Blog do Professor Márcio

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

ALICÉRIO HONORATO

Na noite 01 de dezembro, sexta-feira, o novo escritor paracatuense Alicério Honorato lançou seu livro de poesias Andanças. Alicério, com a calma que parece lhe ser peculiar, esgotou a tiragem inicial do livro, dando autógrafos para uma multidão.
Alicério autografa para a jornalista Uldicéia Kaiowá, enquanto Maria Teresa Cambronio lê um dos poemas do autor.

Nunca vimos a casa da Academia de Letras tão cheia! Mesmo com a ameaça de chuva, que afinal não caiu, as pessoas, de todas as idades, ali chegavam como quem chega para abraçar um amigo. Nós, que não conhecíamos Alicério, também ficamos surpreendidos por sua simpatia, cordialidade e tranquilidade. Algumas pessoas ali presentes afirmavam: ele é uma figura!
A presidente da ALNM Helen Pimentel, e o vice-presidente Márcio Santos no evento do lançamento do livro Andanças, de Alicério Honorato.
Alicério teve pouca escola, de maneira que precisou contar com a ajuda de sua irmã, que transcrevia o que ele ditava. A acadêmica Maria Teresa Cambronio colaborou na revisão. Embora ele próprio se julgue um matuto, sua poesia é de excelente qualidade.
O poema inicial do livro, com o qual homenageia sua primeira neta, que estava para nascer, dá mostra do valor poético de Alicério. Vejamos a primeira estrofe!

Espera
Onde andas, pequeno ser que demoras
Dar o ar de sua graça?
Espero-te a cada pôr do sol em uma destas tardes
Em que o vermelho poente com toda certeza toca nossa imaginação.

A fila de espera dos autógrafos se estendeu além do salão e, durante mais de duas horas, Alicério autografou pacientemente e ofereceu um mimo a cada pessoa presente.
Nem só de doces encantos fala Alicério. Na Apresentação do livro, Maria Teresa Cambronio afirma: “O autor é corajoso e preciso em suas ideias, evidencia em seu poemas, além da fé e do amor a Deus, temas ligados aos problemas de seu tempo, como: preconceito, injustiças, desvios de dinheiro público, violência, insegurança etc.”

Ficamos sabendo que Alicério tem mais de 100 crônicas não publicadas. Talvez um dia ele se decida a nos revelar um outro aspecto de sua capacidade literária.


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

EMPRESA FRANCESA POLUIU A PRINCIPAL FONTE QUE ABASTECE PARACATU

Grande parte da cidade de Paracatu - MG ficou dois dias sem água. A explicação da Copasa é que as chuvas teriam levado muita lama para o Ribeirão Santa Isabel, que abastece a cidade, havendo necessidade de interrupção do bombeamento para manutenção. Foi esta a explicação que obtive no posto de atendimento da Copasa em Paracatu.

Na manhã de segunda feira, 27/11/2017, o programa Rota do Crime, recebeu uma grave denúncia dando conta de poluição no Ribeirão Santa Isabel, que poderia ser a principal causa do interrompimento do abastecimento de água potável em toda cidade. A equipe deslocou-se até a zona rural e constatou que uma grande quantidade de terra vermelha estava sendo diretamente lançada ao Ribeirão. 

A empresa Solaire Paracatu, de capital francês, está implantado um sistema de geração de energia fotovoltaica, a qual será "exportada" para a rede da CEMIG.  Durante o serviço de terraplanagem, para a instalação de placas solares, ela teria empurrado o material removido diretamente para as margens do Ribeirão, provocando os danos ambientais, degradando a bacia hidrográfica e prejudicando toda a população de Paracatu. 

A Polícia Ambiental de Paracatu tomou as providências pertinentes, autuando a Solaire e dando voz de prisão a Júlio Augusto de Melo Lima, engenheiro eletricista,  e ao eletrotécnico, Cláudio Cunha Garcia, pelos danos ambientais causados em Área de Preservação Permanente.

Imagem do Ribeirão Santa Isabel, que fornece 70% da água consumida em Paracatu, após o desastre ambiental provocado pela empresa de capital francês Solaire Paracatu.

Como é notório, Paracatu ficou em estado de emergência devido à falta d'água durante a estiagem. O município já tem a bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Rita entupida e poluída (para sempre) pelos rejeitos de mineração aurífera da Kinross; agora sofre o impacto de mais uma agressão ambiental direta. Os acionistas dessas multinacionais não tomam conhecimento dos processos de degradação humana e ambiental que vivemos; para eles, interessam os ganhos do capital investido.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

SEMANA GUIMARÃES ROSA - OS AVESSOS

Na programação da Semana Guimarães Rosa, da Academia de Letras do Noroeste de Minas foi apresentada em sessão única no dia 19 de novembro, às 20 horas, no Auditório da EE Antônio Carlos, em Paracatu – MG, a peça Os Avessos, do Grupo Arte & Fatosa Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Trata-se de uma adaptação do conto Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha, de João Guimarães Rosa, com direção e dramaturgia de Danilo Alencar, trazendo no elenco os atores André Larô, Taís Monteiro, Leopoldo Rodrigues e Rita Alves.



Segundo o diretor Danilo Alencar, a obra de Guimarães Rosa, com suas personagens criadas de forma genial, “nos remete a um mundo povoado por pessoas invisíveis na perspectiva da sociedade. São vistos, mas não são enxergados. Sorôco, como tantos, não tem opção. Após anos de luta tentando administrar a loucura da mãe e da filha se vê obrigado a despachá-las de trem para um hospício”, afirma. A narrativa, segundo ele, é feita, por uma personagem que presenciou no passado, em uma estação, o embarque das duas.  



“A catarse acontece quando o espectador se junta a outras pessoas reunidas na estação para o último adeus às duas criaturas, numa viagem sem volta, rumo ao Hospício de Barbacena. Elas não mais pertencem ao pseudo mundo "normal", explica o diretor. Vale saber a que lado elas pertencem, afinal: quem são os loucos, quem são os sãos? Quão distantes estão de nós? Pois, “a loucura enche os vazios da vida, solta fogos de artifícios, escancaram os horizontes”.




O público presente encantou-se com a performance do Grupo Arte & Fatos, aplaudindo de pé o elenco.

Para assistir ao vídeo deste evento, clique AQUI.


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O GLIFOSATO PRODUZ ALTERAÇÕES NO DNA

Entrevista com Siegried Knasmüller, toxicologista

Os Estados membros da União Europeia, reunidos na quinta-feira, 9 de novembro, no Comitê Plantas, Animais e Alimentos, não conseguiram obter maioria sobre proposta da Comissão Europeia para renovar a licença de uso do glifosato por mais cinco anos. E isso quando a licença para o herbicida, que entra na composição do famoso Roundup da Monsanto, expira no dia 15 de dezembro.
Reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em toxicologia genética, Siegfried Knasmüller, pesquisador do Instituto de Pesquisa sobre Câncer de Viena, oferece uma visão científica sobre esta questão. Segundo ele, o parecer emitido pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e pela Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA), concluindo que o glifosato não é cancerígeno e não genotóxico, não é sério. O próprio Siegried Knasmüller fez pesquisas in vitro que demonstram o efeito nocivo do glifosato.
A entrevista é de Cédric Vallet, publicada por Alternatives Économiques, 09-11-2017. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

