Blog do Professor Márcio

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quinta-feira, 28 de maio de 2015

El País, um jornal global, denuncia os impactos socioambientais da mineração em Paracatu

Com três matérias publicadas em 26 de maio/2015, o jornal global El País denunciou a contaminação ambiental por arsênio, o impacto territorial da mina sobre a cidade de Paracatu e  a destruição dos povoados e da cultura quilombola pela mineração aurífera.

Os links de acesso às três matérias estão abaixo. Boa leitura!

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/25/politica/1432561404_705347.html

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/25/politica/1432566478_465367.html

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/25/politica/1432566478_465367.html#quilombola


Reportagem do Correio Braziliense denuncia a contaminação


Exames de parte da população de Paracatu comprovam contaminação por arsênio

Fonte: CorreioBraziliense - Ver notícia original


Minervino Junior/CB/D.A Press - 11/3/15


Paracatu (MG) — A cerca de 200km de Brasília, uma comunidade vive lado a lado com toneladas de uma substância tóxica. O arsênio liberado pela maior mineradora de ouro a céu aberto do país — distante 250 metros do centro urbano — afeta a vida de mais de 90 mil pessoas que moram no município mineiro de Paracatu. O medo dos efeitos nocivos do composto tem resultado em audiências públicas, além de visitas de representantes de organizações não governamentais e de acadêmicos à cidade. Sobretudo, tirou a população da inércia. Alguns moradores buscaram diagnósticos laboratoriais para comprovar indícios de uma suposta contaminação em massa. O caso, denunciado há pouco mais de dois meses pelo Correio, teria relação com taxas crescentes de câncer na região.
Com exames nas mãos que atestam alto índice de arsênio no corpo, moradores — entre eles, pequenos agricultores e ex-funcionários da empresa — pretendem mostrar que são vítimas de uma história iniciada na década de 1980, com a chegada da primeira mineradora no município. Se antes eles conviviam com a dúvida da contaminação aos recursos naturais e ao ser humano, agora, começam a documentar o que de fato existe. Um dos laudos, de uma pessoa que preferiu o anonimato, mostra índice de arsênio de 15,7µg/g de creatinina, quando o valor de referência é de 10µg/g.
A multinacional canadense Knorss rebate as alegações, amparada em estudos que mostram o baixo teor de arsênio em amostras de águas e sedimentos da cidade, como um relatório realizado entre 2011 e 2013 pelo Centro Tecnológico Mineral (Cetem) — unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, encomendados pela Prefeitura de Paracatu.
A agitação do centro urbano está a 15km da propriedade de Irineu Pereira da Silva, 63 anos, próxima ao Ribeirão Santa Rita. O lugar é vizinho de um curso d’água, onde pescar e se refrescar eram hábitos antigos. Tudo mudou com a chegada de duas barragens de rejeito — local onde são depositados resíduos líquidos e sólidos decorrentes do processo de extração do ouro.
O mesmo estudo que atesta o baixo índice de arsênio nos recursos naturais da cidade aponta altos teores da substância nas águas do Santa Rita, com valores de 13,5µg/l a 19,1µg/l de arsênio — o estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é de até 10µg/l. “Moramos na zona de maior impacto, pois estamos do lado de uma lagoa com arsênio, cianeto e outros metais pesados. Quando a empresa chegou, a nossa água morreu. Tinha peixe, e não tem mais”, contou Irineu. “A minha mulher morreu com câncer de fígado. O que eu quero é ser indenizado e sair daqui.”
O exame de Irineu aferiu índice de arsênio de 5,6µg/g de creatinina urinária — valor abaixo do limite estabelecido em portarias que tratam sobre o tema. Cientistas, contudo, alertam para mudança de padrões nessas análises. Segundo o geólogo e mestre em planejamento e gestão ambiental Márcio José dos Santos, em Paracatu, as pessoas estão expostas naturalmente a um teor maior de arsênio, mas isso não significa dizer que amostras de 7µg/g ou 8µg/g estão livres de contaminação. O discurso é reforçado pelo médico do Departamento de Oncologia do Hospital da Universidade de Berna, na Suíça, Sergio Ulhoa Dani, que enfatiza o fato de não existirem doses seguras do arsênio no corpo, substância denominada por ele como “altamente cancerígena”.
Ações
A Justiça Global, uma ONG com foco nos direitos humanos, prepara relatório sobre o caso de Paracatu, que abordará, entre outras questões, a violação de direitos das comunidades quilombolas (que tiveram terras compradas pela empresa), impactos na saúde da população e o processo de licenciamento para construção das barragens de rejeito. Segundo a pesquisadora da entidade Daniela Fichino, diferentes especialistas estiveram na região. A suposta contaminação por arsênio também estará no texto do documento, previsto para ser publicado até julho. Deputados estaduais de Minas Gerais também programam uma audiência pública na cidade.
Há mais de 40 anos vivendo próximo ao Santa Rita, a agricultora Maria Helena Nunes, 66, não se surpreendeu ao receber o resultado do exame de arsênio, que constatou patamar de 14,2µg/g de creatinina, acima do indicado na Portaria nº 24, de 29 de dezembro de 1994, cujo valor de referência de normalidade é até 10µg/g para população não exposta em serviços. Em nota, porém, o Ministério da Saúde ressalta que esse valor pode variar consideravelmente a depender de fatores ambientais, hábitos alimentares e sociais, entre outros, não podendo ser utilizado como único parâmetro para avaliação do nível de intoxicação humana ao arsênio. “Parentes meus também estão contaminados”, diz a agricultora. Elane Nunes Alves, 36, filha dela, faz relação direta entre os problemas de saúde dos animais da fazenda e a água ingerida por eles próximo das barragens.

