Márcio José dos Santos
Meditação acerca da Paz, realizada no período 7/9 a 6/10/2005
Considerações
A paz de que iremos falar aqui pode ser definida como um estado de completo bem estar, caracterizado por ausência de conflitos – sejam íntimos ou entre pessoas –, bom entendimento, tranqüilidade de alma, sossego, harmonia. Implica, pois, que o indivíduo não apenas esteja bem consigo mesmo, mas também com os outros, gerando assim uma relação harmoniosa.
O ser humano vive em um ambiente social altamente conflituoso em que a luta pela vida ganha contornos às vezes dramáticos, sujeitando todos a grandes pressões e opondo uns aos outros. Nesse ambiente, a conquista da paz nos parece sonho irrealizável, reservada apenas a espíritos angelicais.
Mas a mensagem evangélica nos apresenta a paz de maneira simples, passível de ser obtida pelos seguidores do Caminho. Para obtê-la basta seguir o Caminho, isto é, cumprir a lei de amor e caridade.
A Paz de Jesus
“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.
Não vo-la dou como o mundo a dá.
Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!”
(João, 14:27)
Qual a diferença entre o conceito de paz do mundo e aquele trazido por Jesus? Basta ver que, na história da humanidade, a paz sempre foi obtida pela subjugação de um lado pelo outro; a paz do vencedor é a aflição do vencido, resultado de guerras, massacres, humilhações; sua duração corresponde ao interregno até à nova guerra de revanche.
A paz de Jesus, alicerçada no amor e na caridade, se conquista pela renúncia a toda predisposição de beligerância, seja no campo material, moral ou espiritual. Tem, pois, duas dimensões: interna – estar bem consigo mesmo – e externa – estar bem com o outro, embora se expresse sempre como um estado interno do indivíduo.
Uma atitude pacífica tem de ser ativa para que as duas dimensões se realizem. Isto é, a paz deve ser levada a todas as pessoas e ambientes que carecem dela, e isto exige participação e compromisso de quem a constrói. Pelo contrário, uma atitude passiva, a do egoísta que só a deseja para si mesmo, não serve aos propósitos da paz.
Nesse processo, compreender e aceitar as pessoas, ao nível do desenvolvimento em que cada um se encontra, é de fundamental importância. Ao compreender e aceitar abre-se a possibilidade de também ser compreendido e aceito, estabelecendo uma relação em que a harmonia interna alcança e envolve o outro.
Posso afirmar que, quando estou em paz, minhas atitudes são firmes, meus pensamentos equilibrados, e isto me defende das perturbações do outro. Sem dúvida, a humildade e a prática do perdão são as expressões mais sublimes de que posso me revestir. Minha paz se exterioriza como uma serena confiança, nas minhas atitudes, gestos, palavras, tom de voz, expressões dos olhos e semblante. Assim, se estou em paz, posso contagiar as pessoas que estão comigo. Se persistir na construção da paz, mais me aprofundo nela e ela em mim se expande, e essa intensidade não tem limite.
Alegria, generosidade e serenidade são os primeiros sintomas da Paz de Jesus que se instala no coração do homem, porque desaparecem a perturbação e o medo.
A desconfiança e a insegurança geram o medo, levando a atitudes defensivas ou agressivas. Pode-se constatar nas perturbações em que os indivíduos e a sociedade se envolvem que o medo é responsável por grande parte das agressões e violências de toda ordem.
A vida, sucessão de momentos, impõe-nos a condição de eternas e contínuas mudanças. Sendo assim, a paz não é um estado permanente, inalterável; precisa ser construída continuamente. A responsabilidade pela construção da paz é individual – eu construo a minha paz, resultado das escolhas que faço.
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