Blog do Professor Márcio

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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Paracatu na Rádio França Internacional

Em 17 de julho 2015, a Rádio França Internacional, publicou uma grande reportagem sobre a mineração de ouro em Paracatu, assinada pelos jornalistas Heriberto Araujo e Anna Veciana. 

"Três séculos se passaram desde que começou-se a extrair o ouro de Paracatu. Muitas coisas aconteceram desde então, mas o que não mudou é a ganância que o metal segue gerando. No Brasil, como em todo mundo, Fascinação, Ambição, Ânsia de enriquecimento. Frustração. E injustiça. Todos os conceitos que emanam do metal dourado, o mesmo metal que dia a dia se extrae das entranhas do Morro do Ouro. Para fortuna ou desgraça dos habitantes de Paracatu."

Com o parágrafo acima, os jornalistas espanhóis sintetizam a tragédia ambiental de Paracatu. Não deixe de ler, é uma ótima reportagem. Siga o link: Clique Aqui



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Tragédia e sofrimento na riqueza mineral brasileira

Quando a mina se esgota, resta ao povo pilhas de rejeitos, contaminação do ar, solo, rios e lençóis freáticos, além de doenças e decadência econômica.

O Centro de Tecnologia Mineral, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, publicou no ano passado o livro “Recursos Minerais e comunidade – impactos humanos, socioambientais e econômicos”, com 393 páginas e reúne 105 casos de extração mineral distribuídos por 22 estados e cinco regiões – grátis e está disponível aqui. Os editores são os pesquisadores Francisco Rego Fernandes, Renata de Carvalho Alamino e Eliana Rocha Araújo. O objetivo do livro é mostrar que a atividade mineradora gera riqueza e impactos negativos nas comunidades e no meio ambiente.

“- Não se pode deixar de mencionar os grandes passivos ambientais cujo número exato em todo o país é desconhecido, mas certamente ultrapassa as dezenas de milhares de minas e garimpos, inativos e abandonados, produto de mineração pretérita, mas ininterrupta, exercida no Brasil há mais de 500 anos. A mineração altera de forma substancial o meio físico, provocando desmatamento, erosão, contaminação de corpos hídricos, aumento da dispersão de metais pesados, alteração da paisagem, solo, além de comprometer a fauna e a flora. Afeta o modo de viver e a qualidade de vida das populações estabelecidas na área minerada e no seu entorno”.

Extração mineral e concentração de renda

No Brasil existem 3.354 minas em funcionamento, a maioria de pequeno porte – dentro dos dados oficiais, é óbvio - e 8.870 mineradoras registradas com licenciamento e lavra. Dos 105 casos registrados 34 estão no Sudeste, porque Minas Gerais, onde está o quadrilátero ferrífero – tem Itabira como centro – é o estado com maior atividade, não só de ferro, mas manganês, fosfato, gemas e com 53 mil trabalhadores na atividade. São 20 estudos sobre Minas Gerais. Em segundo lugar a região Norte, a nova fronteira mineral com 29 casos, com destaque para o Pará com 15 estudos. Os municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás, onde está localizada a maior província mineral do planeta – 18 bilhões de toneladas, suficientes para 250 anos – recolheram R$600 milhões com a compensação financeira pela extração mineral. Em Parauapebas os 20% mais ricos concentram 60% da riqueza e os 20% mais pobres somente 3,5%, além de 15% da população permanecer na linha de pobreza. O Pará é o antepenúltimo no ranking nacional medido pelo IDH com o índice 0,646.

Os pesquisadores fizeram também um resgate de casos de exploração mineral históricos, como a exploração de manganês em Serra do Navio (AP), o amianto em Bom Jesus da Serra (BA), a lavra de chumbo em Boquira (BA) e os 30 anos de garimpagem na bacia do rio Tapajós (PA). São apenas exemplos onde “a mina se esgota, a empresa transfere suas atividades para outra localidade e à população restam escavações abandonadas, pilhas de rejeitos, contaminação do ar, solo, rios e lençóis freáticos, além de doenças, decadência econômica e empobrecimento.” Cabe ao Estado reduzir os impactos negativos, assegurar a legalidade, promover a resolução de conflitos e garantir que as conquistas não sejam comprometidas, ponderam os pesquisadores.