O senhor é toxicologista em Viena. O senhor pode nos explicar que conclusões tira dos seus trabalhos sobre o glifosato?
Eu trabalho no Instituto de Pesquisa sobre Câncer de Viena e me especializei em toxicologia genética. Eu estudo a genotoxicidade, portanto, as lesões que afetam o patrimônio genético, o DNA, e que podem ser mutagênicas (causar mutações; nota do editor). Esses danos podem estar na origem do câncer. Eu mesmo consagrei vários trabalhos aos impactos do glifosato sobre o DNA. Nós fizemos estudos in vitro em células epiteliais bucais (células derivadas da boca).
O que constatamos foi muito claro. O glifosato sozinho (e o round up ainda mais) é citotóxico: ela danifica as células. E ele é genotóxico: deforma o DNA. Este experimento revelou danos cromossômicos que favorecem o desenvolvimento de cânceres. Mesmo em doses muito baixas, existe um risco provável de que a inalação, através da pulverização, cause câncer nos órgãos do sistema respiratório. Mais experimentos deveriam ser realizados em trabalhadores nos locais de produção de glifosato para chegar ao fundo da questão. Mas nenhum estudo válido foi realizado nas plantas industriais, o que ajudaria a compreender melhor o aumento dos riscos de câncer associados ao glifosato.
Como explicar que as agências europeias, a EFSA e a ECHA, concluem que o glifosato não é nem cancerígeno nem genotóxico?
EFSA, no relatório do Instituto Federal Alemão de Avaliação de Riscos (BFR), considerou apenas um espectro muito estreito de estudos. Eles basearam sua decisão em testes muito específicos, definidos pela OCDE, que avaliam os efeitos mutagênicos do glifosato em células retiradas da medula espinhal de ratazanas ou ratos. Esses testes têm resultados negativos em muitos estudos, mas outros experimentos com animais indicam danos no DNA de células de outros órgãos.
Experimentos in vitro com células derivadas de fígado indicam, por exemplo, que este órgão pode ser afetado pelo glifosato, mas nenhum estudo em animais foi então realizado para esclarecer esses dados.
glifosato vem sendo estudado há 40 anos. Muitos trabalhos acadêmicos indicam uma relação entre o glifosato e o câncer. Mas eles não foram levados em consideração. Há, por exemplo, cerca de vinte estudos realizados com pessoas expostas ao glifosato, principalmente trabalhadores agrícolas. A maioria deu resultados positivos. O DNA dessas pessoas tinha sofrido lesões. Mas a indústria não considera esses trabalhos como confiáveis sob o pretexto de que as pessoas em questão foram expostas a outros componentes. Seria necessário pelo menos fazer estudos adicionais com pessoas que estiveram mais em contato com o glifosato.
A Monsanto tentou influenciar o debate científico…
O que aconteceu nos últimos anos é muito desafiador. A Monsanto pagou bons cientistas, como Gary Williams ou David Kirkland, para escrever “revistas”, isto é, compilações de estudos sobre a periculosidade do glifosato. Essas compilações induziram os leitores ao erro, porque criticavam apenas os estudos que estimavam que o glifosato era cancerígeno.
Por sua vez, os dossiês submetidos às autoridades pelas empresas que comercializam produtos à base de glifosatocontinham estudos encomendados pela indústria e cujos dados eram secretos. Estes estudos não são publicados na literatura científica. Eles não são revisados pelos pares.
O senhor acredita que os membros das agências europeias ou do BFR sofreram pressão para sentar as bases para renovar a licença de uso do glifosato?
Pressões… eu não sei. Penso que todo o processo de classificação e avaliação de riscos em nível europeu está longe de ser ideal, porque depende muito dos dados fornecidos pela indústria. E, no entanto, o BFR, na origem das conclusões da EFSA, é um instituto muito respeitado. Mas eles são humanos e, como todos nós, podem cometer erros. À medida que os conhecimentos científicos se desenvolvem, ou você admite ter cometido um erro, ou você persiste até o fim. A deles, é essa última opção, por enquanto. Em 2015, o CIRC [Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, agência especializada da Organização Mundial da Saúde] considerou que o glifosato era “provavelmente cancerígeno”. Essa é, para mim, uma classificação muito melhor, baseada em estudos científicos, revisados por pares.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A POLÍTICA DE AUSTERIDADE DESTRÓI A ECONOMIA


