Morro do
Nada
Adriles Ulhoa Filho
No começo Cruz das Minas; revelado Morro do Ouro; pois
guardava em suas entranhas o cobiçado tesouro.
Encheu burras, enfeitou altares no tempo da escravidão até
ser esgotado, exaurido... Sem servidão.
No abandono, descansa! Conserva a alcunha querida; dorme com
suas dores, com o sangue de muitas vidas.
Hibernou dois longos séculos, sem luxo, sem vaidade,
emoldurando o horizonte da pequena cidade.
Tornou-se um símbolo maior, orgulho... cartão postal: era
seu Pão de Açúcar, sua Serra do Curral.
Já tem flores, já tem vida, volta a alegria ao lugar; nas
águas que correm limpas nas pedras que formam altar!
Mas... chega o tal “progresso”. Chega a ganância matreira,
para acabar com o que resta do velho morro do Fróis.
É sacudido, acordado da letárgica situação. Adeus para a boa
vida, adeus para a solidão!
Chegam os homens! Vêm com máquinas, explosivos e ácidos
fortes (será que estão querendo levar o morro à morte?)
Riscam e cavam o solo, usam até sondas modernas. Só haverá um
vencedor no término desta baderna.
Fogem animais e pássaros. Fogem o arisco preá, o veado, a
raposa e o gato, e até o lobo guará.
Fogem os homens calados, surdos... sem decisão! Incapazes de
um gesto para deter a invasão.
Pecam por culpa ou omissão. Pecam, mesmo sem saber. Preferem
ali construído mais um parque de lazer.
Não têm remédio nem pena, nada vai mesmo sobrar. Arrancam e
estouram lajes, as pedras vão ser trituradas.
Morro do Ouro? “Buraco Fundo de Alguns Trocados” |
Que vai restar nestas plagas na grandiosa explosão? Qual
Fènix renascerá das cinzas deste vulcão?
Barragens e tanques se formam. Constroem-se enormes
represas. Tudo, só para conter resíduos da malvadeza.
Destroem-se grotas e grutas, derrubam casas e pontes, para
guardar o que restou do outrora opulento monte.
A culpa, por certo, é dele, o Supremo Criador, que exagerou
com a dose de ouro que o enfeitou.
O nome será mudado. Por certo será buraco: “Buraco Fundo de
Alguns Trocados”.
Restarão, por fim, migalhas! Trocados, triste figura! Para
quem tinha um morro (de ouro) compondo sua moldura.
Pobre Morro da Tristeza. Morro das Almas Penadas!
Pobre Morro do Ouro!
Pobre do... Morro do Nada!
Rezem Por Mim!