Serra do Navio: a primeira experiência

O Brasil é um país urbano e litorâneo, onde a elite econômica está concentrada em três metrópoles e nada mais. O que acontece no interior do país, principalmente em regiões distantes como a Amazônia ou o interior do nordeste, não faz parte da versão histórica, muito menos do conteúdo dos veículos de comunicação. A extração de minerais é um grande negócio, comandado por poucas transnacionais e com destaque para a Vale S/A, uma ex-estatal, privatizada que está nesse grupo – a empresa será o tema do próximo texto. Então a divulgação dos empreendimentos sempre está ligada aos números, aos volumes e a grandiosidade da operação. Por isso, a importância de resgatar tais episódios, que ocuparam a história recente do Brasil, como o caso da Icomi em Serra do Navio.

Foi a primeira exploração empresarial de minerais na Amazônia e durou 40 anos – de 1957 a 1997. A cidade de pouco mais de quatro mil habitantes herdou uma pilha de rejeitos com um componente perigoso que é o arsênio, responsável por contaminar igarapés, rios e o lençol freático. A mineração sempre envolve grande quantidade de rochas, e a função dos extratores é separar o que interessa ao mercado e rejeitar o restante. No caso do manganês, a empresa construiu uma usina de pelotização em Porto Santana, a 20 km de Macapá, destino da ferrovia Serra do Navio, também construída pela empresa. A logística da extração mineral é: custo baixo da mina ao porto, normalmente envolve uma ferrovia, porque é o transporte mais barato.

Contrabando e exploração de mineral radioativo

Na Vila Elesbão, em Santana, ficaram as consequências da atividade econômica – a Icomi não retirou os rejeitos da barragem de contenção – 150 mil toneladas – depositou no solo coberto por plástico. Parte foi distribuído na cidade de Santana para ser usado em concreto asfáltico, aterro em quintais e jardins e na construção de casas. A Icomi, depois de 50 anos de concessão, se negou a entregar a infraestrutura do projeto ao governo federal e até hoje ainda correm na justiça no Amapá processos de indenizações aos moradores e ao governo estadual.

A disseminação de doenças como câncer no pulmão – o pó dos minérios, ou flocos, como acontece com o amianto – são relatos constantes em todos os 105 casos. Com agravantes como o arsênio encontrado com o manganês e o cianeto e o mercúrio usado na extração do ouro. Assim como a contaminação da água, do ar e do solo. Porém, tem um caso que é escandaloso e é tratado pela burocracia brasileira como algo corriqueiro. Trata-se da exploração ilegal, por garimpeiros de um mineral chamado torianita – 70 a 76% de tório, elemento radioativo – e de 8 a 10% de urânio.

A Polícia Federal já fez apreensões de até uma tonelada de torianita, que é um mineral granulado e muito denso – custa US$300 o quilo no mercado internacional. Em uma delas encontraram 560 quilos na casa de um fiscal municipal em Porto Grande. A PF desde 2009 não fez mais apreensões, pelo menos divulgadas, porque não conta com um local apropriado para estocar torianita, um mineral radioativo. A Comissão Nacional de Energia Nuclear levou o material apreendido para Poços de Caldas (MG). Em 2012, o jornal Correio do Estado, do Mato Grosso do Sul noticiou que o Exército, na operação Ágata VI estava procurando contrabandistas de mineral radioativo na região de Corumbá, fronteira com a Bolívia. Os relatos dos pesquisadores do Cetem mostram: “presume-se” que a exploração iniciou na década de 1990, em um garimpo próximo ao rio Araguari.

