Blog do Professor Márcio

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Busca da Felicidade - O Caminho do Meio (4ª Parte)

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Tudo o que somos é resultado do que temos pensado (criação mental). Se um homem fala ou age com uma mente impura, o sofrimento acompanha-o tão perto como a roda segue a pata do boi que puxa o carro.
Se o homem fala ou age com a mente pura, a felicidade o acompanha como sua sombra inseparável." (Dhammapada 1-2.)


Iniciamos nosso estudo com a constatação da existência do sofrimento e da insatisfação devido à desarmonia entre o eu pessoal condicionado e o mundo real não-condicionado, encontramos sua causa no desejo ou ambição e vimos que é possível promover a cessação do sofrimento e da insatisfatoriedade pela erradicação do desejo. Mas, qual o caminho, qual o método para conseguir este objetivo?

Tendo experimentado os extremos do prazer e do sofrimento físicos e reconhecendo a inutilidade deles, Buda descobriu por experiência própria o Caminho do Meio que condensa o espírito da moral budista, conhecido como Caminho Óctuplo. São oito atitudes que devem ser seguidas no dia-a-dia, instrumentos práticos para uma vida equilibrada, poderosas forças morais e mentais, e não há nelas nada de místico. A finalidade destes oito fatores é facilitar o aperfeiçoamento dos três elementos essenciais no treinamento da disciplina budista, que são: Conduta ética: Moralidade; Disciplina mental: Concentração e Meditação e Introspecção: Sabedoria.

A “Conduta Ética: Moralidade” é baseada na ampla concepção de amor universal e compaixão para com todos os seres; não somente os humanos, mas todos os seres vivos. Para desenvolvê-la são necessárias três atitudes: Palavra Correta, Ação Correta e Meio de Vida Correto.

1°) PALAVRA CORRETA, ou linguagem pura, é a que traduz honestidade, verdade, paz, carinho; que é cortês, agradável, benéfica, útil, moderada e sensível. Você deve apenas falar a verdade e fomentar conversas que causem harmonia e progresso. Deve conversar produtivamente, usando palavras leves, elogiosas e construtivas. Significa abstenção das mentiras, difamação, calúnia e de todas as palavras capazes de provocar ódio, inimizade, desunião e desarmonia entre indivíduos ou grupos sociais. A palavra correta é dirigida pelo pensamento correto e ação correta.

"Melhor que mil palavras sem sentido, é uma só palavra sensata, capaz de trazer paz àquele que a ouve." (Dhammapada 100.)

2.°) AÇÃO CORRETA, ou conduta pura, tem por fim cultivar uma conduta moral honrada e pacífica e ajudar os outros na mesma finalidade. Suas ações devem preservar os seres vivos - homens, animais e vegetais. Você deve pegar apenas aquilo que lhe pertence. Deve ser fiel ao companheiro amoroso. Deve ingerir apenas alimentos e bebidas que façam bem à sua saúde e não fazer uso de tóxicos que perturbam a mente, ou fazem perder a consciência. A ação correta é dirigida pelo pensamento correto.

3.°) MEIO DE VIDA CORRETO, ou meios de existência puros, conduzem o indivíduo à aquisição do bem-estar material e espiritual próprio, ajudando os demais na mesma finalidade. Significa que se deverá evitar ganhar a vida numa profissão ou ocupação que possa ser nociva a outros seres vivos, sejam homens ou animais. O meio de vida correto é dirigido pelo pensamento correto.

Quaisquer sistemas de moral e ética estão enquadrados nesses três aspectos: palavra correta, ação correta e meio de vida correto. Sem esses três fatores, nenhum desenvolvimento espiritual será possível.

A “Disciplina Mental: Concentração” compreende os três seguintes fatores do Caminho Óctuplo: Esforço Correto, Plena Atenção ou Vigilância Correta e Concentração Correta, por meio dos quais se alcança o desenvolvimento mental e a visão interior (intuitiva).

4.°) ESFORÇO CORRETO, ou aplicação pura, é a arma que possuímos para enfrentar corretamente a luta contra o mal. Consta do seguinte: esforço de evitar e destruir os pensamentos negativos já existentes; enérgica vontade de impedir o aparecimento de pensamentos maus e nocivos; fazer surgir pensamentos bons e sadios ainda não existentes e cultivá-los até à perfeição.

