Blog do Professor Márcio

Seja bem vindo. Gosto de compartilhar ideias e sua visita é uma contribuição para isto. Volte sempre!

domingo, 10 de outubro de 2010

Lições de um desastre

Desde 2 de outubro, estamos acompanhando o desenrolar do desastre sócio-ambiental que atingiu uma região da Hungria, quando a barragem de rejeitos de uma fábrica de alumínio rompeu-se, despejando lama tóxica na cidade de Kolontár e outras localidades. Até o momento em que escrevo este texto, oito pessoas morreram, cerca de 150 ficaram feridas, a maioria com queimaduras e danos nos olhos, e seis encontram-se desaparecidas, tragadas pela 'lama vermelha'. Afora isto, o vazamento de mais de um milhão de metros cúbicos, carregou carros nas ruas e danificou pontes e casas, forçando a remoção da população.

Marcadores:
A 'lama vermelha' é um resíduo tóxico da produção do alumínio, muito corrosivo e que contém chumbo. Para a produção de 1 tonelada de alumínio são produzidas quase 3 toneladas de resíduo. A queimadura química causada pela 'lama vermelha' pode demorar dias para ficar aparente e, o que pode parecer uma ferida superficial, pode causar danos a tecidos mais profundos mais tarde.


O problema dessa lama não é só o chumbo. Ela é altamente alcalina, levemente radioativa e contém arsênio, silício e metais pesados. Onde a lama seca, forma-se uma poeira que contamina o ar e, levada pelo vento, seu alcance é incalculável. Segundo um relatório da Academia de Ciência Húngara, a inalação do ar contaminado pode causar doenças pulmonares. Por precaução, no local do desastre as pessoas estão usando máscaras de proteção.

A onda tóxica atingiu as águas dos rios e provocou a morte de todos os organismos presentes no rio Marçal. Embora os esforços para deter a lama, seus efeitos chegaram até o rio Danúbio, o segundo maior da Europa.


Ainda não se sabe o que causou o vazamento, mas meteorologistas disseram que as chuvas de verão na Europa foram acima do normal, o que poderia ter enfraquecido o reservatório. O primeiro-ministro declarou que os responsáveis vão pagar caro pela catástrofe. Entretanto, a empresa (MAL) negou qualquer responsabilidade no acidente e divulgou comunicado afirmando que não houve sinal indicando o desastre iminente e que a barragem cumpria os padrões de segurança. Para auxiliar nos trabalhos de limpeza ela deu uma ajuda de 110 mil euros (cerca de 257 mil reais). Não obstante, seu presidente foi preso.



Agora, refletindo sobre o desastre ambiental na Hungria e pensando na situação de Paracatu em convívio com a mineradora Kinross, vamos assinalar o seguinte:

1) a barragem de rejeitos da Kinross é muitas vezes maior; outra já está em construção e será a maior do mundo;
2) para obter 1 tonelada de ouro são produzidas 2,5 milhões de toneladas de rejeito tóxico;
3) o rejeito tóxico da Kinross é infinitamente mais perigoso pela carga de arsênio, cianeto, enxofre e metais pesados;
4) as barragens da Kinross estão posicionadas nas cabeceiras de afluentes do Rio Paracatu, tributário do Rio São Francisco, potencializando o risco de contaminação em casos de vazamentos;
5) quando ocorre um vazamento é porque ninguém o previu, e ele pode ser provocado por condições metereológicas ou erro humano no projeto, na construção ou no gerenciamento da barragem;
6) quando ocorre um vazamento, quase sempre as empresas se eximem de responsabilidade;
7) cumprir os padrões de segurança não é suficiente, quando se põe em risco vidas humanas;
8) quando ocorre um vazamento, paga-se com vidas humanas, mas também com a vida de toda a cadeia biológica;
9) os danos ambientais são para sempre, principalmente porque a água superficial e subterrânea jamais se livrará dos resíduos tóxicos;
10) os prejuízos, os custos da limpeza e da reparação dos danos ficam por conta do Estado e da sociedade.

Pense nisso! Tem “ambientalista” comprometido com a mineradora dizendo que não há risco, que somos mal informados ou mal intencionados quando alertamos a população sobre o arsênio, o cianeto, a drenagem ácida, a destruição dos mananciais de água, os riscos das barragens, a poeira tóxica...