Destruição gerada pelo garimpo de ouro

Décadas de garimpagem de ouro na bacia do rio Tapajós desde a década de 1950 deixaram um rastro de violência, mortes e miséria nos municípios de Itaituba, Santarém, Aveiro e Rurópolis. A partir da década de 1980, auge do garimpo, com a instalação de dragas nos rios Tapajós, Crepori e Jamanxim a situação piorou. Foram registradas 432 pistas de pouso, mais de dois mil pontos de garimpo e uma produção superior a 700 toneladas de ouro – grande parte contrabandeada. O cálculo estima uma população de garimpeiros próxima de 100 mil. Em 1989 o Programa de Controle Ambiental da Garimpagem do rio Tapajós – do governo estadual – divulgou a destruição na região:

“- Destruição de nichos ecológicos, assoreamento e recobrimento de várzeas, alteração de cursos d’água, contaminação da biota, prejuízo à segurança alimentar e a subsistência das populações ribeirinhas, aumento dos custos do tratamento da água, geração de focos de doenças endêmicas e exposição da população à contaminação por mercúrio”.

Mercúrio no garimpo do rio Tapajós

Pesquisadores do Centro de Tecnologia Mineral e do Instituto Evandro Chagas contabilizaram uma emissão de 1,1 toneladas de mercúrio por ano e depois analisaram a contaminação de 30 espécies de peixes consumidos pela população. Em 65% das amostras o índice de contaminação era acima de 0,5% aceitável pela Organização Mundial de Saúde. Mas em determinadas áreas o teor de mercúrio encontrado nos peixes chegava a 40 vezes maior que o estipulado pela OMS. Outro trecho do livro do Cetem:

“-Na realidade, a exploração de ouro do Tapajós não tem conduzido ao desenvolvimento regional. Parte da riqueza advinda da extração do metal tem sido gasta em atividades efêmeras, parte está sendo utilizada para converter a floresta tropical em pastos e fazendas; o restante vem sendo aplicado fora da região em investimentos financeiros. Somente uma pequena parcela dos investimentos é direcionada à economia regional”.

Carvão amazônico para produzir ferro gusa

A Amazônia brasileira produz o melhor ferro gusa do mundo, usado principalmente na produção de peças automotivas – veículos e máquinas agrícolas – atividade exercida por siderúrgicas independentes, algumas de grupos econômicos nacionais como Queiroz Galvão e Gerdau, e com base no funcionamento de 1,2 mil carvoarias nas regiões de Açailândia (MA) e Marabá (PA). O ferro gusa, matéria prima do aço, é produzido com carvão vegetal da mata nativa. Para cada 48 árvores corresponde uma tonelada de gusa, ou exatamente, para cada tonelada de gusa são necessários 875 kg de carvão vegetal e 2.660 kg de madeira seca. Calcula-se que cinco milhões de metros cúbicos de floresta Amazônia tenham sido derrubados para sustentar os “rabos quentes”, como foram apelidados os fornos das carvoarias do Polo Siderúrgico de Carajás. O minério é fornecido pela Vale, que também garante a exportação do gusa, utilizando a logística da Estrada de Ferro Carajás, mais o porto na Ponta da Madeira (MA).

O projeto de industrialização da Amazônia Oriental é da ditadura militar. A verticalização da extração mineral. Depois que a China invadiu o mundo com aços laminados e outros produtos siderúrgicos, a geopolítica mudou totalmente. Somente os especialistas e burocratas brasileiros não entenderam isso. O que ficou na região é miséria, doença, destruição da floresta e poluição. O gusa amazônico tem alta qualidade porque o carvão vegetal não tem enxofre, e na ponta final, produz um aço bem cotado no mercado.

O amianto branco e a tragédia na Bahia

A contabilidade trágica da extração mineral não tem parâmetros definidos, é difícil identificar o que é pior, em termos humanos, socioambientais e econômicos. O caso da extração de amianto em Bom Jesus da Serra (BA) está inserido neste contexto. A primeira mina de amianto brasileira começou a ser explorada em 1937, no distrito de Poções no citado município do sudoeste da Bahia. As atividades foram encerradas em 1967, mas a Mineração de Amianto S/A (SAMA), transferiu o aparato para outro local, em Miniaçu, Goiás. A extração do amianto envolve de 5 a 10% das rochas, o que significa grande quantidade de rejeitos contaminando o ambiente. O que restou da mina localizada perto do ribeirão Bom Jesus, na bacia do rio de Contas, que deságua no mar? Uma cratera com quatro quilômetros de extensão e 200 metros de altura, que permanece cheia o ano inteiro, se transformou em área de lazer e, durante a seca, ainda abastece os carros pipa.