Que lições podem ser aprendidas sobre o impacto das crises econômicas na saúde das pessoas? O uso de evidências científicas está sendo decisório no processo de construção de políticas públicas? Como mitigar os efeitos negativos das crises para a saúde? Estas e muitas outras questões foram colocadas pelo professor David Stuckler, na noite da segunda-feira, dia 9, no 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco, em Florianópolis.
Stuckler, professor de Economia Política na Universidade de Oxford e que mais recentemente passou a integrar o quadro docente do Departamento de Análise Política e Gestão Pública na italiana Universitá Bocconi – começou sua apresentação com uma fotografia da violência imposta pela polícia espanhola aos manifestantes pela independência da Catalunha: -“Este exemplo de ataque à democracia aconteceu esta semana”. A próxima imagem mostrava um Donald Trump sorridente e David comentou: – “No meu país (David é norte-americano) vimos a ascensão de um líder demagogo que não tem tolerância pelos direitos de gênero, igualdade e, claro, pelos pobres. Recentemente quando o furacão Maria arrasou Porto Rico, numa série de tuítes, Trump atacou a prefeita da capital San Juan, Carmen Yulin Cruz, por criticar o governo de Washington por sua falta de resposta aos estragos provocados pelo furacão. Cruz afirmou que o governo dos EUA ‘está nos matando com sua ineficiência’. Em sua réplica, Trump fustigou a ‘medíocre capacidade de liderança da prefeita de San Juan e outros em Porto Rico que não conseguem que seus trabalhadores ajudem’. E é aqui que a Epidemiologia é criticamente importante: os políticos estão atacando aqueles que ficam na linha de frente. Estão me atacando também. Trump teve coragem de culpar as vítimas de Porto Rico pelo déficit norte-americano e chegou a dizer ‘Porto Rico, vocês estão atrapalhando nosso orçamento’, explicou David.
“Meu trabalho começa com os princípios fundamentais de que a saúde precisa acontecer nas comunidades e não nos consultórios médicos, acontecer onde vivemos, trabalhamos, brincamos e descansamos: o CEP é um dos fatores mais poderosos para a saúde. Hoje, na voz dos epidemiologistas está a voz dos marginalizados, daqueles que sofrem pelas forças poderosas que vão muito além do seu controle. Estamos vivendo um momento da história em que esta voz da epidemiologia é mais necessária”, disse o pesquisador.
O pesquisador disse a seguir que iria compartilhar o que tem aprendido com os números da Europa e EUA pois sabe que o Brasil está adentrando neste caminho, ele mostrou um gráfico com os dados da recessão brasileira e ainda a capa de uma reportagem do Washington Post de dezembro passado – Brazil passes the mother of all austerity plans. “Soubemos então que o Brasil era agora a mãe de todos os planos de austeridade, com cortes gigantescos, numa escala que nunca vimos na Europa até agora. Acredito que uma das coisas mais importantes que podemos fazer é desmistificar e mostrar as mentiras que são ditas pelos governos. Tenham muita atenção aos constantes ‘Não há alternativa, só a austeridade”, pediu David.
Stuckler mostrou gráficos com o atual posicionamento do FMI diante da austeridade “We underestimated the negative effect of austerity on employment and spending power” diz o artigo Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers, de Olivier Blanchard e Daniel Leigh. O Fundo Monetário Internacional já foi um dos maiores defensores da austeridade mas mudou bastante de opinião. Neste artigo eles fizeram uma avaliação da situação da Grécia onde, imaginavam eles, após 8% de cortes em investimentos haveria um crescimento de 4%, entretanto tal crescimento não aconteceu. Então eles decidiram que o melhor seria cortar mais ainda: e cortaram, mas a economia continuou afundando: – “Foi aí que eles se deram conta de que havia um erro no modelo deles e voltaram a examinar o multiplicador fiscal (que nos mostra qual o retorno econômico para cada dólar gasto) e souberam que na Grécia, durante a recessão, para cada dólar gasto o retorno era de 1,7 dólares! Então no final de 2013 o FMI declarou que na crise o importante é investir e demos um passo além, pois mesmo que os políticos decidam pelos cortes existem agora evidências que mostram qual é a melhor forma de fazer isso: diante de qualquer cenário, protejam o orçamento universal de saúde e educação. Infelizmente não é isso que tem acontecido, na verdade é o oposto que tem acontecido”, disse Stuckler.
David mostrou então como se deu o início dos cortes em saúde por toda a Europa e fez um alerta: -“Nós, epidemiologistas, precisamos entender estes dados econômicos porque no final desta cadeia, está a vida das pessoas. Pois mesmo que toda esta informação econômica pareça muito distante da Epidemiologia, é preciso e é urgente documentar todos estes danos causados pela austeridade. Ainda na Grécia, um jornalista perguntou ao ministro da Saúde se eles realmente teriam coragem de cortar em 40% o orçamento da saúde. É claro que as consequências foram previsíveis. Num artigo que publicamos no Lancet há poucos dias, documentamos um número muito alto da mortalidade infantil na Grécia. Um sinal que o acesso à saúde estava despencando – é como se a saúde pública na Grécia fosse um barco e de repente o governo começasse a enfiar várias lanças no casco e a começasse a afundar a embarcação”, comparou David.
O professor disse então que todos os números comprovam o sofrimento da Grécia: – “E diante disto começamos a documentar todo o impacto da austeridade. Sem os dados, os danos ficariam ocultos e o debate público não teria acontecido. Mas aviso: quando vocês começarem a documentar todos os danos que a austeridade causa na saúde da população, serão atacados, preparem-se. Também fizemos um mapa dos bancos de alimentos que existem no Reino Unido e que até pouco tempo não existiam. Estes bancos se proliferaram no Reino Unido e os ministros conservadores dizem que eles surgiram 'Porque as pessoas não conseguem administrar suas finanças' – um padrão que temos observado nas políticas de cortes, as vítimas são sempre as culpadas. Precisamos, e devemos, enquanto epidemiologistas documentar esses dados. Mas não basta só documentar, temos que buscar uma narrativa alternativa , uma voz diferente para pintar esse quadro de alternativas verdadeiras, é uma das coisas mais importantes que nós, epidemiologistas, podemos fazer. Para o triunfo do mal só basta que homens e mulheres do bem não façam nada”, arrematou David.