Adoro uma frase que o pessoal antigo de Paracatu conhece, que acho maravilhosa quando pronunciada na entonação típica dos nativos desta cidade, realçando as paroxítonas:
- QUEM NÃO OUVE CUIDAAADO, OUVE COITAAAADO...

REFERÊNCIAS:
1. http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2010/10/05/vazamento-toxico-mata-tres-na-hungria-e-governo-decreta-estado-de-alerta.jhtm. Acesso: 5/10/2010.
2. http://www1.folha.uol.com.br/mundo/810095-sobe-para-4-mortos-por-lama-vermelha-na-hungria-premie-suspeita-de-falha-humana.shtml . Acesso: 6/10/2010.
3. http://www1.folha.uol.com.br/mundo/812355-hungria-reconhece-situacao-muito-grave-em-represa-de-lama-vermelha.shtml. Acesso: 9/10/2010.
4. http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,oi4725601-ei8142,00.html. Acesso: 9/10/2010.
5. http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4725694-EI8142,00-Apos+vazamento+Hungria+teme+segunda+onda+de+lama+toxica.html. Acesso: 9/10/2010.
6. http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/presidente+de+empresa+que+causou+vazamento+e+detido+na+hungria/n1237796550109.html#0 Acesso: 12/10/2010.
Nota: em 14/10/2010 o número de mortos totalizou 9.

meio ambiente
conflito ambiental
arsenio
ouro
licenciamento
paracatu
rejeito
cianureto

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dorinha Alvarenga: a luta continua

Dorinha Alvarenga é engenheira, arquiteta e urbanista, mas é reconhecida como uma ativista ambiental que, como nós, encara a luta da vida para se afirmar contra os podres poderes. No caso dela, a luta da comunidade de Conceição do Mato Dentro contra uma poderosa mineradora – a MMX Minas-Rio, do magnata Eike Batista em composição com a britânica Anglo American, terceira maior mineradora do mundo. Naquelas bandas, o quadro não é diferente do que vemos em Paracatu: destruição do patrimônio histórico e natural, contaminação ambiental e liquidação do bem mais importante para a existência: a água.


Após a exaustiva campanha desenvolvida nas comunidades de base neste período eleitoral, Dorinha apresenta aqui a reflexão de uma “marineira” com mais de 25 anos de ativismo ambiental diante das indefinições do 2.o turno das eleições para Presidente da República. Vamos acompanhá-la!


Depois de totalmente absorvida em um período de campanha, debutante no PV e candidata a deputada estadual, pude viver e sentir na pele muitas questões importantes.

Antes de participar do pleito fui uma das participantes mais efetivas do MMS MINAS. Participei de várias reuniões e trabalhos feitos pela sociedade civil e o MMS MINAS foi um dos cabeças do que ocorreu em muitos lugares do Brasil.

No entanto o PV, ou melhor o JFA - José Fernando Aparecido, praticamente levou o MMS MINAS para dentro do Comitê dele, o que de certa forma desestruturou uma rede independente na prática. No entanto, a internet permitiu consolidar um grupo suprapartidário e mesmo apartidário, que foi a base da eleição da Marina, tanto em Minas como no Brasil todo.

O fato de a Marina ter ganhado em BH, era sentido por nós militantes verdadeiros da causa ambiental, seja nas vilas e favelas, nas ruas, me surpreendia ver que no reduto do PT, grande parte de líderes comunitários foi Marina. Segundo eles, Marina era pobre como eles e a Dilma era uma patricinha do Lula que nunca tinha vivido a pobreza na carne.

Esse movimento da sociedade civil livre, coeso e sem os moldes antigos da compra de voto, traz uma nova forma de fazer política e que ao meu ver é o melhor fruto das eleições de 2010. A Marina pelo pouco tempo, não pode conhecer de perto as realidade locais e muitas vezes não teve o devido apoio de seus aliados, ou, os mesmos não representavam o seu perfil.

Em Minas foi um verdadeiro circo. Os deputados eleitos do PV, sejam estaduais ou federais são da base de Aécio e Anastasia. Trabalharam por Marina de leve, porque com o aval do chefe, que queria mostrar sua força e de Minas ao Serra deixou correr solto...
No entanto, no segundo turno, pode ser que Aécio e Anastásia participem da campanha de Serra de forma efetiva e isso com certeza mostrará a força de Minas para o PSDB nacional e de São Paulo.