A SAMA é propriedade do Grupo Eternit, fabrica telhas e caixas d’água, entre outros produtos, já foi sócio do Grupo francês Saint Gobain, a marca Brasilit no Brasil. Este, por sua vez, desde 1997 não trabalha mais com o amianto, porque ele foi banido da França – e outros 51 países. No Brasil é permitida a exploração da crisotila, o amianto branco, porque a empresa e seu séquito de especialistas, políticos e seguidores, que é mais solúvel, o sistema respiratório elimina mais rápido.

O amianto, também chamado de asbesto, provoca a asbestose, uma lesão no tecido pulmonar causado pelo acúmulo de fibras no sistema respiratório – são flocos minúsculos desprendido da mina. O amianto é muito procurado por ter baixo custo e ser resistente ao calor e ao fogo.

A SAMA organizou uma tabela para indenizar ex-trabalhadores: R$7 mil aos que contraíram a placa pleural, R$12 mil com asbestose e R$20 mil quem tiver tumor maligno. O professor Paulo Pena, da Faculdade de Medicina, da Universidade Federal da Bahia, citado pelos pesquisadores do Cetem, diz que há uma epidemia invisível de câncer no estado. O Grupo Eternit manteve uma fábrica que produzia derivados do amianto em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, com 2.500 funcionários. E, agora, monitora a saúde de 11 mil trabalhadores e ex-funcionários em Miniaçu, a 504 km de Goiânia, onde continua explorando o amianto branco, com todo o apoio da bancada goiana e do governo estadual, que recolhe R$2,5 bilhões ao ano em impostos.    

A ditadura militar definiu a ocupação da Amazônia

A tragédia e o sofrimento das comunidades envolvidas na mineração é um roteiro que começa na ditadura militar. Em 1965, os militares fizeram um convênio com a NASA e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais. Um funcionário do Ministério das Minas e Energia fez um curso sobre radar, com tecnologia GEMS – Goodyear Eletronic Mapping System. Posteriormente o funcionário – professor Luiz Henrique Aguiar de Azevedo – sugeriu ao ministro da época usar a tecnologia para fazer um levantamento aerofotográfico dos recursos naturais. A experiência começou pelo quadrilátero ferrífero e depois se estendeu pela Amazônia e virou o Projeto Radam – 38 volumes de informações sobre todos os recursos naturais da região.

Em 1974, a ditadura militar lançou o Polamazônia, um programa para estabelecer polos agropecuários e agrominerais em 15 áreas estabelecidas por importância econômica dos recursos. Cinco delas no Pará, incluindo Carajás. Muitos anos depois, já durante a era FHC, foi implantado o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), um contrato de US$1,395 bilhão, pagos em 10 anos e financiado pelo EXIMBANK dos Estados Unidos, um banco de fomento. Quem ganhou a licitação? O Grupo Rhayteon, logicamente. Uma história até hoje mal contada. Isso para enfatizar uma realidade em 2015: a ditadura militar estabeleceu a estratégia de ocupação da Amazônia e os governos democráticos seguintes nunca alteraram esta lógica. A democracia nunca chegou a estes lugares dos confins do Brasil, onde os grupos econômicos nacionais ou estrangeiros fazem o que querem, com o apoio de políticos locais e da elite de sempre.


De Najar Tubino
Fonte: Carta Maior - Meio Ambiente | 24/06/15

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Para que lado pende a balança da Associação dos Magistrados Mineiros?

“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.”

   Associações civis, movimentos sociais, sindicato de trabalhadores(as), grupos de pesquisadores  que detêm notório saber sobre conflitos socioambientais, entidades e instituições que atuam na defesa do meio ambiente, da dignidade e dos direitos humanos da sociedade em geral e das populações tradicionais, em particular, vêm manifestar à sociedade mineira e à magistratura mineira e brasileira sua indignação e surpresa com os caminhos delineados na recente iniciativa da Amagis (Associação dos Magistrados Mineiros), de realizar um congresso sobre exploração minerária, concentrando sua escuta naqueles que são a fonte principal da judicialização relativa à matéria.