Fonte: CorreioBrazilienseVer notícia original

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Impactos socioambientais de Paracatu no The Guardian

O principal jornal londrino - The Guardian - apresentou matéria produzida pelos jornalistas Heriberto Araújo e Anna Veciana, sobre os impactos socioambientais em Paracatu pela exploração da mina de ouro.
Como uma grande parte de nossos leitores não tem conhecimento suficiente para a leitura do texto em inglês, resolvemos apresentar aqui uma tradução livre, que, se não é excelente, pelo menos é inteligível e confiável. Veja a nossa tradução.



Companhia canadense de mineração espionou opositores e ativistas no Brasil

Ambição da Kinross Mining Company de criar mina de maior produção de ouro no Brasil maculada por riscos à saúde e ameaças a ativistas e opositores.





Jalviana Morais da Costa, 86, is a former garimpeira, or gold hunter in the river banks in Paracatu, Brazil
Juliana Morais da Costa, 86, é uma ex-garimpeira, ou caçadora de ouro nos barranco de rio em Paracatu. Brazil Photograph: Luis de las Alas





The mining activities are carried out as close as 200 meters from the urban area.

As atividades de mineração ocorrem a cerca de 200 metros da área urbana. Photograph: Luis de las Alas

A exploração de ouro em Paracatu começou ainda em 1722. Mas os dias dos garimpeiros, ou caçadores de ouro, estão muito longe. Desde os anos 1990 a exploração passou das margens do rio para depósitos subterrâneos. Dinamite, escavadeiras e produtos químicos substituíram os garimpeiros, que foram empurrados para fora de um negócio que tinha sustentado centenas de famílias.

Preços crescentes do ouro

Em 2005, a empresa canadense Kinross - que é listada na New York Stock Exchange e possui minas de ouro no Chile, Estados Unidos, Rússia e Gana, entre outros países - assumiu a concessão mineira em Paracatu. Durante um período em que os preços do ouro subiram para novos patamares históricos em mercados globais, a Kinross investiu US $ 1,86 bilhão no negócio, triplicando a produção anual para as atuais 15 toneladas e tornando a mina de ouro de Paracatu a mais produtiva no Brasil. Como o ouro em Paracatu não assume a forma de grão ou pepita, mas de pó, a empresa teve que intensificar enormemente as atividades de mineração para manter a produção. Hoje, cerca de 160 buracos de dinamite são detonados diariamente para escavar o Morro do Ouro, o Golden Hill, como os moradores referem-se à área onde os principais depósitos são encontrados.

Em consequência, a geografia local foi profundamente transformada. Quando nos aproximamos da área de lavra constatamos uma imensa cratera que abrange 615 hectares, a metade do tamanho do Aeroporto de Heathrow, e se assemelha a uma paisagem lunar. Os únicos sinais de vida são os bulldozers imponentes e os veículos “fora de estrada” que transportam as pedras para a planta de beneficiamento. Lá, produtos químicos tóxicos, incluindo cianeto, são empregados para separar o pó de ouro, que é mais tarde fundido em lingotes e transportado de helicóptero para São Paulo para exportação para o mundo inteiro.

Riscos do Arsênio para a Saúde

Embora seja difícil negar o impacto visual  -, além da área de mineração, duas grandes barragens do tamanho de mais um Aeroporto Heathrow são utilizados para eliminação de resíduos tóxicos - muitos argumentam que a mina representa uma ameaça para o ambiente local e para a saúde dos 90 mil moradores de Paracatu. Não bastasse o fato de se usar dinamite para retirar as reservas de ouro de lugares próximos de 200 metros da área urbana, o metal precioso é misturado na rocha com arsênio, um cancerígeno.

