Blog do Professor Márcio

Seja bem vindo. Gosto de compartilhar ideias e sua visita é uma contribuição para isto. Volte sempre!

terça-feira, 23 de março de 2010

Ter ou fazer: o que você quer?

Quero convidá-lo a uma reflexão sobre o "ter" e o "fazer". De início, convido-o a pensar em nomes de pessoas que deixaram um legado importante para a humanidade, mas que nasceram ou viveram na pobreza. Sei que muitos nomes lhe ocorrerão, mas citarei apenas alguns para que possamos dar continuidade à nossa reflexão. O maior vulto literário brasileiro ainda é Machado de Assis, descendente de escravos, funcionário público humilde. O maior músico de todos os tempos, para mim, foi Mozart, que viveu apenas 35 anos, morreu na miséria e foi enterrado anonimamente em uma vala comum. Na filosofia e nas ciências sociais, posso citar Marx, que nasceu numa família de classe média, mas suportou uma vida de muitas dificuldades, sendo socorrido por amigos, tendo falecido no exílio e na pobreza.

Para não ficar cansativo, deixarei de enfileirar nomes, exceto o exemplo maior, que certamente também lhe ocorreu: Jesus Cristo. Todos conhecemos o legado de Jesus e os traços marcantes de sua vida: nasceu num estábulo, sua família teve que buscar o exílio, viveu pobre, foi perseguido, torturado e morto aos 33 anos, sendo sepultado num túmulo emprestado.

Tendo você relacionado outros nomes, pois há uma infinidade deles (Gandhi, Chico Xavier, Lincoln...), meu convite é que agora você pense em nomes de pessoas que nasceram em famílias abastadas ou conquistaram grandes fortunas e que tenham deixado um grande legado à humanidade. Difícil, não? Mas certamente os há!

Ocorreu-me o nome de Gautama Sidarta, o Buda, que nasceu príncipe e deixou um legado imperecível nos campos da religião, da filosofia e da psicologia. Mas ele jamais seria “o Buda” se tivesse permanecido na abastança, agarrado às posses e ao poder. Um dia, ao se deparar com a miséria, o sofrimento e a morte, deixou tudo o que tinha para buscar o autoconhecimento e pregar os segredos do equilíbrio e da paz. Isto é, deixou de ter para fazer.

Por outro lado, nos deparamos com muitos nomes de pessoas que não nasceram pobres, mas amealharam fortuna por conta daquilo que fizeram e deixaram legados importantes para a humanidade. Um deles, Thomas Edison, o maior inventor de todos os tempos.

Já descobriu aonde quero ir com esta reflexão?

Há pessoas que se preocupam com o "ter", vivem amealhando bens, dinheiro e coisas. Apegam-se a elas, adoram falar delas, ostentam-nas como se elas fossem partes de si próprios, mas não sabem o que fazer com elas. Não representam um bem verdadeiro. Preste atenção nos discursos: se estão falando de si, elas dizem tenho tal emprego, tenho tal negócio, tenho isto, tenho aquilo; se estão falando do negócio, elas dizem tenho tantos empregados, tenho tantos clientes, minha empresa tem tantos computadores, tanto disto, tanto daquilo. Jamais lhes dá na cabeça que pessoas morrem, clientes somem, coisas passam; e que tudo isto não tem significado em si. Somos nós que damos significado às coisas e fatos do mundo.

Se você tem - dinheiro, coisas, negócio, talento, amor... -, o que está fazendo com aquilo que tem? Qual o benefício que elas trazem para você e para os outros? Estão sendo adequadamente utilizadas com uma finalidade justa? As respostas a estas questões são fundamentais.

Há pessoas que se preocupam com o "fazer", porque acreditam que são as idéias e o agir consonante a essas idéias que moldam o mundo, são as idéias e o agir que catalisam pessoas e coisas. Se a sua idéia é forte (fé), se o seu trabalho é persistente (esforço) e se o seu objetivo é contribuir (amor), eles catalisarão positivamente pessoas e coisas para a sua concretização. Pessoas e coisas que não lhe pertencem, que morrem e passam. Preste atenção nos discursos: as pessoas focadas no "fazer", se estão falando de si, dizem quero fazer isto, fiz aquilo, estou aprendendo a fazer tal coisa; se estão falando do negócio, elas dizem fizemos isto, vamos fazer aquilo, que seus colaboradores fizeram ou são capazes de fazer tal coisa, que seus clientes esperam que tal coisa seja feita. Elas sabem que tudo passa, mas o que foi feito, foi feito, não tem volta. Não significa que elas terão as mãos vazias, bem ao contrário, mas que o foco está no fazer e no agir, que, como disse antes, atraem pessoas e coisas.

Então, se você quer “fazer” e não tem nada na mão, não se queixe por isto. Pelo menos aqui, sua situação é igual à dos maiores vultos da humanidade. Você não precisa ter a mão cheia para fazer o que quer. Reflita sobre o que você tem na cabeça e no coração, e não sobre o que tem na mão. O resto virá por acréscimo.

Suas idéias e seus sentimentos não precisam se igualar às dos condutores da humanidade, mas precisam estar à altura daquilo que você deseja fazer, para que, pequenina ou grande, a coisa seja bem feita e tenha valor para você e para os outros. Esta provavelmente será a sua verdadeira recompensa.

Mas se a sua escolha é “ter”, o caminho é simples e fácil, a porta é larga, basta seguir amealhando coisas. Talvez um dia você descubra o significado delas, quem sabe?

terça-feira, 2 de março de 2010

Câncer de Próstata

Gostei muito de um artigo que li recentemente, publicado no jornal "The New York Times". Ele toca num assunto que, para a grande maioria dos homens brasileiros, é um tabu: câncer de próstata e suas consequências. Fico penalizado quando tomo conhecimento de tantas mortes de pessoas das minhas relações, causadas pelo câncer de próstata, e quase indignado quando penso que grande parte deste sofrimento é causado por questões culturais. O aspecto cultural envolve machismo, má informação e desleixo, que são características fortes da cultura brasileira. Acrescento também, conforme constatação pessoal, a má formação dos médicos (quase todos eles homens e machistas), que desconsideram o aspecto psicológico profundo da expressão da sexualidade masculina. Sexo, para o homem moderno e que superou o machismo, é muito mais que o movimento mecânico de um pênis ereto!!!



Portanto, no intuito de contribuir para uma consideração atenta de homens e mulheres que acessam este blog despretencioso, apresento aqui um artigo do jornalista Dana Jennings, fruto de uma profunda reflexão, dolorida mas cheia de esperança.

Câncer de Próstata e seus efeitos

Venci o estágio 3 do câncer na próstata – e seu tratamento – em boa forma. Quase dois anos após descobrir que tinha câncer, sou um homem ativo de 52 anos; faço exercícios regulares, meus exames de sangue têm os resultados que deveriam ter e meu oncologista só quer me ver duas vezes por ano.

Mesmo assim, um efeito colateral de meu tratamento se mostrou particularmente teimoso: a disfunção erétil. Após uma prostatectomia aberta radical, radiação e tratamento com hormônios, é difícil colocar o velho motor do desejo para funcionar. E agora que estou cuidando de minha depressão pós-tratamento com Zoloft – que também atrapalha a função sexual –, algumas vezes não consigo nem encontrar minhas chaves. Ah, e meu nível de testosterona também está baixo.

Apesar disso, não reclamo. Não há vantagem em estar ereto e morto.

O câncer de próstata e seu tratamento atacam os homens onde eles vivem, frequentemente causando impotência e incontinência (meu controle da bexiga voltou gradualmente, mas ainda posso ser apanhado de surpresa por um espirro inesperado).

Não que eu esteja pronto para pendurar minhas botinas. Afinal de contas, somos criaturas sexuais e estou trabalhando com meu cirurgião para recuperar aquela parte de mim mesmo. Nos últimos dois anos, entretanto, insisti em tentar aprender o que o câncer poderia me ensinar. E aqui estou, apenas tentando entender, tentando articular como é ser uma mercadoria com defeito em nossa cultura sexualizada.

Nós nos afundamos numa cultura superficial de sorrisos forçados, falsidades e insinuações. A interminável objetificação do corpo – em homens e mulheres – acelera, atingindo velocidades tão altas que as objeções nem mesmo são ouvidas sob o rugido da mídia de massas.

Somos obrigados a cultuar “abdominais de tanquinho” e bíceps altos como o Everest, seios impossivelmente pontudos e nádegas de titânio. Às vezes, parece que cada imagem cuspida pela mídia eletrônica ressoa com apenas um assunto nas entrelinhas, e nada sutil: o sexo.

Com isso, onde fica um homem com disfunção erétil?

Não estou muito interessado na mecânica biofísica masculina, no Levitra, Viagra e Cialis (uma ereção que dura mais de quatro horas? Que tal quatro segundos?), em injeções e bombas penianas. Para mim, os comerciais de pílulas mágicas nunca pareceram tocar a nota certa. Os homens sempre parecem furtivos, como adolescentes comprando preservativos. E os narradores são calmos e sinistros.

No imaginário popular, as condições de homem e de mulher se tornaram ainda mais confusas com o ato sexual. Mas a hombridade não diz respeito a feitos prodigiosos ao se fazer amor, ou a quantos parceiros você consegue satisfazer. Não existem padrões oficiais.

A verdadeira hombridade trata-se de amor e ternura. Trata-se de responsabilidade e honra, de trabalhar duro e criar seus filhos da maneira que você acha melhor, com amor, respeito e disciplina.

Sim, minha função erétil ainda é um trabalho em desenvolvimento, mas não me sinto diminuído; não me sinto menos homem. Minha voz ainda é profunda como sempre, meus olhos são de um azul metálico. Ainda aprecio uma boa cerveja escura, e posso segurar as pontas numa blitz policial (embora às vezes me sinta tentado a dizer: “Está tudo bem, meninas, sou inofensivo!”).

A libido chega e vai embora nas horas mais estranhas, como uma casa com crianças durante férias escolares. Porém, curiosamente, sinto que a vida que minha mulher, Deb, e eu levamos está mais íntima do que nunca. Eu era aquele que estava doente, mas nós espreitamos o gélido abismo do câncer juntos. Enquanto eu era esmurrado por diagnóstico, tratamento e consequências, ela era minha apoiadora, minha confidente, minha incansável enfermeira. E tudo o que ela fez era recoberto por seu amor por mim. Era uma intimidade além das palavras. E, acredite, eu tenho muito a retribuir se algum dia tiver de cuidar de Deb.

A verdadeira intimidade não diz respeito à hidráulica da carne. É o cheiro de certo xampu no cabelo, um toque casual na cozinha, o gosto de uma sopa fria de amora num dia quente de verão, a gentil nostalgia de “Aja”, por Steely Dan, e seu coração se derretendo à visão de sua mulher há 28 anos dormindo profundamente após a meia-noite.

Apesar de tudo que aconteceu nos últimos dois anos, sou um homem de sorte. Amo meu trabalho, sou abençoado com dois filhos adoráveis, e tenho minha mulher gentil e indispensável para abraçar nestas frias noites de inverno.

O resto vai se recuperar a seu tempo.


Autor do artigo: Dana Jennings. Publicado no jornal The New York Times.

A vida é sagrada

“Ensinemos nossos filhos a venerar o mundo e a consciência que o ilumina. Façamo-los perceber o caráter sagrado, mágico da vida: esse inimaginável emaranhado de todas as formas e todas as histórias possíveis que se originam infinitamente no espaço unitário da consciência. É o fim único da educação tornar a consciência humana consciente dela mesma e de sua disposição fundamental: sua expansão onidirecional, sua liberdade, seu amor por todas as formas e todos os seres”.
Pierre Lévy