O PV era um partido de aluguel, a vinda da Marina acena para uma nova possibilidade, se houver de fato revisão do estatuto e a definição de um processo democrática interno, o partido poderá inaugurar uma nova fase.

Como membro recente fiquei horrorizada , com a prática interna do partido, sem apoio nenhum aos candidatos que não compunham a base Aecista, mas acredito que tal prática está no PT, onde o Lulismo toma conta do partido, e no PSDB, onde o Serrismo não é diferente. Serra parece uma mula empacada e teimosa.

A campanha em meio a mídia falsa de Dilma de plástico e Serra de cera, trouxe a diferença da Marina de verdade. Só ao final, a força da Marina veio a público, ela também quase se deixou levar pela produção do discurso da mídia.

Se de fato o PV tivesse feito por Marina o que fez o MMS, ela estaria no segundo turno.

É um momento de avaliação de tudo e todos, mas me parece que a sociedade civil é quem ganhou essas eleições!!!

É uma grande pena ter que escolher entre Dilma e Serra, pois com certeza nenhum deles chega perto da Marina!!! Enfim é aguardar e esperar o posicionamento de Marina e de seu eleitorado. Penso que ela se encontra entre a cruz e a caldeirinha e todos nós juntos!!!

Amei participar desse pleito e com certeza aprendi muito durante a campanha. A minha gratidão é enorme pelas pessoas que de forma voluntária participaram conosco.


Nota do blog: Para conhecer um pouco da atividade ambiental de Dorinha Alvarenga, siga o endereço: http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&cd=5&ved=0CCkQtwIwBA&url=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DAmTfXMqgrYE&ei=9t2sTLrvDMH7lwf40YyWAw&usg=AFQjCNHcHSBWwoa9VRNDPAvs0ZrMz9HbRw&sig2=vuFmHQg_Y-YFei-9RprcEQ

Eleições 2010

Recebi um texto do APOLO HERINGER LISBOA (*), em que ele faz uma abordagem do 2.o Turno da eleição presidencial brasileira. É o melhor texto que li sobre o assunto. Assim, solicitei-lhe autorização para reproduzir o texto no meu blog, ao que ele me respondeu: "OK, Márcio, mas diga que é ainda um rascunho, esforço de reflexão compartilhada." Pura modésitia, aqui vai o texto.


A oportunidade deste segundo turno é importante para a democracia. A eleição de Dilma anunciada por antecipação no primeiro turno teria passado a idéia de que fora nomeada e não eleita pelo povo. Tanto que sua primeira declaração ao final da apuração foi que iria conversar com a sociedade e discutir os seus projetos com o país. No primeiro turno, apenas a Marina foi capaz disso. Os dois candidatos mais cotados passaram o tempo em articulações de cúpula, com os supostos donos dos votos. Uma corrente independente se formou e surpreendeu as duas candidaturas apresentadas por marqueteiros de televisão. Agora teremos Dilma Rousseff e José Serra se confrontando em torno de questões substantivas, um ressuscitado, uma mais humilde, um resultado incerto, num clima mais verdadeiro.

A Marina se destacou por sua argumentação estratégica superior aos dois principais oponentes. Falava sempre dos últimos 16 anos em que PSDB e PT fizeram oposição pela oposição. Mostrou como foi importante o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. E o sucesso das políticas sociais de Lula onde o estímulo ao consumo popular criou uma nova classe média, a partir da estabilidade macroeconômica iniciada com Fernando Henrique. No entanto colocou que esta época é passado e propunha coisas novas. Criticou a idéia dos bons gerentes para governar o país e defendeu a necessidade de bons estrategistas. Quebrou a lógica plebiscitária que Lula tentou impor ao processo eleitoral para esvaziar as discussões políticas e tornar o pleito um plebiscito entre o sim e o não. Criticou essa história de mãe e pai do povo, como estratégia de infantilizar a população.

Mas, ficou a dúvida das concessões que fez no Ministério, notadamente nos casos da Transposição do São Francisco, divisão do Ibama, licenciamento de algumas hidrelétricas tecnicamente contra-indicadas, trangênicos. Pisou na bola ao dar razão às críticas da mídia comercial, que plantou a celeuma hipócrita de ameaças à liberdade de imprensa e à livre expressão, um argumento golpista de uma mídia facciosa. Equivocou-se ao denunciar a política externa brasileira fazendo frente ao monopólio dos EUA. Neste caso fez a defesa dos direitos humanos e da ordem do ponto de vista dos aliados bélicos dos EUA e em detrimento dos direitos iguais de todos os países. Mas a principal deficiência da Marina foi não ter correlacionado sua campanha com a estruturação de uma rede política estratégica independente do PV e do domínio personalista, que assumisse sua campanha. Não atendeu a demandas de apoio à organização de lideranças e movimentos sociais e ambientais fora da órbita partidária e que simpatizavam com uma nova opção política. A sua campanha foi pela televisão, pois ao nível local foi uma desorganização total. Com tudo isto, que pode ser corrigo, parabéns.

Dilma Rousseff e José Serra agora estão procurando apoio dos movimentos ambientalistas e sócio-ambientais, de uma diversidade de fazer inveja à Natureza. Mas devem entender que Marina não é dona desses votos, como ela mesma disse, apesar de sua liderança, e que deverão trabalhar com as realidades ambientais e políticas regionais, estabelecendo alianças novas e conhecendo as diversas visões sobre o país.

Apolo Heringer Lisboa em 04/10/2010


(*) Medico, Professor de Medicina Preventiva e Social da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, coordenador do Projeto Manuelzão.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sujeira na Internet, eu deleto!

Hoje recebi e-mail de um professor, ex-colega dos tempos em que fui diretor de escola, pedindo-me o voto. Fiquei tocado com a mensagem, porque se trata de um professor lutador, de origem humilde, que dá um duro enorme para ganhar a vida dignamente, e teve a coragem de lançar-se candidato com chances quase nulas de ser eleito. Nosso sistema eleitoral existe para manter a democracia burguesa, isto é, o governo dos poderosos; raramente algum pobre-honesto consegue furar o bloqueio (ainda assim, viva a democracia!).

Mas não foi só isto que me tocou, foi também a sua abordagem política, enviando-me a sua proposta de trabalho. Enfatizo: proposta de trabalho e não promessas de campanha. Percebe a diferença? Meu querido colega tem idéias que são compartilhadas na área educacional e quer lutar para que elas sejam implementadas através de propostas exeqüíveis.

Enquanto isso, nos últimos meses da atual campanha eleitoral, recebi centenas de e-mails de uma rede podre de detratores da dignidade humana. Falam todo o mal dos adversários, inventam, aumentam, distorcem, caluniam; os adversários são execrados como uma espécie maligna e monstruosa, merecedores de um holocausto. Esses pequenos “hitlers”, “bushs” tupiniquins, assumem atitude de impávidos defensores da ética e da justiça na luta contra o império do mal. Uma coisa nojenta, que me deixou enfastiado até à alma.


Fico pensando: como pode alguém, com nível intelectual acima da média, gastar seu tempo e o tempo dos outros distribuindo impunemente mensagens difamatórias com o único fim de denegrir seus adversários políticos? Levar uma campanha eleitoral para o nível da baixaria não é solapar o processo democrático? Dá para escolher candidatos limpos enquanto se espalha sujeira?

Meu caro leitor, será que o mesmo se deu com você? Entre centenas de e-mails difamatórios e caluniosos de adversários políticos será que você teve a sorte de receber, como eu, pelo menos três mensagens eleitorais com propostas de candidatos? Algo que dignifica o processo eleitoral?

A Internet pode ser uma ferramenta fabulosa para o progresso humano, a democracia e o convívio social. Mas, para isto, precisamos estar vigilantes. Três pessoas, de partidos distintos, me enviaram propostas eleitorais e me pediram o voto. Se pudesse, daria o meu voto a cada uma delas, pela atenção e pela atitude de fazer da Internet um instrumento de cidadania e de consolidação da nossa jovem democracia.

Quanto aos outros, os difamadores, os maledicentes, comigo é assim:

SUJEIRA NA INTERNET, EU DELETO!


Nota: Autorizei a publicação deste texto em http://www.paracatu.net/

Marcadores: internet; sujeira na internet; eleições.