By Meghan Pearson abr 23 2014
Os territórios do noroeste do Canadá são, em geral, desconsiderados pelas pessoas e tomados como uma grande tundra gélida no meio do nada. Mas agora é uma boa hora para começar a prestar atenção na situação lá em cima. Atualmente, Yellowknife está em cima de 237 mil toneladas de arsênio – o suficiente para matar toda a população humana de nosso planeta algumas vezes.
A maior parte desse cancerígeno altamente solúvel em água está em câmaras subterrâneas especiais, debaixo de uma antiga mina de ouro esgotada chamada Giant Mine, nos arredores da cidade. O arsênico é um subproduto de operações de mineração que começaram no final dos anos 1940, pouco depois da descoberta de ouro no norte. A mineração continuou até 2004, quando a companhia devolveu a mina esgotada para o governo federal, juntamente com um monte de pó de trióxido de arsênio como um belo presente de “obrigado por tudo e se fode aí”.
Por anos, a produção de arsênio da mina local (cerca de 10 mil quilos por dia) não foi regulamentada até que, em 1951, uma criança da Primeira Nação Dene Yellowknives morreu depois de comer neve envenenada na área. Ficou claro que o governo precisava fazer alguma coisa. Mas em vez de fechar as operações, eles acharam que o melhor a fazer era coletar a grande quantidade da poeira venenosa em câmaras subterrâneas, torcendo para a fada do trióxido de arsênio aparecer e levar tudo embora. Eles deram $750 para a família da criança e decidiram esperar.
No entanto, com as estruturas se desintegrando e a preocupação cada vez maior com um vazamento no suprimento local de água, chegou a hora de fazer alguma coisa. Agora que o governo canadense está mais velho e sábio, ele decidiu finalmente achar uma solução razoável para esse probleminha venenoso: eles vão congelar as 237 mil toneladas de trióxido de arsênio no subsolo – por toda a eternidade.
“Como podemos garantir que os sistemas humanos vão continuar a manter algo que requer engenharia sofisticada e monitoramento para funcionar para sempre? É loucura”, argumenta Kevin O'Reilly, ativista da Northern Alternatives. “Não lembramos como as piramides foram construídas cinco mil anos atrás. Como vamos saber se daqui a cinco mil anos ainda existirão pessoas neste planeta que saberão como manter essa coisa congelada? Isso é muito irresponsável.”
O governo esperava originalmente que o frio local se encarregasse de congelar o arsênio naturalmente, apesar dos avisos dos engenheiros, já nos anos 1950, de que esse não seria o caso. Depois de décadas de espera infrutífera, o plano do governo agora é alcançar isso imitando a maneira como rinques de patinação são mantidos congelados. Ou seja: se eles injetarem continuamente líquido refrigerante no solo, o arsênio, teoricamente, continuará congelado.
O congelamento deve custar pelo menos $1 bilhão inicialmente, depois mais $2 milhões por ano.
“Acho que eles deviam trazer tudo para cima, processá-lo em uma forma menos tóxica de arsênio e colocá-lo no fundo da mina”, disse Kevin. Mas essa solução é vista como cara demais para ser implementada.
O plano de congelar o arsênio encontrou a oposição uniforme de todos os grupos envolvidos com a Giant Mine no início. O Mackenzie Valley Review Board, um tribunal independente que visa proporcionar uma maior participação aos povos aborígenes locais, propôs então um acordo ambiental, que deve ser aprovado pelo ministro de Ottawa em breve. O acordo especifica inúmeras emendas, estabelecendo principalmente que o “para sempre” seja reduzido para apenas 100 anos, além de mais financiamento para pesquisas que encontrem uma solução mais sustentável para a mina.
“O projeto deixou de ter uma oposição uniforme e passou a ter o apoio de muitos grupos”, disse Alan Ehrilich, membro do Mackenzie Valley Review Board.
A cidade de Yellowknife, além da Primeira Nação Dene local, aprovou, de forma unânime, uma moção para aceitar as emendas do tribunal Mackenzie Valley, já que isso traz um pouco mais de esperança no futuro da área. E isso é ainda mais importante quando você coloca a decisão no contexto de quanto a Giant Mine tem afetado as terras do povo Dene, sob as quais a mina se localiza.
O descuido com que a mina foi operada nos primeiros anos de produção teve repercussões profundas no povo Dene. Sem nenhum controle de poluição, os problemas causados foram se amontoando. No final da vida da mina, em 2004, cerca de 27 quilos de arsênio eram jogados no ar todos os dias. O resultado final foi a contaminação completa das terras Dene.
“Eles sempre dizem que sua terra foi destruída”, disse Kevin. “A área de Baker Creek era famosa pela pesca e pelos frutos silvestres. Hoje, é quase impossível achar uma amora em Yellowknife. Elas foram incineradas pelas emissões de dióxido de enxofre da mina.”
“Eles costumavam cultivar a área da mina”, continuou Alan. “Também era uma das rotas de caça de caribou. Hoje, esse é um dos lugares mais contaminados do Canadá.”
Não é surpresa, então, que eles estejam preocupados em como essa limpeza vai afetá-los daqui para frente. Muitas construções contaminadas teriam que ser exumadas e destruídas numa tentativa de descontaminar a área. O solo teria que ser removido, o que poderia criar poeira tóxica. A população Dene teme como isso vai afetá-la física e culturalmente, além de suas práticas culturais chaves, que têm laços profundos com a terra.
“Acho fundamental a necessidade de uma desculpa pública e uma compensação à Primeira Nação Dene Yellowknives pelo que foi feito à terra deles”, disse Kevin. “Tem que haver o reconhecimento de que algo ruim aconteceu e que [o governo] fará o melhor possível para que isso nunca mais aconteça.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário