Embrapa divulga estudo sobre contaminação por agrotóxicos no Brasil
O panorama
da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no
Brasil, entre 1992 a 2011, foi analisado pelos pesquisadores da Embrapa Meio
Ambiente (SP) Marco Gomes e Robson Barizon. A pesquisa está disponibilizado
para download. Clique em AGROTÓXICOS.
Segundo os
autores, "o objetivo foi obter um diagnóstico mais próximo da realidade
sobre a presença e contaminação do solo e da água para que sirva de alerta, e
principalmente, de apoio às iniciativas direcionadas ao controle e uso racional
dessas substâncias. A publicação também apresenta relatos de várias ocorrências
nas cinco regiões brasileiras, com ênfase para as áreas rurais, em um cenário
que, se ainda não é alarmante, remete à necessidade de reflexão e de tomada de
atitude no sentido de evitar que se torne crítico".
Região
Sudeste
Os estados
de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os que mais apresentam
casos de ocorrência de organoclorados, embora proibidos há alguns anos no
Brasil. No caso do estado de São Paulo, estudos em sedimentos de 11 córregos da
região central identificaram a presença de 16 organoclorados.
Em relação
ao estado de Minas Gerais, um estudo na cidade de Viçosa revelou a presença dos
organoclorados BHC e DDT em sedimentos do Ribeirão São Bartolomeu, além da
presença de Heptacloro epóxido, Endrin e DDT.
Estudo
realizado no Parque Estadual Terras Alto Ribeira (Petar) localizado no Vale do
Ribeira, analisou amostras de água, sedimento e peixe no período das chuvas em
janeiro de 2000 e seus resultados indicaram que a fauna do Petar está exposta a
diferentes agrotóxicos que se encontram dissolvidos na água ou presentes no
sedimento, sendo que dos 20 detectados, sete foram considerados altamente
tóxicos para peixes e outros organismos aquáticos.
No estado
do Rio de Janeiro as atividades agrícolas estão concentradas na região serrana,
com a presença constante de situações de risco de contaminação ambiental por agrotóxicos.
Outro estudo detectou concentrações de agrotóxicos anticolinesterásicos em
valores até oito vezes acima do limite permitido pela legislação brasileira em
dois pontos de um importante curso hídrico regional.
Quando se
trata de aquíferos menos profundos, a exemplo do Bauru, que é do tipo livre,
onde a recarga é direta, os riscos de contaminação são elevados.
Região Sul
No estado
do Rio Grande do Sul, estudos mostram a presença de glifosato em lavouras de
arroz irrigado com água da Lagoa Mirim em concentrações acima do valor máximo
permitido pela Agência de Proteção Ambiental Americana (USEPA). Outras regiões
orizícolas também apresentam resíduos de agrotóxicos em seus mananciais e em
todas verifica-se a presença de ao menos um agrotóxico ocorrente em águas
subterrâneas. Nas regiões da Planície Costeira Interna à Laguna dos Patos e
Santa Catarina pode-se averiguar que a totalidade das amostras monitoradas
continha a presença de ao menos um agrotóxico; as regiões da Fronteira Oeste,
Depressão Central e Planície Costeira Externa à Laguna dos Patos apresentaram
89% das amostras contaminadas e as regiões da Campanha e Sul do Rio Grande do
Sul apresentaram 78 e 63%, respectivamente, das amostras contaminadas com, ao
menos, um agrotóxico.
Regiões
Norte e Nordeste
Na região
amazônica, o comprometimento da qualidade da água, de uma forma global, está
diretamente relacionado à possibilidade do avanço da agricultura com uso mais
intensivo de agroquímicos, principalmente na cultura da soja.
