Blog do Professor Márcio

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

RELATÓRIO DA ANVISA MINIMIZA ENVENENAMENTO




Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas


Um agrotóxico fatal para as abelhas foi o mais encontrado em um levantamento do governo que analisa o resíduo de pesticidas em frutas e verduras vendidas em todo país. O resultado da nova edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, o PARA, foi divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na semana passada e mostrou também que em 51% dos testes realizados foi encontrado alguma quantidade de resíduo de agrotóxico nos alimentos.
Na pesquisa, que testou 4.616 amostras de 14 alimentos, o ingrediente ativo Imidacloprido foi o mais encontrado. Ele é um neonicotinoides, um inseticida derivado da nicotina que tem capacidade de se espalhar por todas as partes da planta e, por isso, é fatal para os polinizadores.
Uma reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil revelou em março deste ano que mais de 500 milhões de abelhas morreram em três meses em quatro estados brasileiros. Uma das principais causas das mortes foi justamente o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides, que atingem o sistema nervoso central das abelhas – afetando a capacidade de aprendizagem e memória, fazendo com que muitas delas percam a capacidade de encontrar o caminho de volta para a colmeia.
Ter um agrotóxico fatal para abelhas como o mais encontrado em alimentos é um alerta também para a saúde humana.
Primeiro porque ele acaba sendo consumido pelas pessoas. “Esse tipo de produto que se espalha por toda a planta é muito perigoso, pois lavar o alimento ou descascá-lo não é suficiente para retirar os resíduos de agrotóxico, que já circulam dentro da planta”, explica engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, vice-presidente da regional sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).
Outro problema desse tipo de agrotóxico ser o mais detectado no PARA é que, ao matar abelhas, se prejudica também a produção das lavouras. Isso porque elas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas, promovendo a reprodução de diversas espécies. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização das abelhas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.
No PARA, o Imidacloprido foi encontrado em 713 amostras, ou cerca de 15% de todos os alimentos testados. Oito produtos agrotóxicos à base de Imidacloprido foram autorizados pelo governo de Jair Bolsonaro neste ano, com registros de comercialização indo para as multinacionais estrangeiras Sulphur Mills, Albaugh Agro (dois registros), Helm, Nufarm, Tide e Tradecorp, e para a nacional AllierBrasil.
Na edição anterior do PARA, com análises feitas entre 2013 e 2015, o Imidacloprido havia sido apenas o quinto ingrediente ativo mais encontrado nas amostras. Segundo a Anvisa, não é possível comparar os resultados porque a metodologia de pesquisa mudou — alimentos e períodos de análise agora são diferentes.

Resultados não são positivos

A pedido da Agência Pública e da Repórter Brasil, especialistas de organizações que estudam o tema dos agrotóxicos analisaram o relatório, disponibilizado no site da Anvisa, e afirmaram que os resultados são alarmantes, ao contrário do que fez parecer o tom otimista da divulgação oficial do relatório.
Para Melgarejo, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o relatório acende um alerta. “O número de 23% dos produtos apresentarem agrotóxico acima do permitido é assustador. E os 27% com veneno abaixo do limite não traz tranquilidade”, diz. “Nas definições de limites aceitáveis, é tido como base uma pessoa adulta de 50 quilos. Mas estamos alimentando crianças e bebês com esses mesmos alimentos. Estar abaixo do limite considerado seguro para um adulto de 50 quilos não significa dizer que é seguro para um bebê ou criança.”
Representantes da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida também criticaram o posicionamento da Anvisa em relação ao relatório, qualificado como “roupa bonita para um conteúdo altamente tóxico”. Em nota, a organização diz que apesar do aspecto técnico da publicação, o release divulgado no site da Anvisa é “extremamente otimista”. Segundo eles, o tom é “de uma peça de propaganda política para um relatório que, lido atentamente, traz grandes preocupações para a sociedade.”
A organização completa dizendo que “em um contexto de uso crescente de agrotóxicos ano a ano, e também de aumento sistemático das intoxicações por agrotóxicos, é lamentável ver a Agência que deveria garantir a segurança alimentar da população minimizando resultados gravíssimos sobre as condições da comida servida ao povo brasileiro”.
Para a organização não governamental Greenpeace, a comunicação dos resultados foi “maquiada”. “Os problemas continuam os mesmos, mas a forma otimista que eles divulgaram faz parecer que melhorou, e isso, infelizmente, foi replicado por muitos veículos de imprensa. Ainda temos mais de 50% dos alimentos com alguma quantidade de agrotóxicos. E os 27% com agrotóxicos abaixo do limite são questionáveis, pois esses limites são muito frágeis quando falamos de várias alimentação completas durante o dia, com mistura de alimentos e substâncias, que tem um efeito diferente de um produto isolado”, explica Marina Lacôrte, especialista em Agricultura e Alimentação do Greenpeace.
Criado em 2001, o PARA testou nesta versão 14 produtos da dieta da população brasileira — abacaxi, alface, alho, arroz, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva. As amostras foram recolhidas em estabelecimentos de 77 municípios, entre agosto de 2017 a junho de 2018, ou seja, antes do início do governo de Jair Bolsonaro, no qual 467 produtos agrotóxicos foram liberados em menos de um ano, um recorde histórico.
Do total de amostras analisadas (4.616), em 2.254 (49%) não foram detectados resíduos, 1.290 (28%) apresentaram resíduos com concentrações iguais ou inferiores ao Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela Anvisa. E em 1.072 amostras (23%) foram identificados resíduos acima do permitido, incluindo até mesmo agrotóxicos proibidos de serem comercializados no Brasil.
Em 0,89% — quase um em cada 100 casos —, foi identificado potencialidade para causar riscos agudos à saúde, com efeitos como enjoo, vômito, dor de cabeça e febre nas 24 horas seguintes ao consumo do alimento.
A visão do governo, por meio da Anvisa, é a de que o resultado do relatório é positivo. “Temos situações pontuais de riscos, mas que não geram nenhum risco a saúde da população. Os dados mostram a segurança dos alimentos que a gente consome hoje”, garantiu Bruno Rios, diretor adjunto da Anvisa, em coletiva após a divulgação dos dados.

Análise não identifica todos agrotóxicos permitidos no Brasil

As coletas analisadas no PARA foram feitas pelas vigilâncias sanitárias e encaminhadas para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens): Instituto Octávio Magalhães (IOM/FUNED/MG), Laboratório Central de Goiás (Lacen/GO) e Instituto Adolfo Lutz (IAL/SP); e para um laboratório privado contratado por processo licitatório.
Segundo o relatório, em cada amostra foram pesquisados até 270 ingredientes ativos, número bastante inferior aos 499 permitidos para serem comercializados no Brasil após avaliação da Anvisa, Ministério da Agricultura e Ibama. Foram detectados resíduos de 122 ingredientes ativos diferentes nas 4.616 amostras analisadas, o que resultou no total de 8.270 detecções de agrotóxicos — em muitos casos foram identificados mais de um tipo de pesticida em um só alimento, mas a Anvisa não especifica quais em seu relatório.
Depois do Imidacloprido, citado no início da reportagem, os ingredientes ativos mais encontrados foram os fungicidas Tebuconazol (570) e o Carbendazim (526) — este último proibido na União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Japão por causar problemas mutagênicos e de toxicidade reprodutiva. Em 2012, os EUA proibiram a importação do suco de laranja brasileiro devido à presença deste fungicida nos produtos.
Entre os 40 ingredientes ativos mais encontrados há o Carbofurano, um produto proibido no Brasil, identificado 52 vezes na atual pesquisa — na edição 2013-2015, o Carbofurano aparecia entre os 30 ingredientes ativos mais encontrados.
Em outubro de 2017, dois meses após o começo das análises, a Anvisa desautorizou a comercialização de agrotóxicos à base de Carbofurano justamente pela persistência de seus resíduos nos alimentos, além de malefícios à saúde humana. Ele também é classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como altamente tóxico do ponto de vista agudo — a que causaria intoxicação nas 24 horas seguidas ao consumo.
De acordo com a Anvisa, a presença de agrotóxicos não autorizados nas análises tem como um dos motivos os poucos registros para culturas consideradas de baixo retorno econômico. Por isso, muitos produtores acabam utilizando agrotóxicos autorizados para uma cultura específica – soja, por exemplo, em outras culturas, caso da uva.

Laranja, goiaba e uva: os três com mais agrotóxicos

Entre os alimentos testados, a laranja foi a que mais apresentou resíduos de agrotóxicos. De 382 análises, apenas 157 não apresentaram vestígios de pesticidas, 173 apresentaram resíduos em concentrações iguais ou inferiores ao permitido pela lei e em 52 casos os níveis de agrotóxico encontrados estavam acima do permitido.

Foram encontrados 47 agrotóxicos diferentes nas laranjas vendidas em supermercados brasileiros, que incluiu até mesmo resíduos de Carbofurano, proibido no Brasil. O mais encontrado na fruta foi o Imidacloprido. Na laranja também foi encontrado a maior exposição para risco agudo. Depois da laranja, a goiaba e a uva foram os alimentos que mais apresentaram riscos agudos.
– No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana, 60% dependem da polinização das abelhas –

Nova metodologia é criticada

Até 2012, os resultados do PARA eram lançados anualmente. Desde então, optou-se por divulgar o relatório compilado de três anos. O último foi divulgado em 2016, com dados de 2013 a 2015. Não houve coletas em 2016, por conta de uma reestruturação no projeto, que só voltou à ativa no segundo semestre de 2017.
Na edição anterior, onde foram analisadas 12.051 amostras em três anos, o percentual de alimentos com agrotóxicos acima do permitido pela lei era de 19,7%, menos do que o atual.

Além disso, até 2015, o PARA trabalhava com uma lista de 25 alimentos a serem analisados, que representavam 70% da cesta de alimentos de origem vegetal consumidos pela população brasileira, segundo dados brutos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2008-2009, que traça o perfil de orçamento doméstico e condição de vida da população brasileira. Agora, a partir da reestruturação, o número de alimentos foi ampliado para 36, mas nem todos os alimentos escolhidos serão analisados anualmente, pois as análises vão variar dentro de cada triênio. Nesta edição, por exemplo, apenas 14 foram analisados, e alimentos como o feijão e a batata ficaram de fora, mas devem entrar nas próximas edições.
A rotatividade é criticada por especialistas da área. “Produtos muito importantes, que estão no prato do brasileiro, não aparecem no resultado. O trigo que vai no pãozinho do dia a dia, o feijão que é um ingrediente tradicional no prato brasileiro. Não é uma boa ideia a Anvisa fracionar as análises para períodos específicos, quando a população consome esses produtos durante todo o ano”, explica o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo.
Marina Lacôrte, do Greenpeace, também criticou o baixo número de alimentos apresentados. “Esses dados têm que ser avaliados todo o ano, pois há safras todos os anos. Eles argumentam que essas alterações ocorrem por questões financeiras, mas esse é um investimento necessário que o governo deve fazer: a saúde da população. Se o problema é financeiro então que se retire a isenção de impostos para os agrotóxicos, e utilizem esses impostos para bancar programas como esse”, diz.
Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de Agrotóxicos no Brasil. A cobertura completa está no site do projeto.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019

Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/agrotoxico-mais-encontrado-em-frutas-e-verduras-no-brasil-e-fatal-para-abelhas/.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PROJETO MINERÁRIO CHINÊS NO NORTE DE MINAS

A reportagem é de Léo Rodrigues, publicada por Agência Brasil, 03-12-2019.
Em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública com objetivo de impedir a continuidade do processo de licenciamento ambiental de um empreendimento minerário a ser instalado no norte de Minas Gerais. Trata-se de um projeto conduzido pela empresa de capital chinês Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da Honbridge Holdings.
Originalmente chamado Projeto Salinas, depois Projeto Vale do Rio Pardo e atualmente de Projeto Bloco 8, o empreendimento prevê a instalação de um complexo minerário para explorar jazidas nos municípios mineiros de Grão Mogol e Padre Carvalho. É prevista a construção de barragens de rejeitos, uma usina de beneficiamento de minério e um mineroduto de 480 quilômetros que atravessaria 21 cidades e chegaria até Ilhéus, no litoral baiano. A previsão é que sejam produzidas anualmente 30 milhões de toneladas de minério.
Para o MPF e o MPMG, houve fracionamento indevido no processo de licenciamento. Dessa forma, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais (Semad) agiriam de forma ilegal se a análise prosseguisse. Em nota divulgada conjuntamente, as duas instituições judiciais revelam ainda preocupação com as dimensões do projeto.
“Por se tratar de minério com baixo teor de ferro (20%), haverá a remoção de milhões de toneladas de material estéril, sem valor comercial, que serão depositados em três reservatórios. O maior deles, localizado na cabeceira do Córrego Lamarão, terá capacidade para 1,3 bilhão de metros cúbicos de rejeitos. Os outros dois teriam 524 milhões de metros cúbicos e 168 milhões de metros cúbicos, totalizando 2,4 bilhões de metros cúbicos, registra o texto divulgado pelo MPF e pelo MPMG.
Os reservatórios previstos no projeto são bem maiores do que as barragens envolvidas nas tragédias que ocorreram em Minas Gerais nos últimos anos. A estrutura da Samarco, que se rompeu em 2015 no município de Mariana, causando 19 mortes, tinha capacidade para 56 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos. Já a barragem da Vale localizada em Brumadinho, cujo rompimento provocou mais de 250 mortes em janeiro de ano, poderia armazenar até 12 milhões de m³.

