Fui procurado pelo jornalista Leonêncio e, pela internet, passei as informações que me pediu e alguns documentos. Entretanto, não fui procurado antes da publicação da matéria, quando o jornalista poderia ter confrontado algumas informações que lhe foram passadas pela mineradora Kinross. Assim, ao reproduzir os argumentos da mineradora sem o necessário confronto com documentos ou depoimentos que lhe sejam contrários, o jornalismo perde força como fonte responsável e independente de informação.
Para acessar a matéria, clique AQUI.
Continue lendo, se quiser saber minhas restrições à matéria do Estadão.
Ao ler a matéria que aqui veiculamos através do link, você verá que o meu nome foi citado erroneamente como José Márcio Santos.
Um artigo jornalístico baseado em depoimentos deve explorar mais a fundo as afirmações dos depoentes, confrontá-las e tirar conclusões a partir de provas ou, quando a prova não é possível, apresentar as versões que se contradizem.
O jornalista pecou ao reproduzir afirmações não verdadeiras de um funcionário da Kinross. Observe este trecho da matéria: "Ele relata que uma parte do efluente industrial da mina, o resíduo não perigoso, é jogado nas barragens e o arsênio vai para tanques específicos e selados, com proteção de argila, que funciona como barreira química, monitorados 24 horas. A empresa ainda reutiliza a água, evitando que seja jogado nos rios e córregos. “Estudos indicam que a exposição de arsênio em Paracatu é muito baixa. Você não encontra arsênio na água consumida na cidade”, afirma. “As concentrações (de arsênio) encontradas estavam abaixo dos padrões ou de outras cidades do mundo.”
Estas informações são completamente inverídicas. Talvez o funcionário da Kinross tenha dito ao jornalista que o cianeto é lançado em tanque específico. Se realmente disse arsênio, ele passou uma informação mentirosa. Anualmente são produzidos cerca de 65 mil toneladas de arsêrnio naquela mina, equivalente a 1,15% do rejeito, e ele é lançado nas barragens de rejeito. Mesmo admitindo-se que a mineradora tivesse preocupação ambiental suficiente para estocar tal quantidade de arsênio, ela teria que recuperar 100% desse produto tóxico no processo de beneficiamento e não haveria lugar suficiente para armazená-lo. Só na barragem antiga, a Barragem do Santo Antônio, existem cerca de 550 mil toneladas de arsênio. Como uma afirmação deste tipo é feita para descaracterizar qualquer acusação de que a mineradora está lançando veneno no meio ambiente, o jornalista deveria ter confrontado a informação, para não iludir o leitor, que não tem condições de avaliar por si mesmo quem está falando a verdade.
Outra afirmação do entrevistado, funcionário da Kinross, é o que chamamos meia-verdade: "Você não encontra arsênio na água consumida na cidade". Pois bem, 80% da água consumida na cidade vem do Ribeirão Santa Rita, muito distante da área da mineração de ouro; os outros 20% vêm de poços tubulares dentro da zona urbana de Paracatu, sendo que em um deles - o poço do bairro Santana -, apresenta teor de ársênio próximo ao limite legal. O argumento do entrevistado é verdadeiro, feito para falsear o fato de que a mina lança arsênio no meio ambiente.
Atualmente, há um neologismo que define bem a produção da verdade com o objetivo de manipular a opinião pública: "pós-verdade". Esta palavra foi eleita palavra do ano pelo dicionário Oxford, porque define bem os dias atuais, onde os fatos importam menos do que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar; isto é, a verdade foi substituída pela opinião. Ao invés de procurar a verdade é mais fácil reproduzir opiniões, não é mesmo?
Um comentário:
Professor Márcio, muito me apraz fazer aqui um comentário acerca da matéria.
De fato, há que se pensar em ater-nos (leitores) no que diz respeito a verdades que têm que ser ditas, sobretudo por um veículo de comunicação de massa, como é o caso.
Outrossim, no caso deste caso, ainda bem que V.sa nos agracia com suas verdades incontestes, na medida em que adentra com maior propriedade em defesa da indefesa população paracatuense, quê, está a mercê daqueles que em busca de riqueza a todo custo – “não estão nem aí pra população” nos dizeres populares.
Maa... Deixe estar jacaré que um dia a lagoa há de secar e aí, eu te pego!
É outro dizer popular! ...
Abraços, Botari
Postar um comentário