A língua portuguesa é considerada uma das mais ricas do planeta. Ainda mais, nesses tempos de Internet, os brasileiros acabam incorporando palavras do “informatiquês”, como ‘imeio’, ‘mause’, ‘deletar’ etc. Todas elas têm sentido, não há uma criança que não saiba seus significados.
Porém, nesta campanha eleitoral ora finda, surgiu um vocábulo que, embora apareça nos dicionários mais atualizados, está deixando confuso o brasileiro comum. Em todas as mídias, em todos os debates, acusações recíprocas e tentativas de explicação, o que mais se ouve e vê falar é o tal de FACTÓIDE. Preste atenção nas entrevistas; quando alguém quer explicação de algo que está incomodando, lá vem a resposta do entrevistado: – Isto é um factóide!
O que é essa palavra que tem poder de resposta a tantas indagações? Zé Povão já está supondo tratar-se de um alienígena. Os cidadãos comuns, entre os quais me incluo, merecem saber, pois ficamos confusos justamente na hora em que precisamos fazer nossas escolhas.
Pus mãos à obra e fui pedir explicações. A cada um fiz a mesma pergunta: - O que é factóide?
Veja as respostas, caro leitor, e ajude-me entendê-las.
Ex-Candidato Roriz: - O dinheiro é da bezerra.
Candidata Dilma: - A Erenice é uma pessoa honesta, até que me provem o contrário!
Erenice: - Sinto-me atacada em minha honra pessoal e ultrajada pelas mentiras publicadas.
Candidato Serra: - Não conheço o Paulo Preto!
Paulo Preto: - Não se abandona um amigo ferido!
Mulher do Serra: - ...
Uma mineradora de Paracatu: - Arsênio? Onde? Vocês estão vendo?
Um “ambientalista” da mineradora: - Não estou vendo nada!
Rede Globo: - Não foi só uma bolinha de papel, olha lá a tirinha!
Paulo Maluf: - Sou o candidato mais ficha limpa do Brasil.
Entendeu? Não? Eu também não entendi. Você faz uma pergunta e a resposta vem sem pé nem cabeça.
Mas resolvi não ficar por aqui. Conheço muita gente em Paracatu e estou temeroso que alguém me pare na rua e pergunte sobre um factóide que está contaminando os ares da cidade.
Por isso, fui atrás de Tia Nega, não sei se você conhece. Primeiro, vou lhe garantir que é gente de confiança, não se comprometeu por dinheiro, vive sua pobreza na dignidade, mas tem o poder de desvendar mistérios. Ao ouvir minha pergunta sobre os factóides, Tia Nega teve um momento de concentração, um leve estremecimento, arregalou seus olhos de vidente e me respondeu com uma voz que parecia vir de outro mundo: - É coisa ruim, meu filho, coisa ruim!
Você vai me dizer que a resposta de Tia Nega foi confusa, mas lhe garanto que me esclareceu tudo. Agora entendo porque esse pessoal fica engasgado, desconversa, negaceia, olha com ódio para o interlocutor e dispara: - É um factóide!
Também pudera: é coisa ruim, meu filho, é coisa ruim.
Marcadores: factoide; cronica; política; paracatu; eleição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário