Blog do Professor Márcio

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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Minas - meu estado de espírito

Sou mineiro das montanhas, do frango com quiabo, do angu grudento, do jiló amargoso, do chouriço, da banha de porco, da broa de milho, da maria-fumaça, da ladainha rezada à luz da lamparina, do fumo de rolo, do moinho de fubá, das cantigas de roda, do trem bão, do burro na sombra, do cigarro de palha, do dedo de prosa, do Deus-te-abençoe.

Dito isto, você já sabe de que Minas eu sou. Se você não vê a diferença é porque não conhece este enorme e diversificado Estado, e não entende porque Carlos Drummond de Andrade dizia que Minas são muitas.

Nossas terras foram tomadas dos índios pelos bandeirantes paulistas e o nosso ouro, a caminho de Portugal, descia pela estrada real até Parati. Depois os portugueses expulsaram os paulistas das minas, na Guerra dos Emboabas, e passaram a levar o ouro por uma picada aberta das minas até o Rio de Janeiro.

Naquela época, todo o norte do nosso estado, da divisa da Bahia até perto de Matozinhos, pertencia à Província de Pernambuco. Os paulistas conquistaram Minas para nós, abriram caminho para o ouro de Paracatu e foram até Goiás, ocupando as terras planas das Gerais e espalhando gado no cerrado. O gado das Gerais foi crescendo de importância no abastecimento das minas, fazendo assim surgir a Província das Minas e das Gerais.

O distrito das Minas era controlado ferreamente pelos portugueses, que também isolaram o distrito Diamantífero (Diamantina) de onde só se entrava e saía com autorização da administração portuguesa. Esses isolamentos – as fazendas de gado das Gerais, o distrito das Minas, o distrito Diamantífero, o sul de Minas voltado para São Paulo, o perigoso vale do Rio Doce habitado por índios ferozes, o norte de Minas administrado pelos pernambucanos – acabaram gerando culturas bastante distintas, jeitos diferentes de ser mineiro. Por isto, a norte temos o “baianeiro”, a oeste o "goianeiro", a sul o "paulineiro" e a leste o mineiro que imita o carioca (Xis de Fora).

Então, há que se perguntar: - Quem, então, é o verdadeiro mineiro? Ora, todos nós, porque, no dizer de Fernando Sabino, esse Estado de nariz imenso é sobretudo um estado de espírito. Se você acha que é mineiro, você é mineiro, uai!

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