Depois de um mês fora de casa, aqui estou de volta à terrinha, por uns breves momentos acertando os ponteiros. Você já reparou que por mais que sua ausência se prolongue, na volta as coisas parecem estar no mesmo lugar? É como novela, você pode perder alguns capítulos sem perder a história, a trama continua enrolada nos mesmos nós.
Paracatu continua como estava, sol causticante em pleno “inverno”, a rua dos supermercados tomada de pessoas e carros; vento soprando a poeira lá de cima; essa secura no ar; cerveja com churrasquinho de maçã-de-peito na porta dos botecos, a feira do sábado deixando lixo espalhado por toda banda; anúncios de festas no final de semana e uma boa quantidade de gente fazendo o que mais gosta: fuxico... e porque estamos em ano eleitoral, fuxicos eleitorais.
Percorro a Olegário Maciel, em vários pontos vejo mocinhas segurando cartazes de candidatos sorridentes, bandeiras dos futuros “representantes do povo”. Uma delas se aproxima, cara bonitinha, e me entrega um volante. A foto do simpatissíssimo candidato (por que será que todo candidato é simpático?) e, no verso, as suas propostas. Ah, como tenho saudade dos tempos em que os partidos tinham propostas diferentes! Agora, misturaram-se alhos e bugalhos, ninguém sabe de que lado eles estão ou se o lugar deles é em cima do muro pra “zoiá” onde tem mais vantagens.
Mas o volante que eu ganhei tinha uma coisa interessante: o tal candidato quer que Paracatu tenha “desenvolvimento sustentável”. Cá pra nós, essa tal de sustentabilidade virou um jargão, coisa que tem servido mais a bandidos do que a mocinhos.
Temos mineradoras sustentáveis despejando arsênio e chumbo no ambiente, agricultura sustentável eliminando o cerrado e despejando agrotóxicos no solo e nas águas, governos sustentáveis passando por cima da lei para favorecer empreendimentos agressivos ao ambiente e até candidatos sustentáveis se beneficiando de convênios com empresas poluidoras; e nós, cidadãos comuns, jogando lixo na praça. Tranqüilo... a gente tem que sustentar o emprego dos garis.
Pois é, existem palavras bonitas, que as pessoas gostam e passam a adotar como princípio, como meta, principalmente porque não se sabe exatamente o que elas significam; no imaginário elas podem nos remeter ao mundo ideal que todos desejamos. Talvez uma vida saudável, equilibrada, uma promessa de que o mundo de nossos filhos e netos será melhor do que o nosso, não é? Que não reste para eles apenas o buraco que estamos cavando...
Ah, essa tal de sustentabilidade!
Nota: Autorizei a publicação deste texto em: http://www.paracatu.net/#colunas&cid=335 e no jornal "O Movimento", ed. 381, de 1 a 15/9/2010.
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