A gente passa anos preso ao nosso estreito mundo, trabalhando como se a vida tivesse que se resumir nisto, quando muito fazendo planos de passear nas férias em alguma praia poluída e superlotada. É, parece que isto é o máximo! Porém, de uns tempos para cá larguei esse sonho besta de mineiro e decidi conhecer o meu Estado natal e cada dia mais me surpreendo com a diversidade e a beleza do interior de Minas Gerais.
Acho que poucos dos meus leitores terão ouvido falar de Inhotim. Interessante, tem gente vindo do exterior para conhecer esse fabuloso local e nós, mineiros, o ignoramos.
Inhotim é um centro de arte contemporânea (vou chamá-lo de parque), idealizado por um empresário milionário – Bernardo Paz – há uns 25 anos. A instituição é privada, mas sem fins lucrativos. Fica a 3 km de Brumadinho e a cerca de 60 km de Belo Horizonte. Localiza-se numa região de mineração, mas tem a sua área rigorosamente cuidada sob o aspecto ecológico, com um projeto botânico-paisagístico sugerido por Roberto Burle Marx incrustado na mata nativa. Ali o meio ambiente convive em interação com a arte, e ambos formam uma base para o desenvolvimento de pesquisa, inovação científica e educação.
Desde que a mídia tem veiculado matérias sobre o lugar e sua arte, milhares de pessoas têm acorrido a Inhotim.
Pasme, no dia da minha visita jogaram Atlético e Cruzeiro, era véspera do Dia da Criança, mas lá deveria haver mais de 10 mil pessoas. Estimo isto pela quantidade de carros estacionados, embora o parque seja tão grande que parecia estar quase vazio.
Na entrada, a gente logo se impressiona com o acervo botânico, especialmente a variedade de palmeiras. Ali está uma das maiores coleções botânicas do mundo, misturando espécies nativas, espécies tropicais raras e uma reserva florestal que faz parte do bioma da Mata Atlântica. Entre as coleções botânicas, destacam-se as de Aráceas (antúrio, copo-de-leite, comigo-ninguém-pode etc.) e a de Orquídeas do tipo Vanda.
A entrada custa R$25,00 (terça e quinta), é gratuita na quarta-feira (exceto feriado), mas vale R$40,00 de sexta a domingo e também nos feriados. A meia-entrada é para crianças de 6 a 12 anos, idosos acima de 60 anos, estudantes
identificados, professores das redes formais pública e privada de ensino
identificados, É baratíssima!
Para ter mais informações sobre visitas consulte http://www.inhotim.org.br/.
Alguém já chamou Inhotim de “um pedacinho do céu”, e não está longe daquilo que muitos imaginam o céu: um lugar prazeroso, que encanta os olhos e amaina o espírito. A recepção dos funcionários é primorosa, os banheiros são do tipo hotel cinco estrelas, existem boas lanchonetes, um restaurante internacional e, se você, precisar, eles lhe oferecem guarda-chuva e carrinho de bebê. Tudo é preparado para que você passe o dia admirando arte e paisagem, pássaros cantando, cisnes nos lagos e se refresque à sombra de frondosas árvores.
As obras de arte contemporânea estão espalhadas em luxuosos e amplos pavilhões, com indicação de cerca de 500 obras de mais de 100 artistas, brasileiros e estrangeiros, promovendo assim livre trânsito entre a arte produzida no Brasil e no exterior. Você não consegue ver todas em um dia. Nós, brasileiros, de modo geral não temos contato com a arte contemporânea, de maneira que elas precisam ser vistas sem pressa, ou você vai achar uma coisa simplesmente sem graça e sem sentido.
Caminhando entre as árvores, você também se deparará com obras expostas a céu aberto. A arte contemporânea não é um produto acabado, ela tenta de alguma maneira interagir com o observador. Dê uma de mineiro, puxe uma palha, coce a cabeça e fique imaginando o que é aquilo à sua frente, ou o que significa aquele bote virado de borco, pendurado no galho de uma árvore.
No momento, a arte que mais atrai visitantes é um furo de sonda de mais de 200 metros, no fundo do qual foram colocados microfones que captam as vibrações sonoras da Terra. Essas vibrações são amplificadas no ambiente e produzem um barulho parecido com aquele dos monges budistas repetindo os seus mantras. Para mim, que sou geólogo, foi como se eu tivesse ouvido a voz do planeta repetindo o seu interminável e poderoso mantra: cuiiiiidemdeeemiiin! Mas vou avisando, talvez você possa se decepcionar: antes de entrar nesse “templo da Terra”, cruzei com três rapazes e um deles dizia: - Nunca vi coisa mais sem graça!
Pois é, ainda não estamos preparados para a arte contemporânea. O conhecimento artístico apóia-se na sensibilidade. Ah, sensibilidade... nem todos nascem com ela; mas podemos desenvolvê-la através da educação. Enquanto vamos engolindo enlatados culturais aqui despejados pelo sistema capitalista, a sensibilidade permanece embotada, brutalizada.
Por isto mesmo Inhotim é importante, pelo seu trabalho sócio-educativo. Ali está a maior coleção de arte contemporânea do mundo e uma das paisagens mais belas do Brasil, simplesmente ali, na nossa Minas Gerais. Fiquei emocionado ao ver tantos pais levando os seus filhos, oferecendo como presente do Dia das Crianças um passeio cultural onde eles podem aprender e expandir seus horizontes.
Inhotim não é um lugar para uma visita solitária, vá com alguém ou com uma turma. Você desfrutará um momento mágico, maravilhoso.
3 comentários:
Professor vamos organizar uma viagem pra lá, AMEI!
Professor vamos organizar uma viagem pra lá, AMEI!
Uma excelente visita, Malu, para a turma de Arquitetura da Faculdade Tecsoma. Aproveitem para conhecer as obras de Niemeyer na Pampulha.
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