Licenciamento

De acordo com o MPF e o MPMG, o empreendimento já tinha sido considerado inviável pelo Ibama em 2016. O Ibama reprovou a instalação do projeto após avaliar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pelas empresas. “De lá para cá, os empreendedores, ao invés de reformular o projeto, adequando-o às exigências ambientais, insistiram com a mesma concepção. Diante da resistência dos órgãos técnicos do Ibama, optaram por um desmembramento que só existe no papel”, afirmam o MPF e o MPMG. Para os dois órgãos, trata-se de uma manobra para driblar a legislação federal e estadual.
Em 10 de outubro de 2017, a Semad chegou a enviar ofício ao Ibama levantando a possibilidade de transferir o licenciamento da mina para a esfera estadual, ficando o órgão federal responsável apenas pela avaliação do licenciamento do mineroduto. A ideia foi descartada. O Ibama reafirmou sua competência para analisar todo o processo já que o empreendimento alcança dois estados da federação e a separação impediria uma avaliação integrada dos efeitos do projeto.
Após a negativa, a SAM requereu o cancelamento e arquivamento do pedido de licenciamento em 14 de novembro de 2017. Porém, de acordo com o MPF e o MPMG, a empresa reapresentou à Semad na semana seguinte a solicitação trocando o nome do empreendimento para Projeto Bloco 8. O mineroduto que chegaria até a Bahia foi excluído no novo pedido.
“Essa exclusão, no entanto, só existiu no papel. Em agosto de 2018, durante reunião realizada com o MPMG, a empresa confirmou que o empreendimento continuará funcionando em conjunto com o mineroduto, do qual é dependente, e que a alteração se deve unicamente ao fato de que outra empresa ficará responsável por sua instalação e operação. Acontece que esta outra empresa, Lotus Brasil Comércio e Logística, foi criada pela própria SAM em 13 de novembro de 2017, portanto, uma semana antes do pedido de licenciamento do mineroduto como empreendimento independente”, denunciam o MPF e o MPMG.

Recomendação

Apontando violação de leis federais e estaduais, o Ministério Público de Minas Gerais chegou a expedir recomendação ao governo mineiro para que arquivasse o processo. A Semad respondeu dizendo que não acataria o pedido, justificando que a mina e o mineroduto seriam operados por empresas distintas. Em 26 de julho de 2019, o Ibama também se manifestou autorizando o prosseguimento da análise do órgão mineiro.
Na ação movida, o MPF e o MPMG sustentam que o argumento é improcedente, já que ambas as empresas pertencem ao mesmo grupo e atuam conjuntamente. Dessa forma, a prerrogativa da análise seria do Ibama, que também é criticado no processo por adotar posição que estaria contrariando pareceres internos de sua própria equipe técnica.
Procurada pela Agência Brasil, a Semad informou que ainda não foi notificada da ação e não teve acesso aos argumentos apresentados pelo MPF. Já o Ibama argumentou, em nota, que não se trata de fracionamento do licenciamento, pois a mina e o mineroduto seriam dois empreendimentos distintos. Assim, a avaliação ambiental conjunta não poderia ser imposta pelo órgão federal. “A competência para licenciamento do empreendimento minerário é originalmente do estado, enquanto o mineroduto, que passa por nove municípios em Minas Gerais e 12 na Bahia, deve ser conduzido necessariamente pelo Ibama”, acrescenta o texto divulgado.
Ainda segundo o órgão federal, o empreendedor é responsável pela avaliação dos riscos e benefícios de eventual interdependência econômica entre os projetos. “O porte dos empreendimentos torna necessária a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental em ambos os casos, o que assegura a análise de eventuais efeitos cumulativos e sinérgicos”, sustenta o Ibama. A Agência Brasil também tentou contato com a mineradora, mas não obteve retorno.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