5.°) PLENA ATENÇÃO CORRETA, ou Vigilância Correta, consiste numa atenção vigilante com tomada de consciência nas atividades do corpo, nas sensações, nos diferentes estados da mente (nas idéias, pensamentos, etc.), e na investigação da Doutrina (Verdade sobre o nosso ser). A Plena Atenção mental correta é a vigia da mente, que está sempre observando, porque a mente, por si só, vagueia a todo instante.

6.°) CONCENTRAÇÃO CORRETA é a condição indispensável para todo e qualquer desenvolvimento espiritual. Nossa mente está constantemente dispersa; quando concentrada num objetivo único, ela se torna poderosa e com isso desenvolve a sabedoria interior. Desenvolver a concentração requer que você abra mão do desejo passional e egoísta pelos prazeres sensual e material. Que cultive a alegria, a tranquilidade e o amor. Que se mantenha ativo, disposto, relaxado e despreocupado, certo do seu objetivo de vida.

A “Introspecção: Sabedoria” consta dos dois fatores restantes: o Pensamento Correto e a Correta Compreensão.

7.°) PENSAMENTO CORRETO, ou pensamento puro, é o correto pensar com sabedoria, com equanimidade e contemplação. Ele vem das ações meritórias e deve ser mantido em nossa mente o máximo de tempo possível. É o pensamento dirigido no sentido da renúncia, do desapego, da compaixão, do amor universal, da não-violência, estendendo-se a todos os seres vivos. Desenvolvendo estas qualidades, eliminamos todo pensamento egoísta de apego, má vontade, ódio, violência ou crueldade, seja de ordem individual, social ou política, que é fruto da ignorância. O pensamento correto não aparece quando existem pensamentos ligados aos apegos dos sentidos.

8.°) CORRETA COMPREENSÃO é a compreensão que, pela contemplação pura, permite reconhecer e penetrar na realidade da existência da insatisfação universal, criada pela desarmonia entre os seres e o mundo exterior. A compreensão verdadeiramente profunda consiste em ver uma coisa em sua verdadeira natureza, sem nome ou rótulo. Esta "penetração" só é possível quando a mente está livre de toda impureza e quando completamente desenvolvida na prática da meditação.

Como se viu, aqui foi apresentado um modo de vida que pode ser seguido, praticado e desenvolvido por qualquer indivíduo, através da disciplina do corpo, da palavra e da mente. Isto nada tem a ver com crenças, orações, adorações, ou cerimônias. Neste sentido, o Caminho do Meio não é uma religião; é um caminho que conduz à compreensão da realidade, à liberdade, à felicidade e à paz, mediante a perfeição moral, intelectual e espiritual.

Durante quarenta e cinco anos o Buda repetiu: "O meu ensinamento é sobre o sofrimento e sua transformação".

A semente do sofrimento dentro de você pode ser muito forte, mas não espere o sofrimento terminar para permitir-se ser feliz. Somos resultado daquilo que pensamos, por isso é perigoso manter pensamentos negativos. Nossas atitudes positivas quase sempre são seguidas por outras negativas: após o “sim”, nossa mente expressa o “mas”, duvidando de nossa capacidade de realização.

Seguindo o Caminho do Meio, adquirimos confiança e poder, tomando decisões equilibradas e firmes. A decisão firme elimina a negatividade automaticamente e transforma a escuridão em luz. Por isso, escutar os ensinamentos de um Mestre é tão precioso, porque expressa nossa decisão de aprender e de querer mudar.

Concluímos aqui mais uma etapa de nossa "Busca da Felicidade", compreendendo o aspecto impermanente de todas as coisas, a causa do sofrimento e o modo de extinguí-lo. Para finalizar nossa busca, citaremos uma frase de Buda que poderia resumir aquilo que aprendemos:

- Os dons são grandes; as meditações e exercícios religiosos pacificam a mente; a compreensão da grande verdade leva ao Nirvana; mas, maior que tudo é a gentileza amorosa.

Com certeza nos enriquecemos com os valiosos ensinamentos de Gautama Buda e estamos prontos para continuar nossa busca através dos ensinamentos de outro Grande Mestre: Jesus. Será nossa próxima postagem.

Os conceitos budistas aqui expressados foram extraídos de:

- SILVA, Georges da & HOMENKO, Rita. Budismo: Psicologia do Autoconhecimento. São Paulo: Ed. Pensamento, 1990.

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