A programação e o perfil dos participantes revelam que a direção da Amagis privilegiou a presença de parlamentares financiados por mineradoras e de palestrantes declarada ou contratualmente comprometidos com as empresas e organizações corporativas que vêm causando toda sorte de degradação ambiental e social, realidade de amplo conhecimento da sociedade de Minas Gerais, bem como de outros estados onde o desequilíbrio vem se impondo.

Os movimentos sociais e as comunidades em conflito têm, reiteradamente, denunciado violações de direitos humanos e ambientais decorrentes de práticas empresariais e agravadas diante da impunidade e da omissão ou conivência de autoridades do Poder Público que deveriam zelar pelo cumprimento das leis e pelo estabelecimento da Justiça em todas suas dimensões.

Ante tal realidade, todavia, a Amagis opta por privilegiar representantes de empresas e de grupos de interesses da mineração, que têm se pautado em colegiados ambientais e de recursos hídricos, em lobbies nos parlamentos e gabinetes dos poderes executivos das três esferas federativas, para obter privilégios de ordem legal e normativa, exercer abusos e pretensos direitos que violam princípios constitucionais e vilipendiam o bem comum e o sentido mais básico de Justiça e Democracia.

Muitas das instituições convidadas paras as mesas do I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária, que será realizado nos dias 22 e 25 de junho de 2015, [http://www.amagis.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=17002&cdcategoria=&layout=noticias] são promotoras ou cúmplices de devastação ambiental, da destruição de ecossistemas produtores de água e de condições de vida, e de um cotidiano de violência contra populações vulneráveis no Estado de Minas Gerais.

Nesta configuração, percebemos que o evento organizado pela Amagis vem, factualmente, favorecer os abusivos interesses da mineração e do desenvolvimento não sustentável que têm marcado a cara de um estado e de um país atrasado e cada vez mais dependente da incondicional produção de commodities, por mais que os marqueteiros de plantão tentem passar uma imagem totalmente incompatível com a realidade escancarada à vista de todos.

Ao dar preferência ao lado mais poderoso (política e financeiramente) no debate sobre direitos, conceitos econômicos, planejamento e desenvolvimento, a Amagis vem, por um lado, ignorar que a judicialização em curso resulta em grande parte do abuso da autoridade e do exercício do poder econômico, que busca impor e legitimar na Justiça condições e projetos insustentáveis para as gerações atuais e as futuras. Por outro lado, que a luta por segurança jurídica é hoje uma premência das comunidades violentamente atingidas pelas atividades de mineração, assim como de toda a sociedade que não mais aceita a destruição generalizada dos seus bens naturais – razão pela qual não há como discutir uma realidade ou um segmento de atividades que ultrapassou em muito os limites de uma sociedade sustentável.

Como poderão os magistrados, estudantes e advogados participantes do congresso empreendido pela Amagis,  realizado com o “objetivo de promover o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional”,  terem uma compreensão equilibrada de uma realidade narrada basicamente pelos consultores de empresas e sindicatos da mineração? Ao proceder de forma tão enviesada este evento, que deveria comemorar os 60 anos da Amagis, vem reforçar a impressão que boa parte dos movimentos sociais e da sociedade brasileira têm da Justiça. A de que, salvo honrosas exceções, muitas de suas decisões privilegiam os mais poderosos, dão preferência aos argumentos e ao calibre das bancas de advogados que os grandes grupos econômicos conseguem contratar, em prejuízo da ideia de uma justiça que busque se pautar e que também deveria pautar o equilíbrio.

A escassez de recursos naturais, a anunciada exaustão de reservas minerais e a extinção de sistemas hídricos parecem não ser de interesse de parte do Executivo, do Legislativo e agora também, claramente, de parte importante que representa o Judiciário mineiro.

Espera-se que a Amagis seja parcimoniosa e vigilante. Que prestigie o contraditório, princípio basilar do direito. Que conheça e reconheça o porquê da judicialização no contexto da exploração minerária, reflexo de uma indesejada realidade que a quase todos atinge e inferniza, no plano dos direitos difusos, do desenvolvimento socioeconômico de longo prazo e do dia-a-dia da vida de famílias, comunidades tradicionais e da consciência dos cidadãos que querem um país melhor e se indignam a cada ato de barbárie.