POSICIONAMENTO DO PAPA NO SÍNODO DA AMAZÔNIA

Na missa de encerramento do Sínodo da Amazônia, neste domingo (27/10) no Vaticano, Papa Francisco mirou seu sermão na política predatória do governo brasileiro na região. Em mea culpa, referindo-se à atuação da própria Igreja na doutrinação de indígenas durante o processo de colonização do Brasil, o pontífice disse que “os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e a nossa irmã terra: vimos isso no rosto desfigurado da Amazônia”.
“Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, cancela suas histórias, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens”, disse o papa, em uma crítica direta às políticas que têm a pretensão de incluir indígenas na chamada “cultura judaico-cristã”.
Em trecho improvisado, o papa ainda criticou a pretensa superioridade com que os governantes tratam os povos nativos da Amazônia.
“Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, ainda hoje! Vimos isso no Sínodo quando falamos sobre a exploração da Criação, das pessoas, dos habitantes da Amazônia, do tráfico de pessoas e do comércio de pessoas!”, afirmou.
A missa, na Basílica de São Pedro, encerrou as três semanas da assembleia do sínodo. No sábado, foi divulgado um documento de 33 páginas, com propostas como a ordenação de homens casados para atuar na Amazônia, a criação do “pecado ecológico”, o respeito à religiosidade não cristã indígena e o estabelecimento de um “observatório pastoral socioambiental”.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ASSANGE, HERÓI MODERNO


O pai de Julian Assange, John Shipton, deu uma entrevista para a Strategic Culture Foundation, durante visita a vários países europeus, incluindo a Rússia, na qual buscava chamar a atenção pública sobre a perseguição a Julian Assange por parte das autoridades britânicas, por seu papel como responsável pelos vazamentos de informações que eram segredos de Estado de vários países através do portal WikiLeaks.
Poucas figuras da imprensa mundial podem se orgulhar de ter realizado uma transformação na política internacional e no panorama global dos meios de comunicação. Poderíamos dizer que Julian Assange, jornalista, ativista e fundador do site de denúncias WikiLeaks (2006), se encontra em um nível superior, no das pessoas que mudaram o mundo na última década.
Assange nasceu na Austrália e já foi premiado e elogiado por seu jornalismo que expõe crimes massivos, corrupção e intrigas nefastas, especialmente por parte do governo dos Estados Unidos, e também dos seus aliados ocidentais.
Uma das exposições mais impactantes do WikiLeaks foi o vídeo “Assassinato colateral” (2010) que mostrava os tiroteios mortais massivos e indiscriminados por parte das tropas estadunidenses no Iraque. O WikiLeaks também revelou crimes de guerra similares cometidos por tropas estadunidenses no Afeganistão. A chamada “guerra contra o terror” dos Estados Unidos e da OTAN foi exposta como uma fraude e um crime gigantesco contra a humanidade.

Na seguinte entrevista, John Shipton conta como ele tem encontrado um grande apoio público para Julian, de pessoas que exigem sus liberdade. Entre esses apoios estão figuras destacadas figuras como o conhecido jornalista John Pilger, o filósofo e escritor Noam Chomsky, o cantor e compositor do Pink Floyd Roger Waters e a valente atriz Pamela Anderson.
Pergunta: Pode descrever as condições atuais de Julian na prisão, e seu estado de saúde?
John Shipton: Julian já perdeu 15 quilos, está recluído no hospital da prisão de segurança máxima e passa 22 horas por dia em regime de isolamento. Nils Melzer, que é relator especial das Nações Unidas sobre a tortura, o visitou acompanhado de dois especialistas, e fizeram um informe que denuncia a situação de Julian, mostrando os efeitos da tortura física e mental. Desde a visita de Nils, em maio de 2019, Julian continua perdendo peso, e vivendo sob condições que o informe descreve como “profundamente angustiantes”.
As autoridades permitiram a você ter um contato restrito com o seu filho na prisão. Isso é correto?
Julian pode receber duas visitas sociais por mês, de não mais de duas horas. Minha primeira visita foi bastante constrangedora. Eu fiquei sentado numa sala de reuniões junto com outros prisioneiros durante 46 minutos, e após reclamar da demora me disseram que eu não poderia encontrar o Julian. Alguns minutos depois, e após mais reclamações, eles o trouxeram. Porém, minha segunda foi simplesmente cancelada.
Julian também tem um contato bastante limitado com seus advogados, o que afeta a preparação da sua defesa no caso da extradição.
Sim, é um obstáculo bastante severo, porque ele foi classificado como prisioneiro de máxima importância em Grau B, o que significa prisão em confinamento solitário, sem acesso a computadores ou uma biblioteca. Suponho que a biblioteca da prisão não tem livros sobre direito penal.
Em setembro, uma juíza britânica determinou que a detenção de Julian na prisão de segurança máxima de Belmarsh se estenderá indefinidamente, apesar de que ele deveria ter direito a ficar em liberdade, após cumprir a condenação por infração da fiança de 2012. Qual a sua visão sobre essa decisão da Justiça britânica.
A juíza apresentou sua própria oferta de liberdade sob fiança para Julian, que a rejeitou as condições estabelecidas. Em resumo, se usou a expressão de que “é provável que se escape”. Julian já participou em acordos legais de asilo baseados em tratados dos quais o Reino Unido é signatário, e que são respaldados pelas mais importantes entidades internacionais. Também já se ofereceu diversas vezes para ser entrevistado sobre a acusação de delito sexual e inclusive para viajar à Suécia, desde que exista uma garantia de não extradição posterior aos Estados Unidos. As ofertas de liberdade condicional não vêm de hoje, ele as recebe desde o período na Embaixada do Equador, mas são produto de uma colaboração entre promotores britânicos e suecos, e revelaram uma cooperação entre esses países que é irregular e que atropela o devido processo.
A promotoria sueca tem quatro profissionais trabalhando no caso, já conseguiu duas entrevistas com ele (em 2010 na Suécia, e em 2017 na Embaixada do Equador em Londres), e não são capazes de concluir um processo que já dura nove anos. O projeto de levar o homem à Lua durou oito anos, menos que isso. Esta é a malícia judicial que utilizam contra Julian.
Quais são suas preocupações sobre o que poderia acontecer com seu filho se for extraditado aos Estados Unidos, onde enfrentaria processos por violar a Lei de Espionagem?
Eles pretendem assassinar o Julian de uma ou outra forma.
O que você diria aos políticos e figuras midiáticas, como Meghan McCain, filha do falecido senador estadunidense John McCain, que denuncia Julian como um “ciberterrorista”?
O pior de todos é o candidato Joe Biden, presidenciável do Partido Democrata estadunidense, que é um imbecil e sem vergonha. Primeiro, ele disse que Julian deveria ser enquadrado na Lei Patriota e condenado como terrorista, o que significa que ele poderia ser assassinado extrajudicialmente. Os imbecis que repetem e repetem frases sem sentido fazem eco de outras bobagens que convencem os cabeça de bolha. Todos esses imbecis estão horrorizados e aterrorizados pela verdade e pelos fatos que todos podem ver e ler em WikiLeaks.
Está orgulhoso do trabalho do seu filho como jornalista e denunciante? O que você considera como o principal objetivo alcançado por seu trabalho?
As façanhas de Julian são muitas. Nos cabos diplomáticos que ele revelou, podemos ver como o mundo geopolítico está composto e disposto por pessoas vis, e podemos entender os Estados Unidos atuam para conseguir o que querem. Milhões de pessoas e comunidades se beneficiam com o WikiLeaks bastante, porque é um meio que mostra a verdade. Julian Assange e WikiLeaks são necessários no mundo atual.
Crimes de guerra revelados, práticas sórdidas, chantagem e suborno, sete países destruídos, milhões de mortos, rios de sangre e milhões de desamparados e deslocados de suas regiões destruídas pelas guerras. Entretanto, só Julian Assange e Chelsea Manning, ambos inocentes, são os que apodrecem na prisão.
Considera que o tratamento de Julian por parte das autoridades britânicas e estadunidenses são uma grave advertência a todos os cidadãos sobre o perigo ao seu direito à liberdade de expressão e aos meios independentes?
Sim, uma advertência sombria. Um “cale-se, ou será embargado”. Que imprensa hoje é livre? Os meios de comunicação de fala inglesa são homogêneos em seus truques e prevaricações, em suas mentiras banais. Os motores de busca populares da Internet desviam a consulta aos amigos corporativos. A corporação Facebook é a encarnação da avareza. Todas estas entidades podem ser simplesmente reguladas. Os estados nacionais têm poderes, mas não fazem nada além de salivar sobre o acesso aos dados que geramos… nossos dados.
Julian Assange e Chelsea Manning são vítimas da violência estatal opressora contra as revelações da assombrosa corrupção e criminalidade.
Muitos escritores, comentaristas e cineastas, pessoas talentosas e valentes, travam uma luta furiosa nos meios de comunicação e blogs alternativos. Agradecemos esses homens e mulheres, porque todos sabem, intimamente, que não há um monstro mais frio que o estado norte-americano e seus aliados.
O primeiro-ministro Scott Morrison e o governo de Canberra se negaram a apelar pela liberação de Julian, apesar dele ser cidadão australiano. Como você vê a falta de resposta do governo australiano no caso? Por que estão aparentemente abandonados? Por exemplo, Morrison tampouco falou sobre Assange em seu encontro com Donald Trump. Por que você acha que o primeiro-ministro está atuando com tanta indiferença, e deferência para com os Estados Unidos?
O governo australiano é cúmplice. Mais que cúmplice, já que o silêncio indica uma participação combinada. A única exceção notável nesse sentido é a da ex-ministra de Relações Exteriores da Austrália, Julie Bishop, que tem nos apoiado.
Você tem esperanças de que Julian seja libertado num futuro próximo? Quão importantes tem sido, para o espírito de Julian, o apoio público manifestado por figuras como John Pilger, Noam Chomsky, Roger Waters e Pamela Anderson, e de milhões de pessoas em todo o mundo?
Para o espírito de Julian, amigos e simpatizantes são o alfa e o ômega da vida

