O Caminho do Meio é a via proposta por Gautama Sidarta – O Buda (Séc. VI a.C.) para a superação do sofrimento e o encontro da paz. Também conhecido como Caminho da Correta Compreensão, é uma filosofia que pertence a todos que procuram o autoconhecimento, sendo por isso adaptável a qualquer pessoa, em qualquer época.
Com o passar do tempo, a filosofia budista adotou um rótulo religioso, com a inclusão de rituais e formas externas de práticas; porém, a doutrina do Buda não determina uma crença ou credo, mas um “venha e veja”.
Então, se o Budismo apresenta resposta aos que procuram o sentido da vida, a resposta aos vários problemas psicológicos, sociais, espirituais ou místicos, certamente poderemos encontrá-la em nossa busca: - Qual o caminho para a felicidade?
A essência do Budismo está sintetizada nas Quatro Nobres Verdades, desvendadas por Gautama Buda através do seu próprio conhecimento intuitivo.
A Primeira Nobre Verdade é a da Existência do Sofrimento e da Insatisfatoriedade, devido à desarmonia entre o eu pessoal condicionado e o mundo real não-condicionado.
Vemos que no Universo tudo é efêmero, transitório, mutável, perecível. Tudo é impermanente e se transforma sem cessar. A impermanência é a lei geral. Realidade, pois, no sentido budista, é impermanência. Nada é; tudo é um eterno vir-a-ser. Se a essência de uma coisa é a sua própria mudança, tal coisa não tem realidade em si, e considerá-la como real, com existência própria e determinada, é pura ilusão de nossa mente condicionada.
Considerando o corpo o elemento mais estável do indivíduo, percebe-se que a instabilidade, do ponto de vista dos desejos, emoções, sentimentos e pensamentos, é ainda maior que a do mundo fenomênico. O intercâmbio com o meio é também tão intenso que, a rigor, não tem fundamento falar em “meu pensamento”, por exemplo, de tal forma estamos submetidos às influências do meio social, da cultura geral e de todo o passado. Refletimos apenas o que já foi pensado e dito há séculos e séculos.
Os processos (fenômenos) que ocorrem no mundo real mostram que todas as manifestações da natureza estão sujeitas à Lei de Causa e Efeito, a qual determina que nada ocorre por acaso, mas sempre em conseqüência e obediência a esta Lei. Gautama Buda disse: “Estando isto presente, isso acontece. Do aparecimento disto, isto surge; estando isto ausente, isso não aparece. Da cessação disto, isso cessa.”
Existe, portanto, uma interdependência entre todas as coisas, pois tudo o que existe é efeito de uma causa anterior e, por sua vez, causa de um efeito posterior. Da mesma forma, o passado está contido todo inteiro no presente, condicionando-o, assim como o presente resume o passado e contém, em potencial, todo o futuro.
Perdendo de vista a impermanência das coisas, tomamos como real a multiplicidade, damos realidade à pluralidade e acabamos por nos considerar a nós mesmos como identidades ou realidades separadas, autônomas e independentes num mundo hostil, indiferente, perigoso e quase inimigo. É a perversão do entendimento que o budismo chama ilusão. Suas conseqüências em nossa vida é que dão origem ao sofrimento da existência. O sofrimento é uno com o transitório.
Desejar o que é efêmero, mutável, perecível só produzirá dor, desenganos e medo, decorrências dessa concepção ignorante do mundo que faz com que nos sintamos frustrados, separados e isolados do Todo.
Impermanência, interdependência, ilusão e dor estão intimamente entrelaçadas. Formam um dos pilares fundamentais do pensamento budista sobre o mundo fenomênico.
Quando diz que existe o sofrimento, Gautama Buda não nega a felicidade existente na vida, pelo contrário, admite diversas formas de felicidade, tanto materiais como espirituais, tanto para leigos como para religiosos, tais como: a felicidade na vida familiar, na vida solitária, a felicidade dos prazeres dos sentidos, a felicidade da renúncia, do apego, do desapego, a felicidade física, a felicidade mental etc. Mas não se pode perder de vista que tudo isto é impermanente, mesmo os mais puros estados espirituais de absorção mental.
Portanto, três coisas deverão ser bem compreendidas: o desejo de prazeres dos sentidos; as más conseqüências, o perigo e a insatisfação; a libertação dos prazeres dos sentidos.
Por exemplo: uma pessoa consegue algo que lhe dá prazer, orgulho e satisfação (aspecto bom, ligado ao desejo). Mas esta situação não é permanente. Mudando esta situação, por qualquer circunstância, sobrevirá o ressentimento; esta pessoa poderá comportar-se insensatamente, tornar-se desarrazoada, desequilibrada e agir imprudentemente. Este é o aspecto ruim, insatisfatório e perigoso. Porém, se ela observar as coisas como são, na sua real perspectiva, poderá se desapegar de sua posição e não sofrerá mais (libertação, ligada à correta compreensão).
Compreendendo-se o que foi dito acima, é evidente que esta interpretação não é de pessimismo, nem de otimismo. Deve-se levar em conta tanto os prazeres e facilidades, quanto as dores e dificuldades, do mesmo modo que a possibilidade de liberta-se deles, a fim de ver a vida de modo objetivo.
Portanto, em nossa “A Busca da Felicidade”, Gautama Buda nos ensina que no mundo real nada é permanente e nos adverte que a felicidade que estamos buscando é impermanente: se temos uma sensação agradável ou uma condição de vida feliz, uma mudança surgirá, mais cedo ou mais tarde, e então haverá insatisfatoriedade ou sofrimento.
Isto nos leva a concluir esta parte com uma pergunta: - Qual a causa ou origem do sofrimento? É o que veremos a seguir, ao estudar a Segunda Nobre Verdade do Budismo.
Texto baseado na obra de:
- SILVA, Georges da & HOMENKO, Rita. Budismo: Psicologia do Autoconhecimento. São Paulo: Ed. Pensamento, 1990.
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