Texto obtido em: ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

DIAGNÓSTICO DO SUICÍDIO NO BRASIL

Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil
Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado ontem (21) pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres. A divulgação faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio.

A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres, entre 2011 e 2015. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes.
Para a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde, Fátima Marinho, esse número é maior pois há uma perda de diagnóstico dos casos de suicídio. Segundo ela, nas classes sociais mais altas há um tabu sobre o tema, questões relacionadas a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. “As pessoas mais pobres, em geral, captamos a morte porque ele vai pro IML [Instituto Médico Legal]”, explicou.

Das 1,2 milhão de mortes, em 2015, 17% tiveram causa externa. Dessas 40% são registradas por causas não determinadas, segundo Fátima. “Ainda tem 6% de mortes que ainda não conseguimos chegar na causa. São cerca de 10 mil mortes que foram por causa externa, violenta, mas não sabe porquê. Por isso temos esse sub-diagnóstico do suicídio”, disse.
No Brasil, os idosos, de 70 anos ou mais, apresentaram as maiores taxas, com 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes, mas, segundo Fátima, em números absolutos, a população idosa vem aumentando. Além disso, eles sofrem mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Ela explica que esse índice alto de suicídio entre idosos é observado no mundo todo.
Os dados apontam que 62% dos suicídios foram causados por enforcamento. Entre os outros meios utilizados estão intoxicação e arma de fogo. Fátima conta que nos Estados Unidos são registrados mais suicídios por armas de fogo porque o acesso é mais facilitado.
A proporção de óbitos por suicídio também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. “E os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres”, disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.
Entre 2011 e 2015, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi maior entre a população indígena, sendo que 44,8% dos suicídios indígenas ocorreram na faixa etária de 10 a 19 anos. A cada 100 mil habitantes são registrados 15,2 mortes entre indígenas; 5,9 entre brancos; 4,7 entre negros; e 2,4 morte entre os amarelos.
Para Fátima, o alto risco de suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que elas também há um alto risco de mortalidade infantil.
Segundo a secretaria especial de Saúde Indígena, Lívia Vitenti, existe um número alto de indígenas em sofrimento por uso álcool, disputas territoriais e conflitos com a família e com a população não indígena. Entre os jovenes, então, há falta de perspectivas de vida. Entretanto, o problema do suicídio indígenas não está distribuído por todo o território, sendo mais frequente entre os Guarani Kaiowá, Carajás e Ticunas.
Tentativas de suicídio
As notificações de lesões autoprovocadas tornaram-se obrigatórias a partir de 2011 e elas seguem aumentando. Entre 2011 e 2016, foram notificadas 176.226 lesões autoprovocadas; 27,4% delas, ou seja, 48.204, foram tentativas de suicídio.
As tentativas de suicídios são mais frequentes em mulheres. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016, 69% era mulheres e 31% homens. A proporção de tentativas de suicídio, de caráter repetitivo também é maior entre as mulheres. Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram suicídio mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens.
O meio mais utilizado nas tentativas de suicídio foi por envenenamento, 58%. Seguido de objeto pérfuro-cortante, 6,5%; enforcamento, 5,8%.
Fatores de risco e proteção
Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.
Segundo o Ministério da Saúde, a existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Na análise feita, é o único fator de proteção ao suicídio. Fátima ressalta, entretanto, que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de suicídios. Existem hoje no Brasil 2.463 Caps em funcionamento.
Como a ocorrência de suicídio é grande entre os indígenas, ser indígena por si só já é um fator de risco, explicou Fátima. Pessoas que trabalham na agropecuária, que tem acesso a pesticidas, também são vulneráveis a cometerem suicídio por intoxicação.
Os casos acontecem em quase todo país, mas Região Sul concentrou 23% dos suicídios, entre 2010 e 2015. Segundo Fátima, alto nível de renda, pouca desigualdade social e baixo índices de pobreza são características de municípios que concentram mais suicídios.
Ela explica, entretanto que, no caso da Região Sul, existe a associação dos casos de suicídio com a agricultura, especificamente a cultura da folha do tabaco. Segundo Fátima, a folha verde do fumo pode causar uma intoxicação neurológica em quem mantém um contato muito próximo, “o efeito dessa intoxicação é chamada bebedeira da folha verde do fumo”.
Além disso, o pesticida usado nessa cultura contém manganês, que é absorvido e depositado no sistema nervoso central. Fátima ressalta, entretanto, que esta é uma associação e que ainda não existe o nexo causal entre esse tipo de pesticida e os casos de suicídio.
“Então temos o risco ocupacional e a pressão social e econômica em cima de agricultores familiares. É uma exposição conjunta”, disse a diretora. Ela explicou que as políticas de incentivo para a diversificação das culturas no sul do país não tiveram um impacto importante pois o tabaco ainda é muito lucrativo.
Além da Região Sul e de áreas indígenas, esse levantamento trouxe novas áreas com altas taxas de suicídio, que são a região da divisa de São Paulo e Minas Gerais e o estado do Piauí. Segundo Fátima, esses locais ainda precisam ser mais estudados, mas também há uma associação ao uso de pesticidas e a agricultura.
Agenda global

Mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo. Por isso, em 2013, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um plano de ações em saúde mental que pretende reduzir em 10% da taxa de suicídio até 2020.
O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Quirino Cordeiro, disse que o governo promovia ações na área de prevenção ao suicídio, mas agora que está começando a fazer uma política focada no tema. Uma das ações estratégicas é a construção do Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio, para ampliar as ações para as populações vulneráveis.
Segundo ele, o Ministério da Saúde quer expandir a rede de CAPS, inclusive entre a população indígena, além de outras estratégias de cuidados na saúde mental. É importante ainda cruzar os mapas para identificar possíveis associações de causas de suicídios, como a associação com pesticidas. Outros órgãos e ministérios serão convidados para apoiar futuras ações.
Quirino explica que as políticas de prevenção ao suicídio devem focar em dois fatores, nos transtornos mentais e nos meios de suicídio. “Sabemos que entre os vários fatores para o suicídio existe a presença do transtorno mental não tratado de maneira apropriada, então ter políticas públicas focadas nesses transtornos é importante”, disse.
Outra frente de ações é o controle de meios para o suicídio, segundo Quirino, que tem um impacto importante na redução dessas mortes. “Muitas vezes quem comete suicídio está passando por problemas graves e acaba fazendo uma tentativa por desespero. Mas se não tem à mão um método, muitas vezes aquele momento passa e a pessoa não efetiva”, disse, explicando que o controle de armas é importante no Brasil, por exemplo, pois onde se restringe o acesso a armas, se reduz os casos de suicídio.
Acordo com o CVV
O Ministério da Saúde, desde 2015, tem uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que começou com um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

O objetivo da parceria é ampliar gradualmente a gratuidade de ligações para o CVV, mesmo que por celular, por meio do número 188. Além do Rio Grande do Sul, a partir de 1º de outubro, pessoas de mais oito estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.
De acordo com o Ministério da Saúde, 21% da população brasileira reside nos nove estados a serem atendidos gratuitamente pelo CVV, o que garante uma ampla cobertura. O acordo já ampliou o número de atendimentos, de 4,5 mil em setembro de 2015, para 58,8 mil em agosto de 2017. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento pelo 188.
No restante dos estados, o CVV ainda atende pelo número 141 ou diretamente no posto regional. Em cidades sem posto de atendimento do CVV, as pessoas podem utilizar o atendimento por chat, skype e e-mail disponíveis na página do CVV.

boletim epidemiológico sobre suicídio está disponível na página do Ministério da Saúde. A pasta também disponibiliza materiais de orientação para jornalistas, profissionais de saúde e população geral.


Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2017

sábado, 26 de agosto de 2017

PILHAGEM DO BRASIL

Mineradoras canadenses souberam de extinção de reserva na Amazônia 5 meses antes do anúncio oficial


Floresta AmazônicaDireito de imagemAFP
Image captionGoverno federal reabriu a área na Amazônia para a exploração mineral

Publicada no Diário Oficial da última quinta-feira sem alarde, o decreto que determina a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na Amazônia, surpreendeu muita gente e ganhou manchetes alarmadas no Brasil e nos principais jornais do mundo.
Não foi o que ocorreu com investidores e empresas de mineração canadenses. Em março, cinco meses antes do anúncio oficial do governo, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, anunciou a empresários do país que a área de preservação amazônica seria extinta, e que sua exploração seria leiloada entre empresas privadas.
O fim da Renca foi apresentado pelo governo Temer durante um evento aberto em Toronto, o Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC), junto a um pacote de medidas de reformulação do setor mineral brasileiro, que inclui a criação de Agência Nacional de Mineração e outras iniciativas para estimular o setor.
Pouco depois do encontro, em abril, o ministério de Minas e Energia publicou no Diário Oficial uma portaria – que passou despercebida pelo público em geral – pavimentando o caminho para o decreto que seria assinado alguns meses depois e dispondo sobre títulos minerários dentro da Renca.

Conexão canadense

Segundo a pasta, esta foi a primeira vez em 15 anos em que um ministro de Minas e Energia brasileiro participava do evento, descrito pelo governo brasileiro como uma oportunidade para "abordar o aprimoramento na legislação brasileira e também demonstrar os planos do governo para incentivar o investimento estrangeiro no setor". De outro lado, movimentos sociais, ambientalistas e centros de pesquisa dizem que não haviam sido informados sobre a extinção da Renca até o anúncio da última quinta-feira.

O Canadá é um importante explorador de recursos minerais no Brasil e vem ampliando este interesse desde o início do ano. Hoje, aproximadamente 30 empresas do país já exploram minérios em território brasileiro - especialmente o ouro, que teria atraído garimpeiros à área da Renca nos últimos anos.
Em junho, dois meses antes da extinção oficial da reserva amazônica, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá anunciou uma nova Comissão de Mineração, específica para negócios no Brasil, que reúne representantes destas 30 empresas.

Mapa

À BBC Brasil, o coordenador da comissão canadense defendeu a abertura da área amazônica para pesquisas minerais, disse que a "mineração protege a natureza" e afirmou que "não há uma corrida" para explorar a região da Renca, mas que "acha muito saudável" a disponibilização da região para exploração mineral.
O Ministério de Minas e Energia prometeu responder aos questionamentos enviados pela BBC Brasil durante toda a sexta-feira. No final do dia, entretanto, informou que não daria retorno devido a uma entrevista coletiva de emergência convocada pelo ministro Fernando Coelho Filho.
Na entrevista, o ministro afirmou que a extinção da área de reserva amazônica, com área um pouco maior que a da Dinamarca, não terá impactos ambientais. Segundo Coelho Filho, o início das atividades de exploração na região ainda deve demorar 10 anos.

'Ninguém pode julgar o Canadá'

Coordenador da recém-criada Comissão de Mineração da Câmara de Comércio canadense, o empresário Paulo Misk participou dos seminários realizados em março no Canadá e não vê problemas na divulgação antecipada do fim da reserva.
"A gente tem que fazer um trabalho de divulgação, promoção e atração de investimento de mais médio ou longo prazo", diz.
"Não temos pronto nenhum projeto para ser instalado lá", continua o representante canadense. "Por enquanto estamos no campo das perspectivas, promessas e iniciando o processo. Não é tão rápida a resposta."
Misk afirma que o Canadá é o país que mais investe em pesquisa no mundo e que "os ambientalistas deveriam repensar a nossa posição: a mineração é extremamente benéfica."
Sobre a Renca, ele afirma que a liberação permitirá que "uma grande área seja preservada".
"Se tiver oportunidade de ter uma mineração bem constituída e legalizada (na região da Renca), olha, eu vou ficar muito feliz porque vai ser para o bem do Brasil e para o bem da sociedade brasileira, especialmente no Pará e no Amapá", diz.

