresceram juntas, misturando suas raízes e enrolando seus troncos, de tal maneira que suas flores e frutos parecem a ambos pertencerem. São árvores que ainda por muito tempo estarão nos oferecendo frutos de amor, conhecimento e competência profissional.

Faça o download do livro Hanseníase: avanços e desafios. Clique Aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Intoxicação Subclínica por Metais Pesados

Poucas pessoas já ouviram falar ou dão importância à intoxicação subclínica por metais pesados. Saiba o que é isto e a importância deste conceito na medicina moderna. Numa linguagem acessível, o Dr. Tsutomo Higashi, médico patologista pesquisador, discorre sobre essa doença que ganha cada vez mais importância no mundo, pelos efeitos da poluição generalizada, consumo de agrotóxicos, poeira urbana, minerações a céu aberto etc. 

Veja que é possível relacionar distúrbios de comportamento, perda de memória, doenças crônicas de modo geral e cânceres com o efeito nefasto dos metais pesados (chumbo, cádmio, mercúrio, cromo e arsênio). 

Clique em: Intoxicação subclínica por metais pesados.

sábado, 14 de março de 2015

A nossa Cantareira

Por Paulo André Barros Mendes
Era mais um sábado quente de janeiro, e ainda pela manhã eu fugia para os quase 1.700 metros de altitude da Serra da Gandarela. Já completara um mês sem que uma mísera gota de chuva caísse do céu – simplesmente o verão mais seco registrado em Belo Horizonte.

Saímos da capital, eu e meu amigo Leandro Novais, cruzando a bacia do rio das Velhas em direção a Rio Acima. Na altura de Bela Fama paramos para observar como andava o rio. Logo desanimamos: havia pouca água. Pelas medições passavam por ali apenas 8.000 litros por segundo. Muito menos do que o normal. Pouco mais do que os 6.000 litros por segundo que a Copasa precisa retirar para o nosso abastecimento.
Seguimos viagem e ganhamos o alto da Gandarela. Então, parado em um dos mirantes, eu apreciei lá embaixo a bacia do rio das Velhas, as serras que a rodeiam e as matas que ainda recobrem o seu fundo. É embaixo disso tudo que estão os aquíferos do alto Velhas: a nossa caixa d’água natural, a nossa represa da Cantareira.
A represa da Cantareira, em São Paulo, virou estrela de televisão. Porém a Cantareira de Belo Horizonte é invisível, subterrânea. Não é simples medir o seu nível, mas ela também está secando aos poucos – é o que mostra a pequena vazão das suas nascentes.
Então, para nossa surpresa, rapidamente o tempo mudou. Uma massa de nuvens carregadas trouxe um cenário familiar, mas que agora é também incomum.
Na mesma hora me lembrei:
Cheguei a Belo Horizonte com as grandes águas de 1921. Ia começar a chover de janeiro a março, só de raro o céu de chumbo se fendendo e o sol fazendo uma visita de horas, dias, no máximo semana, para, depois, o mundo soverter-se nos ciclones. (...) Chove, chove sem passar.”   [Pedro Nava, Chão de Ferro, Ed. Companhia das Letras, 2012]
Então, privilegiados, observamos a maravilha das chuvas: a recarga dos aquíferos do Velhas, com a absorção da água pelos afloramentos de canga da Gandarela. A canga é como uma esponja, ela suga cada gota, e dali elas seguem para o aquífero.
É esse mecanismo que precisamos preservar a todo custo. É ele que enche a nossa Cantareira. Eu via as águas se infiltrando e pensava se elas chegariam ao Velhas, lá embaixo, agora mais um filete do que um rio. Que um dia foi navegável.
"É claro que em 1921 elas chegavam. É quando se ouviam os gemidos dos caudais descendo os declives procurando o Arrudas, enchendo o rio das Velhas, o São Francisco."
Abri alguns jornais que trazia comigo. Encontrei falas de muitas pessoas, todas preocupadas com essa situação.
Prefeitos? Pregam o uso racional.
Deputados? Se mostram indignados.
Executivos de mineradoras? Distribuem elegantes relatórios de sustentabilidade.
Técnicos? Afirmam que suas gigantes barragens de rejeitos, feitas de terra, são seguras.
Órgãos ambientais? Se dizem vigilantes e eficientes.
Empresários? Alegam seguir padrões internacionais.
Lia essas coisas imerso na névoa, me sentindo em um mundo da fantasia. Então, quando as nuvens subiram um pouco, eu pude observar de novo todo o alto Velhas. O mundo real.
O que eu via lá embaixo eram projetos de mineração que gastam mais água do que cidades inteiras, e ainda impedem a absorção das chuvas pelos aquíferos. Tudo aprovado com aplausos pelos governos, prefeitos inclusive. Em cenas irreais, eles desviam rios inteiros 24 horas por dia.
Olhei para a região das nascentes do Velhas: Mariana e Ouro Preto. Ali, a maior parte da água disponível já é usada para operações de extração e transporte de minério de ferro. Agora fizeram um aqueduto particular, que busca água em Santa Bárbara, a 50 km de distância.
Me voltei para Itabirito, observando a Estação Ecológica de Arêdes. Uma área de recarga de aquíferos, reduzida há poucos dias por uma decisão dos deputados estaduais.
Ainda em Itabirito: suas lideranças entregaram um volume de água equivalente ao consumo atual da cidade para uma fábrica de bebidas. Em um futuro próximo, quando a água faltar, a população lavará louças e roupas com refrigerantes?
Na mesma região, o relatório oficial sobre a ampliação de um condomínio declarou que não haverá interferência nas águas, “uma vez que o abastecimento será realizado por meio da concessionária local”. A concessionária trará água de avião, penso.
Ali perto planejam uma cidade inteira, mas dizem que não faltará água. E asseguram que a lagoa dos Ingleses – recentemente promovida a manancial de emergência de Belo Horizonte – não será prejudicada. Me recordei da Pampulha, e me senti enganado.
Buscando algum alívio me virei, olhando para o norte. Avistei a Serra do Curral. Então me lembrei dos planos, em andamento, para mais uma grande mina de ferro a céu aberto, desta vez na região do Taquaril. O problema é que eles estão pregando uma coisa e fazendo o seu oposto. Sempre, agora, todos os dias.
Pensei: as áreas de recarga dos aquíferos do Velhas não poderiam mais ser destruídas. E a água já armazenada não deveria ser bombeada de forma tão irresponsável. É o futuro nosso e o dos nossos filhos que está em jogo. Mexo de novo nos jornais, me distraio com as formações de canga, olho de novo a paisagem.
O que mais pensar? Nada. São todos uns farsantes.  
* Geógrafo e jornalista, colaborador da ArcaAmaSerra - Associação para a Recuperação e Conservação Ambiental em Defesa da Serra da Calçada.
Prezados,
Divulgo meu último artigo.
Se gostarem.. peço que espalhem por aí...
Abraços,
PA