domingo, 1 de setembro de 2019

DOMINGO IMPERFEITO

Márcio José dos Santos

Acordei com a cabeça naquelas coisas que o dia-a-dia tem, uma rotina de fazer café e depois oração, antes que a Secretária chegue para realizar suas tarefas costumeiras nos cuidados da casa.  Prefiro levantar mais cedo e começar assim o dia, porque as primeiras horas da manhã me proporcionam calma para começar bem o dia, e nada melhor que tomar um café sem pressa e fazer uma oração sem testemunhas.
Mas a Secretária não chegou, e ela não é daquelas pessoas que não se pode contar. Se não chegou, algo maior aconteceu. Na casa dela tem uma criança no segundo mês de vida, com suas dores de barriga, suas noites de choro, enfim, há sempre a possibilidade de uma emergência médica. Coitada da Secretária, com certeza não pode vir, lutando para resolver esses problemas da família, mas enquanto isso vou fazer minhas obrigações...
Pensei nos dois amigos que marcaram uma reunião em minha casa, às 8 horas da manhã, e eles certamente virão. Aproveitei para dar uma vista nas minhas caixas de mensagem e vigiava o relógio. As 8 horas passaram, mas eu insistia que os amigos estariam para chegar. Bem, vou cuidar de outros afazeres, lavar aquela sujeira que fiz no carro... e fiquei muitos minutos lavando a crosta de caldo seco que ontem foi entornado de uma panela. Meus amigos não chegaram, pensei “olha logicamente eles vão passar daqui a pouco”. Lá iam as 9 horas, daí já eram 9:30, “nossa mãe, eu tenho que fazer ginástica, hoje é segunda-feira, tenho que fazer exercícios três vezes por semana, é um compromisso que tenho comigo, se eu faltar hoje, amanhã ficará difícil”.
Troquei de roupa rapidamente e fui para a Academia de Ginástica. Estacionei na rua da Academia, em frente a uma oficina de móveis. Estranhei, a oficina estava fechada, mas o carro do proprietário estava estacionado sobre a calçada; além disso, parecia que um senhor ali parado estava esperando abrir a oficina, porque tinha um carro no lado contrário da rua, cheio de tábuas e móveis.  
Caminhei rápido para a Academia, uns 100 metros rua acima.  Surpresa, a Academia também estava fechada. Andei para um lado e outro, espiei lá dentro, não tinha nenhum aviso de fechamento. Por que uma academia de ginástica fecharia em plena segunda-feira? Um aviso seria obrigatório: estamos fechados por isso ou por aquilo!
Uma ideia surgiu forte como um raio: Quem sabe é luto, meu Deus?
Sim, a ideia de luto cresceu. Uma semana atrás eu me encontrei com o Sr. Meu Amigo na Academia. Apoiado em uma bengala, ele me pareceu muito frágil. Depois de me abraçar carinhosamente e me apresentar aos funcionários, confessou: Eu queria ter 25 anos, sabe para quê? Para continuar mandando! Mas agora, os filhos mandam e eu tenho que aceitar. Fiz um investimento enorme aqui, mas lá em Brasília, de cada dez academias que abrem, oito fecham.
Trocamos abraços, elogios recíprocos, e o Sr. Meu Amigo falou ao sair: Gosto muito de você! Ao que eu respondi: Também gosto muito de você, é grande minha admiração; você é uma referência de gente honesta e trabalhadora!
É isso, estava convicto, é luto, o Sr. Meu Amigo morreu e a Academia não teve tempo de avisar. Graças a Deus que pudemos nos despedir há poucos dias!
Sem alternativa, melhor retornar para casa. Peguei o carro e contornei a quadra, entrei na avenida Olegário Maciel e logo estava passando em frente à Igreja Universal. Muita gente ali. Será que o Sr. Meu Amigo mudou de religião e entrou para a Igreja Universal; ora, tem muita gente passando para igrejas evangélicas não é?