Presidente assina documento ao lado de ministros e aliadosDireito de imagemBETO BARATA/ PR
Image captionDecisão do governo sobre a Renca foi publicada no Diário Oficial sem alarde

Misk também afirma que a ocupação da região por empresas de mineração deve inibir a presença de garimpeiros, cuja atuação irregular na região já resulta em contaminação de rios por mercúrio.
Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), o geólogo Luiz Azevedo também esteve em Toronto e concorda.
"Dizer que o governo está abrindo para o desmatamento é ridículo, é coisa de quem não conhece o assunto", diz.
"Eu não me atrevo a falar sobre música. Fico impressionado como os artistas agora se atrevem a falar sobre mineração e sobre unidades de conservação", diz, citando a modelo Gisele Bündchen, que criticou o anúncio em suas redes sociais.

Sobre o anúncio antecipado da extinção da área de preservação na Amazônia, Azevedo diz que o ministro divulgou que "uma área muito grande que seria liberada para pesquisa mineral".
"Foi dito pelo ministro como parte de um pacote de medidas visando mostrar ao investidor que a ideia da Dilma de estatizante tinha acabado."
"O que eles querem são novas áreas para se pesquisar e novas possibilidades. Ninguém pode julgar o Canadá. Eles têm uma mentalidade mais cosmopolita, 70% da população é de imigrantes, então eles pensam nos outros. É um interesse legitimo", avalia.

Localidade da Amazônia vista de cimaDireito de imagemMÁCIO FERREIRA/ AG. PARÁ/FOTOSPÚBLICAS
Image captionExtinção de reserva na Amazônia pegou ambientalistas e centros de pesquisa brasileiros de surpresa

'Soubemos pela imprensa'

Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o geógrafo Luiz Jardim pesquisa a relação entre empresas de mineração canadenses e o governo brasileiro.
Ele explica que o evento de março em Toronto, quando o fim da Renca foi anunciado pelo ministro, era formado essencialmente por empresas menores especializadas em pesquisa mineral e investimentos de risco.
"Há um padrão nessas empresas, chamadas 'juniors'. Elas vêm, fazem as pesquisas e ao longo desse tempo publicam resultados em relatórios na bolsa de valores em Toronto, indicando o que eles encontraram. Esses relatórios fazem elas ganharem valor de mercado. Achando uma jazida significativa, a empresa pede uma licença ambiental e ganha ainda mais valor. Com a licença em mãos, elas anunciam na Bolsa novamente que estão perto do inicio do projeto. Num período de baixa no mercado, como agora, elas costumam vender a operação ou a mina para uma empresa maior interessada e assim fazem seus investidores lucrarem", explica.
Jardim descorda da tese de que grandes mineradoras podem inibir o garimpo ilegal na região.
"A experiência no rio Tapajós, no Pará, mostra o contrário. O garimpeiro esta interessado em minas superficiais, a mineradora chega a veios mais profundos. Eles coexistem e a exploração formal pode até incentivar a vinda de mais garimpeiros."

O ministro brasileiro de Minas e EnergiaDireito de imagemBETO BARATA/ PR
Image captionCoelho Filho diz que extinção de reserva não terá impactos ambientais

Segundo o engenheiro Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e membro do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que reúne 110 ongs, sindicatos e movimentos sociais, não houve qualquer comunicado sobre a Renca para pesquisadores da área ou comunidades – diferente do que ocorreu com os empresários.
"Tudo o que acompanhamos foi pela imprensa", diz.
Sobre esta aproximação entre governo e empresários, Milanez afirma que o movimento é "parte de um processo histórico, que vem se aprofundando" no governo Temer.
"Isso é reflexo de uma ocupação maior de pessoas do setor corporativo no governo. Hoje, o primeiro escalão da mineração no governo é formado por pessoas que ocuparam cargos de diretorias em empresas", diz.
"Mas eles estão no governo temporariamente por cargos de confiança, e quando saírem vão voltar a assumir posições em empresas. Eles têm um lado nessa história."