Amagis, ao escolher o caminho da composição de cena deste congresso, evidencia o propósito de realizar o aperfeiçoamento dos formadores e instrumentadores do direito, de forma a solucionar tais demandas de forma parcial e temerária, alijando permanentemente atores e estudiosos, organizações sociais, públicas e privadas que conhecem de perto a situação da população mais atingida e distante dos holofotes dos poderes e de uma ordem econômica e de comunicação que arrisca passos preocupantes para o futuro de um povo altivo. 

As entidades abaixo assinadas registram sua perplexidade com a estratégia de fortalecimento dos interesses econômicos e políticos da mineração que visam ao apressamento da solução dos processos, desconsiderando os graves problemas socioambientais oriundos desta atividade econômica em Minas Gerais.


ASSINAM ESSA NOTA:

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES
Articulação da Bacia do Rio Santo Antônio
Articulação Popular pelo São Francisco Vivo
Associação de Conservação Ambiental e Orgânica -ACAÓ
Associação de Defesa e Desenvolvimento Ambiental de Ferros – ADAAF
Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV)
Associação Para a Recuperação e Conservação Ambiental (Arca Amaserra)
Brigadas Populares
Caminhos da Serra
CEIB (Centro de Ecologia Integral de Betim) 
Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG).
Conselho Pastoral dos Pescadores - CPP/MG
Fica Ficus
Fórum Nacional da Sociedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas (Fonasc – CBH)
GESTA - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG
Instituto Guaicuy - SOS Rio das Velhas
Justiça nos Trilhos
Laboratório de Cenários Socioambientais em Municípios com Mineração –  Labcen (PUC Minas)
Movimento Águas e Serras de Casa Branca
Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente à Mineração – MAM
Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela
Movimento pelas Serras e Águas de Minas – MovSAM
NIISA-UNIMONTES
Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) da UFSJ
ONG Abrace a Serra
Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos Projeto Minas-Rio – REAJA
Rede Nacional de Advogados Populares – MG
Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia – Sinfrajupe
Sindicato Metabase Congonhas
Unidos por Conceição - UNICON

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Laudato Si: Organizações sociais aprovam encíclica papal sobre meio ambiente