Na região
norte os riscos de contaminação da água subterrânea concentram-se,
principalmente, na porção nordeste do Pará, onde a monocultura de soja avança
sobre todos os tipos de solos. Este cenário coloca o Aquífero Itapecuru
(livre), em situação de alerta, uma vez que as condições atuais de ocupação e
manejo do solo indicam possíveis interferências. Ainda no estado do Pará,
existe um cenário preocupante na região de Igarapé-Açu, especificamente na
Bacia Hidrográfica do Igarapé Cumaru, onde se utiliza uma carga expressiva de agrotóxicos
sem controle, vários deles com alto potencial de lixiviação e de transformação
em compostos mais tóxicos do que as moléculas originais. Trabalhos na região de
Igarapé-Açu, por exemplo, indicaram que o inseticida/acaricida dimetoato pode
chegar ao lençol freático e comprometer a qualidade de água do aquífero
freático do Grupo Barreiras.
Na região
nordeste o cenário torna-se ainda mais crítico, principalmente devido aos
sistemas de produção de frutas para exportação que engloba toda a região do Vale
do Submédio Rio São Francisco. Outra região que merece atenção é a de
ocorrência dos aquíferos Serra Grande (predominantemente confinado) e
Poti-Piauí (livre). Na Bahia, o cenário mais crítico está relacionado ao
Aquífero Urucuia, região oeste do Estado.
Região
Centro-Oeste
Com
relação às águas subterrâneas foram consideradas três áreas. A primeira delas
refere-se às porções de recarga do Aquífero Guarani nas Nascentes do Araguaia.
A segunda, localizada no estado do Mato Grosso, apresentou uma redução entre 40
e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos
virgens, devido ao uso e manejo do solo ao longo de 12 anos nas nascentes do
rio Paraguai (Alto Pantanal). Ao mesmo tempo, tais áreas foram submetidas a
cultivos intensivos com exigências, tanto de adubos e fertilizantes, quanto de
agrotóxicos. Além disso, esta região também apresenta risco às águas
superficiais. Diferentes ingredientes ativos têm sido detectados em amostras da
região nordeste da bacia.
A terceira
região localiza-se na porção leste do estado de Mato Grosso, onde verificou-se
o potencial de contaminação de águas superficiais e subterrâneas em uma
área agrícola em Primavera do Leste. Estudos desenvolvidos em áreas sob cultivo
intensivo de algodão, milho e soja indicaram a presença de alguns herbicidas na
água subterrânea, normalmente usada para consumo humano.
"Assim,
explicam os autores, verifica-se que resíduos de agrotóxicos e de nitratos são
frequentemente detectados nesses escassos monitoramentos. Na maior parte dos
casos relatados, as concentrações encontradas, seja no solo, água ou em
organismos, normalmente estiveram abaixo dos valores críticos estabelecidos por
agências ambientais da Europa e Estados Unidos. Entretanto, os resultados devem
ser analisados com cautela, pois como já enfatizado, as informações disponíveis
não permitem estabelecer um panorama assertivo a respeito da contaminação do
solo e da água por agroquímicos.
Avanços
Avanços
importantes no cenário regulatório ocorreram nesses 20 anos pós Rio+, com
destaque para a publicação da Lei 9.974, de 2000, que estabeleceu diretrizes
para o recolhimento das embalagens vazias de agrotóxicos e a promulgação do
Decreto 4.074, de 2002, que regulamenta a Lei 7.802/89, importante documento
jurídico que abordou temas relevantes relacionados à saúde humana e à proteção
ambiental, com destaque para a criação do Sistema de Informação sobre
Agrotóxicos (SIA), introdução dos produtos equivalentes, proibição de produtos
sem antídotos, criação do Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos
(CTA), além do estabelecimento da exigência legal visando a implementação da
avaliação de risco destes compostos, tanto para a saúde humana quanto para o
meio ambiente.
A
avaliação do risco ambiental, utilizando modelos matemáticos, é de extrema
importância, pois permite a avaliação de um conjunto de cenários que não seria
possível por meio exclusivamente de monitoramentos.
Fonte:
Portal Brasil - EMBRAPA | 24/06/14 - 15:52
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