Continuei o percurso com esses pensamentos cruzados e observei que havia muitas lojas fechadas na avenida. Ora, o problema não deve ser com o Sr. Meu Amigo, deve ser com o Prefeito. Será que é o Prefeito? Quem sabe aconteceu alguma coisa com ele, pode ter morrido, deram feriado municipal, luto municipal e está tudo fechado. Segui assim, cheguei até ao semáforo perto da Prefeitura e vi que ela estava fechada. Conclusão óbvia: é o Prefeito! O que será que aconteceu com ele?
Entrei na Rua Santiago Dantas e minha atenção voltou-se para o prédio do curso de inglês Number One, confirmando minhas graves suposições: a porta estava descerrada. Para o Number One fechar, mãe do céu! o caso é grave de morte.
Descendo a rua, vi pessoas vestidas melhor do que o usual, andando devagar, assim como quem vai a um funeral. Pensei em desviar o roteiro, passar na casa da Secretária, para saber por que não foi trabalhar, se a criancinha recém-nascida estaria passando mal.
Mas sou muito materialista, meu espírito só fica tranquilo quando meu estômago está em paz; por isso, resolvi passar no supermercado, comprar alguma coisa para o almoço. Foi quando me lembrei de ligar para uma enteada, ela e o marido são antenados, sempre plugados nas redes sociais e, certamente, saberia me dizer o que se passava na cidade.
– Olá, bom dia, estou perdendo alguma coisa?
- O queeeê?
- Por que o Number One está fechado?
- Não estou entendendo, Márcio...
- Aquela porta de aço, a porta que fecha a entrada do prédio do Number One está fechada.
Ela repetiu o que tinha falado, e eu também.
- O Number One está fechado. Vocês não estão trabalhando. Aliás, quase todas as lojas da cidade estão fechadas. O que aconteceu?
- Uai, Márcio, hoje é domingo!
Aí caiu a ficha. Gente, eu tô pirado!
Ficamos uns bons minutos conversando, muita gargalhada. Ouvi pelo telefone as risadas do marido, e ela me contou um caso de esquecimento dele, do dia em que ele acordou em um domingo, assustado porque estava atrasado para a aula.
Fazia as compras, parado na fila do açougue, e pensava uma explicação para a minha confusão, e me veio à cabeça que havia poucos dias eu estava nessa fila com a namorada, planejando um churrasco feito em casa. Será que minha cabeça anda assim, meio perdida, porque perdi a namorada? Pode ser, nossos domingos eram pacatos, mas alegres: eu cuidava do almoço e ela selecionava as músicas, punha cerveja e vinho nos copos e repartia em pedacinhos os queijos que eram reservados para esse momento especial. Eram domingos previsíveis – as caminhadas nas ruas da cidade, um copo de garapa na Feirinha do Santana, o almoço que se estendia por horas, entre músicas de rock nacional e trocas de carinho.
Deve ser isso, perdi a namorada e ando trocando as coisas; pulei o domingo e me joguei na segunda-feira para não ter que amargar doces lembranças!
Na hora de passar no caixa, vi que tinha esquecido o cartão de crédito dentro do carro. Falei pra moça, olha me dá um tempo aí, esqueci meus documentos no carro. Fui e voltei correndo, é preciso colocar cada coisa no seu lugar. A minha vida mudou, estou muito esquecido, trocando um dia pelo outro... e em cada detalhe do cotidiano lá está a ex-namorada.
Entrei no carro e saí do estacionamento. O movimento nas ruas era grande, mas não tinha nada de segunda-feira, não havia agitação e os pedestres pareciam retornar de rezas dominicais, e não de funerais. No som do carro, uma música de Kenny Rogers & Bee Gees - You and I. Sou apaixonado por essa versão fantástica, esses ícones da música, e a letra fala de um amor profundo, um amor que viverá até o oceano se transformar em areia.
No better love will be there
When you turn around
I'll be living for you till the ocean turns to sand

Dirigi para casa ouvindo You and I, não para uma segunda-feira de trabalho, mas para um domingo vazio. Uma leve tristeza zombava de mim, querendo me dizer que meu oceano se transformara em areia: será que é porque perdi a namorada?