Exames de parte da população de Paracatu comprovam contaminação por arsênio
— 28 de maio de 2015
Fonte: CorreioBraziliense - Ver notícia original
Paracatu (MG) — A cerca de 200km de Brasília, uma comunidade vive lado a lado com toneladas de uma substância tóxica. O arsênio liberado pela maior mineradora de ouro a céu aberto do país — distante 250 metros do centro urbano — afeta a vida de mais de 90 mil pessoas que moram no município mineiro de Paracatu. O medo dos efeitos nocivos do composto tem resultado em audiências públicas, além de visitas de representantes de organizações não governamentais e de acadêmicos à cidade. Sobretudo, tirou a população da inércia. Alguns moradores buscaram diagnósticos laboratoriais para comprovar indícios de uma suposta contaminação em massa. O caso, denunciado há pouco mais de dois meses pelo Correio, teria relação com taxas crescentes de câncer na região.
O exame de Irineu aferiu índice de arsênio de 5,6µg/g de creatinina urinária — valor abaixo do limite estabelecido em portarias que tratam sobre o tema. Cientistas, contudo, alertam para mudança de padrões nessas análises. Segundo o geólogo e mestre em planejamento e gestão ambiental Márcio José dos Santos, em Paracatu, as pessoas estão expostas naturalmente a um teor maior de arsênio, mas isso não significa dizer que amostras de 7µg/g ou 8µg/g estão livres de contaminação. O discurso é reforçado pelo médico do Departamento de Oncologia do Hospital da Universidade de Berna, na Suíça, Sergio Ulhoa Dani, que enfatiza o fato de não existirem doses seguras do arsênio no corpo, substância denominada por ele como “altamente cancerígena”.
Ações
A Justiça Global, uma ONG com foco nos direitos humanos, prepara relatório sobre o caso de Paracatu, que abordará, entre outras questões, a violação de direitos das comunidades quilombolas (que tiveram terras compradas pela empresa), impactos na saúde da população e o processo de licenciamento para construção das barragens de rejeito. Segundo a pesquisadora da entidade Daniela Fichino, diferentes especialistas estiveram na região. A suposta contaminação por arsênio também estará no texto do documento, previsto para ser publicado até julho. Deputados estaduais de Minas Gerais também programam uma audiência pública na cidade.
A Justiça Global, uma ONG com foco nos direitos humanos, prepara relatório sobre o caso de Paracatu, que abordará, entre outras questões, a violação de direitos das comunidades quilombolas (que tiveram terras compradas pela empresa), impactos na saúde da população e o processo de licenciamento para construção das barragens de rejeito. Segundo a pesquisadora da entidade Daniela Fichino, diferentes especialistas estiveram na região. A suposta contaminação por arsênio também estará no texto do documento, previsto para ser publicado até julho. Deputados estaduais de Minas Gerais também programam uma audiência pública na cidade.
Há mais de 40 anos vivendo próximo ao Santa Rita, a agricultora Maria Helena Nunes, 66, não se surpreendeu ao receber o resultado do exame de arsênio, que constatou patamar de 14,2µg/g de creatinina, acima do indicado na Portaria nº 24, de 29 de dezembro de 1994, cujo valor de referência de normalidade é até 10µg/g para população não exposta em serviços. Em nota, porém, o Ministério da Saúde ressalta que esse valor pode variar consideravelmente a depender de fatores ambientais, hábitos alimentares e sociais, entre outros, não podendo ser utilizado como único parâmetro para avaliação do nível de intoxicação humana ao arsênio. “Parentes meus também estão contaminados”, diz a agricultora. Elane Nunes Alves, 36, filha dela, faz relação direta entre os problemas de saúde dos animais da fazenda e a água ingerida por eles próximo das barragens.
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