Organizações sociais de todo o mundo aprovaram a encíclica sobre meio ambiente que o Vaticano divulgou oficialmente ontem (18). No documento pontifício – espécie de carta aos bispos, fiéis e a toda a população interessada -, o Papa Francisco lembra que a poluição atmosférica provoca milhões de mortes prematuras, particularmente entre os mais pobres.
Na encíclica, o Papa concorda com os estudos científicos que apontam a ação humana como maior causadora do aquecimento global e reforça a tese de que, se nada for feito, o desabastecimento e o controle d´água por grandes empresas se transformará em uma das principais fontes de conflitos das próximas décadas.
Para o Greenpeace, organização não governamental (ONG) de proteção ambiental, a divulgação do documento papal a menos de seis meses da 21ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP-21, é um forte sinal de que o mundo precisa de um acordo relevante,para evitar que o meio ambiente continue sendo degradado. A organização aponta ainda que os líderes mundiais precisam dar uma resposta à altura do desafio climático. A conferência está agendada para dezembro, em Paris, na França.
Em nota, o Greenpeace diz que considera “extremamente valiosa” a intervenção do Papa Francisco e que a encíclica é “clara e franca” ao tratar da necessidade de mudanças políticas mundiais.
“As palavras do Papa devem servir para afastar os governantes de seu comportamento apático. Elas são um incentivo para que os líderes aprovem legislações severas de proteção ao clima em seus países. E para que, em Paris, no final do ano, cheguem a um sólido acordo sobre o clima”, diz a nota do Greenpeace. A organização ambiental cobra do Brasil o fim do desmatamento e mais investimentos para expandir o uso de fontes de energia renováveis, como a solar.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se pronunciou sobre o assunto. Durante entrevista coletiva em Brasília, esta tarde, o presidente da instituição religiosa e arcebispo de Brasília, Dom Sergio da Rocha, destacou que, no texto, o papa Francisco conciliou a crença mística com o rigor científico, embasando sua argumentação em dados de pesquisas recentes e em sua própria fé.
Já o vice-presidente da CNBB, Dom Murilo Krieger, destacou o realismo, a proatividade e a coragem da encíclica. “Esta encíclica aborda a atual situação mundial em termos de meio ambiente, mas não fica apenas nisso, na crítica. Ela aponta caminhos, dá esperança de que é possível mudar a situação. E é corajosa ao propor que é necessário uma mudança de mentalidade”, afirmou.
Na encíclica, entre outras coisas, o Papa Francisco afirma que, além de a sociedade ainda não dispor da “cultura” necessária para enfrentar a crise ambiental, faltam lideranças capazes de apontar novos caminhos para satisfazer as necessidades das gerações atuais, sem prejudicar as gerações futuras.
O Papa é taxativo ao manifestar sua preocupação com a “fraqueza da reação política internacional” ao problema. Segundo ele, a submissão da política à tecnologia e à economia pode ser constatada na “falência” das cúpulas mundiais sobre o meio ambiente, cujos resultados são sempre inferiores às expectativas.
“Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular as informações para não ver afetados seus projetos”, destaca a encíclica.
“Cresceu a sensibilidade ecológica das populações, mas é ainda insuficiente para mudar os hábitos nocivos de consumo, que não parecem diminuir”, diz a nota. “Entretanto, os poderes econômicos continuam a justificar o sistema mundial atual, onde predomina a especulação e a busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente”, destaca.
O subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, divulgou nota em que compara o apelo do papa Francisco por mudanças que detenham a degradação ambiental a um “toque de clarim que ressoa, não só para os católicos, mas para todos os povos da Terra”.
“Não devemos esquecer que os mais pobres e vulneráveis são os que mais sofrem com as mudanças que estamos vivenciando. A gestão ambiental dos seres humanos para o planeta deve reconhecer os interesses, tanto das gerações atuais, como das futuras”, afirma Steiner, reforçando que a busca por respostas aos atuais problemas é um imperativo moral.
“Diante do que sabemos hoje, tanto sobre o estado do nosso planeta quanto sobre as escolhas que podemos fazer, não pode haver dúvidas ante o risco de sofrermos graves consequências. Todos devemos reconhecer a necessidade de reduzir o nosso impacto ambiental, além de consumir e produzir de forma sustentável”, disse o subsecretário-geral da ONU. Ele se mostrou esperançoso de que um acordo sobre o clima, durante a COP-21, traga oportunidades de “alterarmos positivamente o curso da história, criando um mundo melhor e mais justo para todos”.
Por Alex Rodrigues, da Agência Brasil
Publicado no Portal EcoDebate, 19/06/2015
Publicado em junho 19, 2015 por 
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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Contaminação em Paracatu na imprensa de Brasília

A imprensa de Brasília tem dado destaque aos impactos socioambientais da mineração aurífera em Paracatu. A participação da imprensa brasiliense na divulgação desta tragédia ambiental é de grande importância para a resistência, não apenas porque é grande o número de paracatuenses e seus descendentes no Distrito Federal, mas porque lá está o núcleo do poder dirigente da Nação.

Abaixo, apresento aos leitores os links para direcioná-los às matérias de jornal e tv.

Os links abaixo são de matérias publicadas pelo Correio Braziliense, em 27/05/2015, 28/05/2015, 29/05/2015 e 31/05/2015, respectivamente.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/05/27/interna_cidadesdf,484622/ong-internacional-prepara-relatorio-sobre-envenenamento-em-paracatu.shtml



http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/05/29/interna_cidadesdf,484916/com-arsenio-presente-no-corpo-moradores-de-paracatu-recorrem-a-justica.shtml



Os links abaixo são de matérias publicadas pela TV Brasília, em 2/6.

http://www.correioweb.com.br/page/tvbrasilia/#video_316656

www.correioweb.com.br/page/tvbrasilia/#video_316661