O arsênio é comumente encontrado em minas de ouro, mas em Paracatu é uma preocupação especial. De acordo com Márcio José dos Santos, um geólogo e ativista local, para cada tonelada de rocha removida apenas 0,4 grama de ouro é recuperada e 1kg de arsênio é liberado para o ar e as águas subterrâneas. "Ninguém sabe quanto arsênio está indo para a cidade. Aqui, o vento sopra de nordeste, significa que o arsênio viaja no ar desde a mina até a área urbana. As pessoas estão inalando a poeira tóxica e, consequentemente, estão inalando arsênio ", explica José. Sergio Ulhoa Dani, um médico local e, também, oponente da mina, argumentou em um artigo científico recente que "o dano potencial de arsênio em uma mina de ouro como a de Paracatu poderia impactar sete trilhões de pessoas".




Intensive mining has created a crater reminiscent of lunar landscape

A mineração intesiva criou uma cratera que lembra uma paisagem lunar. Photograph: Luis de las Alas
Muitos na cidade questionam se sua vida está em risco, enquanto a palavra "câncer" tornou-se um tabu. Os dados da Prefeitura Municipal de Paracatu mostram que a taxa de mortalidade por câncer na cidade é semelhante ao resto do país. Os críticos argumentam que as estatísticas do governo local não são confiáveis. Como Paracatu carece de instituições médicas, os pacientes se deslocam para hospitais localizados a centenas de quilômetros de distância para receber tratamento e, portanto, não são contados em dados oficiais da cidade.

Os opositores enfrentam assédio e ameaças

A posição da empresa também está sendo questionada. De acordo com documentos vistos pelo The Guardian e entrevistas com ex-funcionários, vários funcionários da Kinross trabalharam em uma unidade de inteligência para rastrear qualquer atividade potencial contra a mina ou a reputação da empresa.

Em entrevista ao The Guardian, Gilberto Azevedo, gerente geral da mina, negou qualquer risco para a saúde ou o ambiente. "Nós monitoramos tudo. As pessoas nada têm a temer, porque nós temos tudo sob controle. Nós fazemos testes ambientais e biológicos regularmente, e contratamos fontes externas para realizar estudos. Todos eles mostram que não há risco." Ele também enfatizou a importância econômica da atividade da empresa para a região. Em 2014, a Kinross pagou cerca de US $ 10 milhões em impostos e atualmente emprega 3.300 pessoas na mina, cerca de 8% da população ativa na cidade.
Gilberto Azevedo, general manager of the Kinross mine, argues there is no health risk for the 90,000 local residents

Gilberto Azevedo, gerente geral da mina da Kinross, afirma que não há risco para a saúde dos 90.000 habitantes. Photograph: Luis de las Alas

No entanto, a tensão é perceptível. Enquanto dirigíamos através das vias públicas que fazem divisa com a mina, um guarda armado, que vinha seguindo o carro por uma hora, nos fez parar e nos fez perguntas.

Dezenas de documentos e e-mails internos vistos pelo The Guardian mostram que em 2012 e 2013 a Kinross tinha uma política de monitorar regularmente os potenciais adversários em Paracatu, incluindo o ex-prefeito Almir Paraca - conhecido por contestar abertamente a mina - e vários líderes sindicais.

"Eles monitoram os movimentos sociais, políticos, associações de moradores e seus representantes, ativistas ambientais, líderes sindicais ... Eles até mesmo monitoram o que alguns dos funcionários da Kinross fazem no seu tempo livre. O principal objetivo é abafar ou reprimir qualquer ação, manifestação ou referência contra a empresa de mineração ou seus interesses", disse uma das fontes, conhecedora das políticas da Kinross,  por causa de sua/seu antigo posto na empresa.

Pelo menos duas ativistas locais - Rafaela Luiz Xavier e Evane Lopes - tiveram que abandonar a cidade nos últimos meses, depois que elas receberam ameaças de morte, as quais elas afirmam estarem relacionadas a sua oposição à mina.

"Não temos nada a ver com isso. A Kinross é uma empresa que dialoga com a comunidade", diz Azevedo, quando perguntado se a empresa de alguma forma está envolvida nas ameaças a ativistas. A Kinross também negou estar monitorando ativistas ou oponentes.

Caro Leitor: Se você quiser acessar diretamente o site do The Guardian e ler o texto original, clique aqui. Se você quiser divulgar o texto original do The Guardian, use as ferramentas abaixo: